Livro faz uma análise psicológica dos contos de fadas

A paixão pela fantasia começa desde cedo e os contos de fada fazem parte da infância do ser humano. No entanto, mais que distrair e desenvolver a criatividade, as histórias infantis ativam mecanismos inconscientes relacionados à vida familiar, ao desenvolvimento das identidades sexuais e ao amor.

Discutir o papel formativo dessas histórias no crescimento das crianças é a proposta do livro ?Fadas no Divã ? Psicanálise nas Histórias Infantis?, dos psicólogos gaúchos Diana e Mario Corso, que vêm a capital paranaense para lançar a obra e fazer uma palestra ao público. O evento acontece  na próxima segunda-feira (12/12), às 19h, na Livrarias Curitiba Megastore do Shopping Estação, com entrada franca.

O livro é envolvente e elucidativo, relacionando as mais importantes histórias infantis, antigas e modernas, com os conhecimentos psicanalíticos. O texto, apesar de possuir consistência técnica, apresenta o linguajar de uma obra de literatura e é destinado a profissionais da área e também ao público leigo que por razões de trabalho, paternidade ou simplesmente por curiosidade querem saber mais sobre o tema.

A primeira parte faz uma leitura psicológica dos principais contos de fadas ocidentais e busca elucidar tanto os mecanismos psicológicos que os mantiveram vivos, quanto os motivos pelos quais eles têm tanto êxito com as crianças. Na segunda parte, os autores abordam as histórias modernas como Peter Pan, Pinocchio, Ursinho Pooh, os personagens da Turma da Mônica, Harry Potter, Charlie Brown entre outros, para demonstrar como a modernidade forjou histórias infantis que nada devem aos velhos contos de fada. ?São histórias de fantasia que tem em comum o potencial de ajudar as crianças a passar pela infância e também auxiliar os adultos a lidarem com os resquícios infantis que levam consigo pela vida afora?, observam os autores.

?Fadas no Divã? pode ser lido de duas formas: aleatória ou sistemática. A primeira é plenamente possível, pois cada elemento é esclarecido no momento em que surge. Segundo Diana Corso, é a forma ideal para quem se interessa por literatura e quer saber mais sobre seus contos ou histórias preferidas. Já na sistemática, o leitor perceberá um tipo de roteiro do desenvolvimento infantil até a adolescência.

O Rei Sapo

A história sobre o Rei Sapo, o mais célebre conto de um noivo animal e da transformação do repulsivo em atraente, é um dos destaques da obra. No texto, um monarca enfeitiçado depende do afeto de uma princesa para voltar à forma original.

?Uma das mais clássicas cenas evocadas pelos contos de fada é justamente a da bela princesa beijando um repulsivo batráquio, permitindo-lhe o retorno da metamorfose?, observa Diana Corso. Segundo a autora, a possibilidade de um sapo virar príncipe é um bom argumento para o fato de que as aparências não devem ser impedimento para uma relação. ?Seguidamente as mulheres recorrem a essa história como metáfora, quando argumentam que vale a pena investir em determinado pretendente, apostando mais no que ele se tornará do que naquilo que é no presente?, esclarece.

Os psicólogos Diana e Mario Corso esclarecem que ao sermos fisgados pelo amor, temos como conseqüência a saída da casa dos pais para vivermos a relação, porém, isso nem sempre é pacífico. Por mais que os contos insistam que o amor é uma promessa capaz de recompensar pela infância e pela família perdidas, partir é mais fácil para os heróis que têm madrastas bruxas, pais fracos, egoístas ou que são mesquinhos movidos pela fome. Quando o lar convida a ficar, sair será uma operação dolorosa e brusca, que vai pressupor algum tipo de expulsão, comumente personificado por um casamento imposto contra os desejos da jovem.

Na história do Rei Sapo, o pai da princesa lhe impõe a companhia do ser viscoso em seu leito, submetendo-a a violência desse convívio. O gesto agressivo da jovem está à altura do caráter torturante da situação em que se viu envolvida, mas também é um gesto dramático de rompimento, de revolta contra a autoridade do pai e contra as exigências do sapo. A independência não pode ser construída de submissão, crescer é também perceber a limitação da força e do poder da autoridade parental.

Perfil

Diana Lichtenstein Corso é psicanalista, membro da APPOA (Associação Psicanalítica de Porto Alegre). Formada em psicologia pela UFRGS há duas décadas, trabalhou com crianças e no campo dos problemas de desenvolvimento infantil. Atualmente atende jovens e adultos em seu consultório particular.

Mário Corso é psicanalista, membro da APPOA (Associação Psicanalítica de Porto Alegre). Formado em psicologia pela UFRGS há duas décadas, atualmente atende adultos em clínica privada. Em 2002 lançou ?Monstruário – Inventário de Entidades Imaginárias e de Mitos Brasileiros? pela editora Tomo, numa tentativa de revitalizar figuras esquecidas do folclore nacional.

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