Livro destaca papel da mulher no teatro do século XX

Existe um matriarcado na cena teatral nacional? A resposta – ou um conjunto delas – a essa provocação rendeu o livro A Mulher e o Teatro Brasileiro do Século XX, editado pela Hucitec (414 págs., R$ 42), já nas livrarias. Organizado pelas professoras e pesquisadoras Ana Lúcia Vieira de Andrade e Ana Maria de B. Carvalho Edelweiss, o livro traz uma série de artigos cujo objetivo é o de investigar a contribuição para a imagem do feminino de artistas pioneiras do palco que atuaram em um tempo no qual o envolvimento com a atividade teatral podia ser considerado até, em alguns casos, “uma variante do exercício da prostituição”.

Cada capítulo foi escrito por um convidado e entre as mulheres analisadas estão desde atrizes que lutaram à frente de companhias teatrais – como Bibi Ferreira, Maria Della Costa e Cacilda Becker – até dramaturgas que fizeram do universo feminino tema de suas peças como Consuelo de Castro, Leilah Assumpção e Maria Adelaide Amaral. Há ainda perfis iluminadores como o de Júlia Lopes de Almeida (1862-1934), intelectual muito à frente de seu tempo, que participou de congressos feministas e fez da opressão à mulher tema de suas peças.

Em conjunto, os artigos desenham um gráfico de avanços e recuos na luta pelo desenvolvimento de teatro capitaneada por essas mulheres, em sua grande maioria munidas quase exclusivamente de paixão e intuição. As organizadoras não deixaram de fora mestras de toda uma geração de atrizes, como Dulcina de Morais e Maria Jacintha. Nem tampouco desprezaram, como costuma ocorrer, o teatro infantil, daí a presença da dramaturga Maria Clara Machado. Veteranas como Fernanda Montenegro, Tônia Carreiro e Marília Pêra estão entre os nomes selecionados, além da crítica teatral Bárbara Heliodora.

Claro que toda escolha pressupõe também exclusões, sempre questionáveis. Por que a ausência de Lélia Abramo, por exemplo, de reconhecida importância na luta pela regularização da profissão de atriz? E Nicette Bruno, e Miriam Mehler, e Miriam Muniz? A lista seria longa. Mas já no prefácio as organizadoras avisam: vem aí, em breve, o segundo volume. “E todos esses nomes estarão lá”, diz Ana Lucia, uma das organizadoras do livro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.