Homem fêmeo – Mulher macha ?

“Na gangorra do instante, o conflito permanente.”

Adélia Maria Woelner

É milenar o princípio filosófico do dualismo, vale dizer, a coexistência de duas posições contrárias, como a matéria e o espírito, o corpo e a alma, o princípio do bem e o princípio do mal, que se supõe em perpétua luta um contra o outro. Acrescente-se outro exemplo, tão explícito quanto antigo, que vem de tempos imemoriais, quando no paraíso terreal o Criador instituiu o dualismo sexual: o macho e a fêmea, o homem e a mulher.

Pois bem. Estudioso que sou dos fenômenos lingüísticos, não gosto de modismos e sou francamente avesso a inovações arbitrárias, em matéria de linguagem.

Vou direto ao assunto. Por que será que inventaram e tentam impor a forma “a poeta”? Seria um poeta fêmeo? Ter-se-ia originado de algum movimento feminista literário? Ora, o feminino de poeta é “poetisa” – qualquer aluno de primeiro grau sabe disso. Qualquer dicionário registra assim.

Fico imaginando se tal rebeldia não advém de suposta discriminação da mulher que faz versos, que se sentiria inferiorizada em relação ao homem, ao ser chamada de poetisa. Isso, sim, é um preconceito às avessas!

Não é possível a pretendida igualdade! Não é possível, nem mesmo conveniente, a unificação desse dualismo benfazejo. Faz-me lembrar a personagem daquela anedota que assinala pretensa rivalidade entre gaúchos e mineiros: “Então, no Rio Grande do Sul, só tem macho?! Pois lá em Minas existem machos e fêmeas. E é tão bom assim…”

Certa ocasião, tratando do assunto, escrevi: Consulesa soa tão nobremente, tão suavemente, em meus ouvidos! E, para mim, a palavra poetisa sibila com a doce sonoridade de uma flauta doce…

Convoco, neste instante, as poetisas (e por que não os poetas, também?) de nossa Academia, de nosso Estado, de nosso País, para encetarmos uma cruzada contra o preconceito e pela valorização da mulher que faz versos! P-o-e-t-i-s-a, sim senhor! E com muita honra! Poeta, só para macho.

Vejam só. Não seria ridículo pretender denominar a mulher de “a homem”? Se m-u-l-h-e-r se escreve diferente de h-o-m-e-m, daqui a pouco vão querer unificar também esse dualismo… Engraçado se se vier a adotar a preponderância do feminino, e a unificação for para “o mulher” (para designar o ser masculino: mulher macha) e “a mulher” (para designar o ser feminino: mulher fêmea)…

Outra invencionice: “a cônsul”! “A cônsul”, para mim, é geladeira! “Põe na cônsul…” Quem precisa dessa inovação arbitrária? Os dicionários registram que o feminino de cônsul é consulesa, seja ela detentora do cargo ou apenas mulher do cônsul. Como é a designação do marido da mulher que detém o cargo de consulesa? Não será cônsul, a menos que ocupe o cargo específico de cônsul.

Daqui a pouco, a rainha da Inglaterra (detentora do cargo) pode sentir-se diminuída com tal denominação e vai querer ser chamada de rei (a rei!). Já o “pobre” marido da rainha (detentora do cargo) não tem saída. Pode ostentar o título de duque ou outro qualquer, mas rei não será.

Não encontro a menor justificativa histórica, fonética ou morfológica, para essa revolução semântica deflagrada por uma minoria destoante.

Apenas a palavra embaixador tem duas formas para o feminino, ainda assim, com os protestos de Napoleão Mendes de Almeida: embaixadora para a ocupante do cargo e embaixatriz para a mulher do embaixador.

Que me perdoem os modernosos, mas não posso aceitar, impassível, tais modismos simplistas, que contrariam critérios etimológicos da língua!

Enfim, aos adeptos de um feminismo equivocado quero lembrar o pensamento de conhecida psicóloga ao afirmar que as mulheres ainda não se deram conta de que o feminismo não é uma batalha, mas um esforço conjunto para harmonizar a ação entre homens e mulheres…

Albino de Brito Freire

é da Academia Paranaense de Letras.

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