Hermano Penna roda Olho de Boi, numa fazenda em SP

Itu, SP (AE) – Nove anos sem produzir um longa-metragem e depois de 23 anos do lançamento de Sargento Getúlio, Hermano Penna montou um novo set. Ele acaba de rodar Olho de Boi numa fazenda em Itu, no interior de São Paulo, onde bebe na fonte de Guimarães Rosa para contar uma tragédia grega e familiar que se desenvolve no meio do mato.

?Olho de Boi? é um roteiro original de Marcos Cesana (que faz parte do elenco da montagem de Jô Soares para Ricardo III), e é o primeiro texto alheio que Penna filma. Mas na volta do experiente cineasta brasileiro à ativa, não é de espantar que as semelhanças entre esse novo universo e o mundo de Sargento Getúlio sejam tão claras. ?Como é o primeiro filme que faço a partir do roteiro de outra pessoa, achei num primeiro momento que ele fosse completamente distante de mim, da minha cultura e das minhas propostas?, explica. ?Mas surpreendentemente estou descobrindo, enquanto faço, que é muito próximo mesmo de Sargento Getúlio.?

Penna define Olho de Boi como uma ?aventura estética?, que ele abraçou quando leu o roteiro e ficou tentado a resolver aquela história em imagens. Modesto (Genésio de Barros) é um jagunço quase monolítico, que leva para a família o filho (Cirineu, vivido por Gustavo Machado) que teve uma prostituta, criando-o como um agregado. A partir da oposição entre as duas personalidades, um homem bruto e outro que usa a sensibilidade como uma forma de proteção, o enredo vai explorar o momento em que a tragédia abate os personagens.

?O roteiro me pegou pela qualidade extrema dos diálogos e o fato de ser uma tragédia quase em estilo grego?, justifica o diretor. ?É uma aventura estética e acho que caminha para ser um filme especialmente bonito e expressivo. Para mim é uma busca da minha capacidade de narrar cinematograficamente uma história. E é uma boa história.?

Foram três semanas de filmagens, com um orçamento apertado de R$ 1 milhão. Antes de começar a filmar, porém, o diretor levou seus atores para uma imersão na história, à moda antiga. É por isso que encontramos Genésio de Barros pitando um cigarrinho de palha entre uma cena e outra, já com jeito de sertanejo nato. ?O Hermano, o Gustavo e eu viemos para cá uns dez dias antes de começar as filmagens, andar a cavalo, fumar cigarro de palha e conviver com os moradores daqui?, conta. ?Discutimos o texto fala por fala e as situações do roteiro, que é muito difícil porque são só dois atores em cena quase o tempo todo (o elenco tem ainda Angelina Muniz e Kaká Amaral). O trabalho de ator em cinema mudou, talvez influenciado pela televisão, e as pessoas não vivenciam mais. O Hermano é um diretor que ainda mantém o espírito do cinema.?

Agora, terminadas as filmagens, Penna parte para a finalização e aquele R$ 1 milhão vai só até aí. Começa, então, a luta pelo lançamento, o maior xis da questão hoje em dia. Ainda assim, otimista, Penna mantém o sorriso. ?Há hoje uma consciência do que o cinema significa em termos culturais e econômicos para o País. Então, acho que a tendência é melhorar.?

A repórter viajou a convite da produção.

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