Gilberto Gil lança primeiro disco pós-ministério

De sandálias "alpercatas" (como dizem no Nordeste), e finalmente sem os ternos ministeriais, Gilberto Gil subiu ao palco do Directv Music Hall na noite de sexta-feira, 13 de agosto, para estrear um novo show. Havia alguma dúvida no ar: em meio a câmaras setoriais, agências audiovisuais e verbas residuais, como se sairia o ocupado ministro em um novo show?

Mas Eletracústico, espetáculo definido por Gil como "uma mistura bem contemporânea de instrumentos acústicos e elétricos", não só convenceu naquela noite e nas seguintes, em São Paulo e no Rio, como gerou um disco do ministro-cantor, lançado agora pela Warner Music. E também um DVD, lançado pela mesma Warner. O substrato do CD e do DVD são os três shows realizados no Canecão, nos dias 10, 11 e 12 de setembro.

Fundado em novos arranjos para velhos sucessos e sustentado pelo pandeiro eletrificado de Marcos Suzano, Gilberto Gil Eletracústico selecionou 14 daquelas 22 canções do bom show de Gil.

Curioso notar que, apesar das releituras que Gil faz de seu próprio repertório no CD e 19 canções do DVD, prevalece como carro-chefe de Eletracústico a velha canção Maracatu Atômico de Jorge Mautner, pontuada pelo diálogo entre dois tipos de percussão em andamentos diferentes, com fundamentos de repetição eletrônica e improviso humano.

Gil explicou também algumas escolhas (o show tinha 22 canções, o DVD tem 19, o disco só tem 14). "Preferi La Lune de Gorée, por exemplo, a Touche pas a Mon Pote, porque La Lune era uma opção mais curiosa, uma música menos conhecida, e eu a tinha cantado no show da ONU, ela se reacendeu naquele show", lembra. O DVD também traz alguns extras com imagens daquela apresentação, mas não sua apoteose – o momento em que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, tocou percussão com o ministro (isso exigiria uma negociação de direitos de imagem, que ele preferiu evitar).

Nota-se que o ministro-cantor, embora tenha retomado sua atividade criativa de artista após 2 anos de embate ministerial, sente-se cada vez mais à vontade no território da política, que aborda sem pedir compartimentação entre arte e política. Cita Antonio Negri e Michael Hardt, autores de Império, e sua tese de que as nações do mundo passam "de um sistema de soberanias para sistemas de governamentabilidade", e que a autoridade clássica dos soberanos está em xeque no mundo contemporâneo. Cita como exemplo a submissão dos países ao FMI, a instituições transnacionais, como a Organização Mundial do Comércio e o Conselho de Segurança da ONU. "Vai-se migrando da disciplina para o controle, com os bônus e os ônus de tudo isso", afirma. Sua posição, como ministro, é afirmar que o sistema internacional ainda não prescinde de uma aliança com o Estado tradicional, para reorganizar as forças. "Houve um momento em que o neoliberalismo defendia esse Estado mínimo, em oposição a um Estado forte. Mas agora pede-se que o Estado atue como uma secretaria executiva, mediando conflitos", pondera.

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