Falabella comenta sobre seu primeiro filme, “Polaróides Urbanas”

Nos últimos meses, Miguel Falabella, insone confesso, tem dormido menos ainda. Mas está feliz da vida. Ele acaba de rodar seu primeiro filme, por enquanto batizado de "Polaróides Urbanas", transposição para a telona de sua peça "Como Encher um Biquíni Selvagem", um monólogo com Cláudia Gimenez visto por 1 milhão de pessoas durante cinco anos. Cinema era um projeto antigo, mas demorou quase uma década para acontecer. Nesta versão, ele pouco mexeu no texto, mas cinco atrizes vivem as mulheres que Cláudia fazia sozinha e os cenários e figurinos, reduzidos no palco, ganharam realismo. A produção é de Paula Barreto, com orçamento de R$ 7,5 milhões, para ter grande lançamento em janeiro de 2007.

"’O Biquíni Selvagem’ já tinha uma estrutura cinematográfica. Difícil era conter aquela ação toda, as mudanças de cenário e personagens num palco. Então, transformá-lo em filme foi simples. Alguns personagem foram ampliados e amadureceram, enquanto outros que estão aqui eram apenas citados", adianta Miguel. Ele conta que traça um painel da vida carioca, mas os ângulos são inusitados. "Estou interessado num Rio insólito, que o carioca vai reconhecer de cara. As minhas personagens são como as mulheres das músicas de João Bosco e Aldir Blanc, ou como disse um crítico argentino, são como cachorros que mordem o próprio rabo. Nada se resolve na vida delas."

Magali e Magda, as gêmeas vividas por Marília Pêra, são um exemplo. Uma é perua total e a outra, dona de casa oprimida pelo marido (Otávio Augusto). Na semana passada, eles gravavam uma cena de suburbanismo explícito e Marília era o oposto das chiquérrimas Chanel e Dona Sarah Kubitschek, que fez no palco e na telinha recentemente, e da glamourosa Carmem Miranda, personagem do musical em cartaz no Rio. "Gosto de sair de uma personagem para outra. Fico com saudade quando acaba e, se volto como no caso de Carmem e Chanel, é como reencontrar uma grande amiga", conta a atriz. Ela explica que conheceu muitas Magalis e Magdas. "São personagens da minha história, que se passou entre a vida simples da zona norte carioca e o glamour do teatro, onde Dulcina reinava elegantíssima."

As outras personagens são vividas por Arlete Salles (uma diva de teatro com síndrome de pânico), Natália do Vale (a psicóloga Paula, às voltas com a filha Melanie, adolescente complicada vivida por Roberta Gualda) e Neuza Borges (a Crioula, mãe de leite de Melanie). São atrizes que sempre estão nas produções de Miguel Falabella, no teatro (onde dirigiu e escreveu dezenas de espetáculos, a maioria de grandes sucessos) ou na televisão (onde escreveu duas novelas, "Salsa e Merengue" e "A Lua me Disse"). "A gente acaba trabalhando sempre com as mesmas pessoas, porque conhece as manhas, o que rende melhor. Como dizia Emily Dickinson, nossa alma escolhe nossa sociedade", filosofava o diretor em pleno set na semana passada.

No caso, a escolha deu certo, pois a produção de "Polaróides Urbanas" vai de vento em popa. A equipe passou seis semanas no set, mas Falabella já trabalhava com Paula Barreto e a diretora assistente Anne Pinheiro Machado havia pelo menos um ano. As cenas fluem com facilidade, embora se trabalhe 12 horas por dia. "O Miguel tem a rara qualidade de ouvir muito e saber o que quer. Quando entramos no set, todo mundo já tem a tarefa determinada e por isso tudo anda rápido, com o astral lá em cima", elogia Anne, que tem no currículo os filmes do "Casseta & Planeta" e "O Caminho das Nuvens". O fotógrafo Gustavo Hadba faz coro. "A história é ótima e o Miguel já definiu como contá-la. Cabe ao técnico realizar o que ele tem em mente. Assim é fácil."

Apesar disso, só um acaso viabilizou o filme. Miguel queria levar o "Biquíni Selvagem" para o cinema desde a estréia da peça, mas nem as casas lotadas, no País inteiro, durante cinco anos, convenceram os investidores. No ano passado, encontrou-se com a produtora Luci Barreto (mulher de Luiz Carlos Barreto e mãe de Paula, Bruno e Fábio) e ofereceu-lhe o projeto. Luci e Paula adoraram o roteiro e conseguiram patrocínios da Vivo, Bradesco e da distribuidora Buena Vista, pela Lei do Audiovisual (que prevê renúncia fiscal), e da Volkswagen, sem esse recurso. "Esta é minha meta. Convencer o investidor da qualidade dos projetos e financiá-los com dinheiro bom", promete O ensaio dessa meta foi "O Casamento de Romeu e Julieta", outra comédia de costumes. "É coincidência, não quero produzir só comédias, mas bons filmes, como este que o Miguel nos trouxe. Tomara que seja a estréia de uma longa parceria."

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