Estréia na terça-feira a microssérie ‘Capitu’ na Globo

Capitu traiu ou não? Essa pergunta tem sido formulada toda hora em razão do centenário da morte de Machado de Assis. Mas a eventual traição de Capitu com Escobar, amigo do seu marido Bentinho, não estará no centro da microssérie de cinco capítulos dirigida por Luiz Fernando Carvalho e que começa a ser apresentada a partir de amanhã, na Globo. Produção é baseada em Dom Casmurro, o mais ambíguo dos romances de Machado, uma das obras-primas de sua fase de maturidade.

Escrito em 1889, o romance continua a produzir discussão até hoje. E não apenas por deixar em aberto a possibilidade de um adultério, mas porque fornece um retrato sutil, costurado nas entrelinhas, da hipócrita sociedade carioca durante o Império. O roteiro teve consultoria de Daniel Piza, biógrafo de Machado e editor-executivo do jornal O Estado de S. Paulo.

Dom Casmurro (Michel Melamed) vê a si mesmo como o Bentinho jovem (César Cardadeiro) tentando fugir à promessa religiosa da mãe, dona Glória (Eliane Giardini), e encantando-se progressivamente com sua vizinha Capitolina, a Capitu (Letícia Persiles) dos “olhos oblíquos, de cigana dissimulada”, como a classifica outro dos personagens de Machado, o agregado José Dias (Antônio Karnewale). O núcleo familiar é completado pela histérica prima Justina (Rita Elmôr) e o debochado tio Cosme (Sandro Christopher), ambos viúvos como dona Glória. José Dias firma um pacto com Bentinho para tirá-lo do seminário, porque deseja acompanhar o rapaz numa futura e hipotética viagem de estudos à Europa.

O mais importante é que Carvalho não apenas preserva o “enredo” do livro, mas o reinventa em linguagem audiovisual sem perder a sua pegada literária. As roupas podem ser de época, mas os atores parecem decididamente modernos. Assim como contemporâneos são os procedimentos de misturar o personagem do “presente” (Dom Casmurro) com aquele que ele foi no passado (Bentinho), passar de uma seqüência temporal a outra, contemplar com segurança a vocação digressiva de Machado que não se afasta do ponto principal por indisciplina narrativa mas para olhá-lo por mais de uma perspectiva. Assim, a polifonia da prosa machadiana é transposta para esse espetáculo audiovisual encenado por Luiz Fernando. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.