Estreia em SP peça sobre trajetória de Nise da Silveira

Quando o psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung recebeu uma carta da brasileira Nise da Silveira, em 1954, perguntando sobre mandalas, ele pensou se tratar de um homem. Em sua resposta, teria tratado a franzina mulher como senhor. Nascida em Maceió, Nise (1905-1999) abriu seu espaço no então mundo masculino da medicina. Foi a única mulher em uma classe de quase 160 universitários. Após a formatura, se mudou para o Rio, onde começou a trabalhar com psiquiatria. Deixou sua marca ao rejeitar o uso de eletrochoques e lobotomias e apostar em tintas e telas para tratar doenças mentais.

É o percurso dessa alagoana que movimenta “Nise da Silveira – Senhora das Imagens”, espetáculo que estreia hoje em São Paulo após temporadas no Rio. Mesmo com apenas uma atriz em cena, Mariana Terra, com preparação em dança, a peça foge da alcunha de monólogo e abusa de outras linguagens, como canto, projeções, pantomima e dança. A bailarina Ana Botafogo assina as sete rápidas coreografias criadas para a montagem. O ator Carlos Vereza empresta sua voz para Jung. E há, ainda, depoimentos em vídeo do escritor Ferreira Gullar e do diretor teatral José Celso Martinez, cuja fala foi gravada especialmente para a temporada paulista.

Com direção e concepção de Daniel Lobo, a obra reúne passagens relevantes da vida de Nise. Entre elas, a prisão no governo Getúlio Vargas, em 1936, por possuir publicações consideradas comunistas, e a volta ao trabalho, em 1944, no Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro. Após declarar-se contra as práticas agressivas da época, assumiu o caminho da terapia ocupacional e criou ateliês de pintura, desenho e escultura, tornando-se pioneira na área.

Celebrando os 60 anos do Museu de Imagens do Inconsciente (Rio), criado por Nise, o espetáculo traz pinturas da instituição, concebidas por pacientes de Nise, que acompanham Mariana na peça. “Em cada coreografia, de alguma forma, a atriz se transforma em quem pintou aquilo”, explica o diretor, que teve a ideia para a produção em 2008, após ler uma reportagem sobre Nise. O encontro com Mariana em um curso de ioga fez o projeto tomar forma. A atriz é filha do psiquiatra Raffaele Infante, discípulo de Nise. Coincidentemente, Lobo havia conhecido Infante anos antes. “Então, a história da Mariana entrou no texto”, conta. A atriz, que conheceu a psiquiatra na infância, lembra da figura pequena, mas poderosa. “Ela tinha uma luz, um olhar enorme.” Do esforço de estar em cena por uma hora e meia e ainda abrir sua vida pessoal, Mariana diz: “É uma entrega emocional e física.” Para o diretor, é essa mistura que conquista. “O público cria uma identificação. Queremos falar de Nise para quem ouviu e para quem não ouviu falar dela.”

Nos cinemas – A história de Nise vai chegar aos cinemas, em 2013. O longa sobre a médica, com direção de Roberto Berlinder, começou a ser rodado e terá Gloria Pires no papel. Não será a primeira vez. Sua obra originou a trilogia “Imagens do Inconsciente”, de Leon Hirszma. As informações são do Jornal da Tarde.

Nise da Silveira – Teatro Eva Herz da Livraria Cultura Conjunto Nacional (Avenida Paulista, 2.073). Tel. (011) 3170-4059. Estreia hoje. Temporada até 29/3. Quartas e quintas, às 21h. Ingressos: de R$ 25 a R$ 50. 16 anos.

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