Didático: prós e contras

A literatura sobre o livro didático atualmente nos mostra um campo conturbado, em que não faltam críticas às concepções, metodologias e conteúdos que norteiam a utilização do livro didático na aprendizagem escolar. Isso tudo nos leva à seguinte questão: será que, diante de tantas insuficiências, não seria melhor abandonar completamente o uso deste tipo de material escolar? Para podermos responder esta questão é interessante seguirmos algumas das pistas dadas por Bárbara Freitag.

Num estudo de campo desenvolvido em Brasília na década de 1980, esta pesquisadora desenvolveu uma análise comparativa entre escolas que utilizavam livros didáticos bastante tradicionais e outras que, inspiradas no método de alfabetização de Pierre Vayer, dispensavam o uso do livro didático. Embora, do ponto de vista da moralidade infantil os dois grupos não apresentassem diferenças significativas, a pesquisadora constatou que a questão da utilização – ou não – do livro didático exercia um efeito diferencial sobre a psicogênese das crianças examinadas.

Obviamente devemos levar em conta todos os fatores que tornam limitadas e relativas as conclusões deste estudo de caso enquanto estudo de caso. Uma escolha diferente das escolas pesquisadas, da faixa etária e das séries escolares, as incontáveis variáveis decorrentes da própria contingência da análise, a possibilidade de uma aplicação equivocada da metodologia desenvolvida por Vayer e Morroni, tudo isso pode ter contribuído para que o primeiro grupo apresentasse um percentual de desenvolvimento cognitivo maior do que o grupo que dispensou o uso do livro didático. Mesmo assim, não podemos nos furtar ao fato que o estudo indica o livro didático como um recurso, senão indispensável, pelo menos de grande valia e importância.

Se o uso de um livro-texto em sala de aula pode implicar em desvantagens tais como manipulação ideológica, desenvolvimento de habilidades puramente mecânicas, comodismo por parte de professores e alunos na busca de informação, devemos lembrar que tais problemas não são decorrentes do livro didático per se, mas da má qualidade de muitos livros e da falta de preparo ou de condição de muitos professores na escolha e no uso de seus livros didáticos. Essas, porém, são contingências que podem e devem ser mudadas, sem que isso implique necessariamente na extinção do livro didático como material de apoio no processo de aprendizagem escolar.

José Antonio Vasconcelos

é doutor em História Social pela Unicamp e professor na Universidade Tuiuti do Paraná. Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.e-mail:
historicismo@hotmail.com 

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