Descoberta a fórmula do amor

Diretores de cinema passam suas vidas procurando um tema diferente, um novo gancho, um aspecto inédito do cotidiano ou da história para produzirem o filme de suas vidas. Muitas vezes, alguns desses magos da indústria cinematográfica produzem algo que pode até não ser um blockbuster, mas um trabalho distinto. O melhor atalho para isso é trabalhar estreitamente com os roteiristas, que são os verdadeiros artistas das telas.

Estes criam personagens inesquecíveis e apaixonantes, e os colocam em cenários repletos de situações insólitas, que se alojam em nossa memória por anos e anos. Já quando o roteirista se aventura no campo da direção, o resultado é uma incógnita: pode ou não dar certo. Depende de uma série de fatores. Bem, na verdade, depende mesmo do talento do sujeito e sua capacidade para enxergar um filme pronto.

O roteirista inglês Richard Curtis, bem quietinho, começou a estabelecer sua fama há poucos anos. Escreveu O Diário de Bridget Jones e Um Lugar Chamado Notting Hill. Sucessos incontestáveis. Resolveu escrever e dirigir Love Actually, ou Simplesmente Amor aqui no Brasil. Uma tarefa de titã, pois o desafio de escrever histórias cruzadas não é novo, mas tem derrubado muita gente. Curtis descobriu um novo espaço, um novo enfoque, uma maneira original de ver o amor neste planeta. E se deu bem.

Como bom inglês, escolheu os cenários com cuidado e filmou cada cena com o capricho de um ourives. Curtis também soube selecionar o elenco como se estivesse fazendo o filme de sua vida. Estruturou sua produção na velha e boa escola britânica de artes dramáticas, com um time liderado por Liam Neeson, Emma Thompson, Alan Rickman, todos atores shakespereanos, e o emergente (bem, no sentido da atuação de qualidade) Hugh Grant. A excelente americana Laura Linney e o impagável Rowan Atkinson reforçam o departamento de interpretação. Ah, e também tem o Rodrigo Santoro, que vai fazendo suas pontas aqui e ali.

A crítica americana detestou. O público brasileiro tem ido ao cinema para ver Santoro. Os ingleses adoraram. Não é para menos. Richard Curtis foi brilhante ao conseguir catalisar o amor, num cenário muito comum para todos nós, mas que ninguém havia percebido ainda, com pessoas e suas idiossincrasias. Ele encontrou a novidade.

Melhor ainda, Curtis mostra o amor em todas as suas formas, quase como os gregos gostavam de explicar: com diferentes palavras, para tentar dar um significado ao sentimento – agape, phylia e eros. Assista ao filme, preste atenção nos detalhes, veja como se pode escapar ou se amarrar mesmo nas mais diversas situações. Divirta-se com o bom humor inglês, com as boas tramas, as interpretações – dos mais novos aos mais velhos -, chore à vontade e entenda por que o cinema é uma arte que nos deixa refletindo antes, durante e depois do espetáculo.

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Alex Gutenberg é roteirista e diretor de documentários.

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