Companhia do Feijão festeja seus 18 anos em mostra

“Que raio de País é esse em que as peças não envelhecem”, disparou o diretor Pedro Pires durante os ensaios de Mire Veja, espetáculo que abre a mostra de repertório da Companhia do Feijão, a partir desta sexta, 13, no Sesc Santo Amaro.

A montagem de 2003 traz a história da crise brasileira do café, em 1929, sendo narrada por atores que não concordam sobre as escolhas narrativas e pontos de vista. Insatisfeitos com o resultado, os artistas se organizam e vão às ruas para interromper os rumos da montagem. A disputa cria, então, um terceiro agente que deseja narrar a história da sua maneira. “Ao tratar de questões como violência urbana e desdém com a coisa pública, abrange o nível geral do humano e também o particular.” Pires explica que a mostra é um convite para conhecer períodos históricos do Brasil e também o trabalho da companhia ao se debruçar sobre esses momentos. “Acreditamos que, se as montagens estivessem ultrapassadas, nós não as apresentaríamos mais. É só olhar para o tempo atual para perceber a relevância de se refletir sobre temas políticos e sociais.”

A mostra ganha continuidade com Nonada, espetáculo de 2006, que cria um jogo de gato e rato entre um dono de um circo macabro que manipula um personagem desmemoriado. Em seguida, vem O Ó da Viagem, montagem mais antiga apresenta, concebida em 1999, e que foi fruto de uma grande viagem ao Sertão do Cariri empreendida pelo grupo. O diretor e os atores perseguiram as pegadas do escritor Mário de Andrade, registradas em um diário datado nos fim dos anos 1920. Pedro explica que a mostra também foi organizada para criar uma experiência entre as obras e as novas gerações. “É como ir ao cinema de antigamente. Você poderia entrar no meio do filme e ficar para a próxima sessão, porque não havia lugares marcados.”

A mostra se completa com Manuela, espetáculo mais recente da companhia, que estreou em 2015,durante a homenagem aos 70 anos sem Mário de Andrade. A peça protagonizada por Vera Lamy coloca a atriz no papel da máquina de escrever do autor, chamada de Manuela em homenagem ao escritor e amigo de Manuel Bandeira. Por último, o Feijão traz Armadilhas Brasileiras, peça de 2013, ambientada nos anos 1920, durante uma grande crise mundial que gera uma revolta dos trabalhadores na busca por consertar os rumos da história.

Diante do cenário político, Pires anuncia que o Feijão prepara um novo espetáculo. Com estreia prevista para o ano que vem, a montagem será baseada na mobilização das multidões e em personagens das obras de Chico Buarque.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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