Cinema ainda sem “the end” feliz

Adélia Maria Lopes

A primeira das treze salas do Velho Cinema Novo, projeto da Secretaria da Cultura do Paraná, que conta com 15 milhões de reais do Banco Interamericano do Desenvolvimento – BID, foi inaugurada numa festa iniciada às 15h30 de terça e encerrada na madrugada de ontem, ao meio da qual constatou-se 1) o cinema não tem tela nem projetor e 2) o governo não confia na sensibilidade dos seus sucessores.

O Theatro Municipal de Morretes, cuja última sessão de cinema ali aconteceu há vinte anos, foi reaberto em noite chuvosa tendo o cineasta e produtor Daniel Filho como padrinho, contando ainda como convidados nacionais, diretor Zelito Viana e os atores Chica Xavier, Cininha de Paula, liderando o elenco do Paraná, Mario Shoemberger. Duas litorinas saíram de Curitiba à tarde, com o governador Jaime Lerner e Fani Lerner à frente da comitiva, cruzando a Serra da Graciosa até Morretes.

A viagem reviveu períodos áureos de Lerner que, quando prefeito de Curitiba, ousava performances culturais. O próprio projeto, há sete anos alimentado pela Secretaria da Cultura do Paraná, dignifica a memória dos “cineminhas poeiras”. No entanto, ainda falta a “vida” dos 13 cinemas selecionados para reabilitação. E ela se expressa por tela e projetor.

Para a inauguração, o cine-teatro contou com empréstimo de uma produtora. E não se sabe ainda quando os equipamentos serão instalados, pois não foram nem licitados. Mônica Rischibieter, secretária de Cultura, explicou que a metade do orçamento – 7,5 milhões de reais – ficou destinada para a aparelhagem, mas a alta do dólar inviabilizou a aquisição da estação (idéia é valer-se de parafernália multimídia alemã que permite transmissão ao vivo de eventos para todos os cinemas).

A licitação internacional está em torno de um milhão de dólares, mas mesmo assim é a justificativa dada para a não-aquisição. Como a verba do BID prevê reforma arquitetônica com projetores, a aquisição deve acontecer de qualquer maneira. E será um dos assuntos com a equipe de transição de governo.

Por sinal, a garantia da continuidade dos projetos foi estabelecida por decreto, assinado na cerimônia inaugural por Jaime Lerner. Reza o documento que nenhum imóvel com função cultural do Paraná, sendo ou não do Estado, deve ter sua destinação de uso alterada. Segundo Lerner, o decreto tem força de lei e está judicialmente bem amparado.

Passada a festiva inauguração, outros assuntos entram na pauta do Velho Cinema Novo, como a situação do Cine Ópera, em Ponta Grossa, que desabou quando estava em reforma. As obras foram retomadas mas não se sabe se o custo de dois milhões terão que ser revistos, em quanto e quem arcará como ônus. E ontem iniciaram as reuniões da Secretaria da Cultura com as prefeituras das treze cidades para saber como se dará o gerenciamento dos cinemas. Para a manutenção, a idéia aventada por Lerner, é locar um espaço do saguão para caixa eletrônico e assim o banco que abraçar a proposta, ajudará, com a locação, a manter acesa uma mensagem de amor à arte:

“Nós não podemos perder mais nenhum teatro ou nenhum cinema no País.”.

Feito Hollywood

Nenhum detalhe foi esquecido para a festa da primeira sessão do cinema de Morretes, até claque ensurdecedora saudava os convidados. A neblina impediu a visibilidade da Serra do Mar e a chuva atrapalhou o show pirotécnico. Mas capas de chuva, repelentes, pasta e escova de dentes, sabonetes e toalha já haviam sido providenciados pela previdente equipe da Secretaria da Cultura.

Felizes, Daniel Filho festejava também o sucesso da Cidade de Deus, que produziu e que só não será indicado ao Oscar “por pura questão política”, enquanto Zelito Viana anunciava seu próximo projeto: fazer um filme sobre JK, mas ainda sem ter o protagonista.

Segundo a Secretaria da Cultura, o projeto Velho Cinema Novo também homenageará cineastas do Paraná. O cinema de Ponta Grossa terá Sérgio Banchi como padrinho, enquanto Sylvio Back apadrinhará outro, ainda sem cidade definida. E, além do restauro de treze salas, entre elas o Ouro Verde, de Londrina, o projeto prevê exibição de filmes brasileiros. Idéia que ganhou aplausos gerais, entre eles o de Daniela Thomaz e Miguel Farias Júnior.

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