Chega às lojas novo CD do U2

A liberdade tem o perfume do cocuruto da cabeça de um bebê recém-nascido, diz Bono, do U2, em "Miracle Drug", uma das 11 faixas do seu novo CD, "How to Dismantle an Atomic Bom" (Universal). A vida é oca como a touca de um bebê sem cabeça, disse Caetano Veloso, nos anos 80.

Duro de dizer, mas velhas canções e velhos ídolos pop estão ficando quase todos iguais. Tornaram-se estabelecidos e felizes. Como dizia Tolstoi, em "Anna Karenina", "famílias felizes são todas iguais; cada família infeliz é infeliz à sua própria maneira".

O pop rock do U2, sempre prenhe de boas intenções, soa velho em 2004. Seu problema não são as intenções, mas a sonoridade antiquada. Bono acreditou em John Kerry e foi ao palanque do democrata americano, depois desceu dele para lançar seu ideário pacifista de resultados. "Por favor, deixe uma criança permanecer em algum lugar do seu coração", ele canta, em "Original of the Species".

Esse tom de discurso de ONG ressoa em quase todo o álbum à exceção de "Vertigo", que traz a famosa contagem deficiente em espanhol na abertura, "uno, dos, tres, catorce!" – semelhante à contagem do Burro do filme "Shrek", que canta "uno, dos, cuatro!", antes de cantar "Livin’ La Vida Loca".

Vencedor de 14 prêmios Grammy, vendedor de 120 milhões de discos, o U2 manteve-se atento às mudanças enquanto foi possível. Até o disco Pop, flertou com a eletrônica, deu uma pulsão meio mântrica aos teclados do guitarrista Edge, assimilou conceitos da disco music. Mas, no último CD, "All that You Can’t Leave Behind", já recuava um pouco rumo ao pop rock que os projetou de Dublin para o mundo, em 1978.

"How to Dismantle" tem produtores reincidentes (Steve Lillywhite, Brian Eno, Chris Thomas) e alguns menos viciados (Flood, em "City of Blinding Lights"). O problema é a repetição de linhas de baixo, truques de guitarra, corinhos em cadeia. A ciência e o coração humano não conhecem limites, diz Bono. Conhecem, esse é o problema.

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