CCBB exibe retrospectiva de Rithy Panh

Rithy Panh viu toda a sua família ser dizimada no Camboja antes de ser recolhido a um campo de refugiados da Tailândia, em 1979. Todos morreram vítimas da ditadura sanguinária de Pol Pot. Por meio de seu partido, o Khmer Vermelho, ele deixou um rastro de sangue e violência no país. Panh ainda estava em seus verdes anos e o cinema, em 1984, já apontava o dedo acusador em Os Gritos do Silêncio, de Roland Joffe, sobre os campos de extermínio do Khmer Rouge.

Está em cartaz uma retrospectiva de Rithy Panh no Centro Cultural Banco do Brasil. Famoso por sua obra de documentarista, ele tem ficções no currículo, incluindo o remake de Un Barrage Contre le Pacifique, de Marguerite Duras, que já havia sido filmado por René Clément em 1958 – no Brasil, chamou-se Terra Cruel. A nova versão, de 2008, é com Isabelle Huppert. Em maio, em Cannes, Panh ganhou o prêmio da seção Un Certain Regard com seu híbrido de documentário e ficção, A Imagem Que Falta. Essa imagem – uma foto – teria sido tomada entre 1975 e 79, no auge do Khmer. Na impossibilidade de encontrá-la, Panh a recria.

Ele já se valera de material de arquivo e entrevistas em S21 – A Máquina de Morte do Khmer Vermelho e Duch – O Mestre das Forjas do Inferno, em 2003 e 2011. S21 investiga o centro de tortura que virou o emblema da repressão de Pol Pot. Duch é sobre o temido Kaing Guek-eav, ex-secretário do Khmer e que coordenou a máquina de morte do partido. Entre ambos, Panh fez, em 2005, Os Artistas do Circo Queimado, sobre grupo que resiste nas ruínas do teatro que o Khmer usava para seus espetáculos de propaganda. Todos integram a retrospectiva, com A Imagem Que Falta.

Como o israelense Ari Folman, que misturou animação e live-action em Valsa para Bashir, Panh se utiliza agora de material de arquivo e bonecos de barro. Em Cannes, ele disse que o público ia ver – o repórter estava lá – não só uma reconstituição dramática, mas algo mais visceral. “Para fazer os bonecos, necessitamos de terra, água, vento, sol, todos os elementos. Acima de tudo, é preciso a vontade de criar, e é isso que faz o homem. Sou um camponês, tenho os pés no chão. Não sou um teórico, mas essa é minha história, e eu queria muito contá-la.” A imagem que falta é o enigma do filme – o Rosebud, por associação a Cidadão Kane, de Rithy Panh. Ele nunca esclarece que foto é essa. Da repressão em geral, de sua família. O resultado é impactante.

O CINEMA DE RITHY PANH – CCBB. Rua Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651. Até 17/11. R$ 4 (em DVD, grátis). www.bb.com.br/cultura

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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