Brincar é tudo de bom

Cerca de 10% das crianças em idade escolar têm dificuldades de aprendizagem (Rigotti, 2005). Para melhorar a auto-estima das crianças, muitas vezes a escola utiliza, através da atuação conjunta de profissionais escolares e família, brincadeiras e jogos infantis, como atividades que possibilitam a aprendizagem.

O jogo, que significa diversão e brincadeira, é um mecanismo importante para a aprendizagem da criança. O brincar pode ser entendido de diversas formas: no aspecto filosófico, humaniza o indivíduo por meio da emoção que a brincadeira possibilita. No aspecto sociológico, o brincar possibilita ao indivíduo inserir-se socialmente, através da reflexão de sua ação sobre o outro e do outro sobre si. No aspecto pedagógico, o brincar é uma ótima estratégia de ensino. No aspecto psicológico, o brincar vincula-se ao desenvolvimento da criança.

Diversos autores defendem a presença de jogos e brincadeiras na aprendizagem. Piaget (1976) entende a atividade lúdica no contexto das atividades intelectuais da criança, como meio que enriquece seu desenvolvimento intelectual. Através do jogo, o indivíduo assimila e incorpora o objeto real ao eu, ou seja, o ato de jogar colabora para que haja equilíbrio entre assimilação e acomodação e favorece o desenvolvimento da inteligência.

Ambiente enriquecedor.
Fonte: Cérebro & Mente, n.º 11,
outubro-dezembro 2000
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Durante o brincar se realizam mudanças significativas das situações imaginárias para a predominância das regras e, junto com essa significância, existem as transformações internas que se realizam na criança. Segundo Vygostky (1992), através do brinquedo a criança consegue as maiores aquisições que se tornarão a base do seu futuro. Para Winnicott (1975), o brincar é liberdade de expressão.

Wallon (1975) indica quatro tipos de jogos: funcionais, os que produzem ruídos; de ficção, como bonecas e cavalo-de-pau; de aquisição, como as imagens, as canções e a percepção; os de fabricação ou a criação de novos objetos.

É muito importante ver as crianças como sujeitos capazes de realizar mudanças. Lopes da Silva (2002) menciona que além de reproduzirem o que vêem nos mais velhos, elas aprendem também com as outras crianças pela atualização do que lhes é ensinado. Desse modo, não há previamente uma cultura a suscitar nas crianças, mas esta se concretiza a todo momento. Neste ponto de vista, a infância nunca termina.

Além do brincar, crianças com distúrbios da fala, de leitura e escrita, de visão, de audição, de comportamento, entre outros, podem se beneficiar com descobertas neuropsicológicas.

A neuropsicologia, que faz sempre novas descobertas, dedica-se ao estudo da expressão comportamental das disfunções cerebrais, que é a relação entre o cérebro e o comportamento humano. Essencialmente ela estuda a relação entre o sistema nervoso, o comportamento e a cognição, ou seja, estuda as capacidades mentais mais complexas, como a autoconsciência, a memória e a linguagem.

A psicobióloga, doutora em ciências e fundadora da revista Cérebro & Mente, Silvia Helena Cardoso, e o diretor associado do Núcleo de Informática Biomédica, Renato M. E. Sabbatini, ambos da Universidade de Campinas, destacam que o estudo do cérebro é algo dinâmico e que estímulos externos são importantes.

Pesquisas realizadas indicam que o cérebro exibe o crescimento de conexões neuronais em resposta a jogos e estímulos. Cardoso e Sabbatini (2000) comentam a respeito das experiências realizadas com ratos por parte da neuroanatomista americana dra. Marian Diamond. Ela demonstrou que ?os animais que foram criados em um ambiente enriquecedor, uma gaiola cheia de brinquedos e dispositivos, tais como bolas, rodas, escadas, rampas, etc., desenvolviam um córtex cerebral significativamente mais espesso do que aqueles criados em um ambiente mais limitado, sem os brinquedos ou vivendo isolados. O aumento da espessura do córtex não era devido apenas a um maior número de células nervosas, mas havia também um aumento expressivo de ramificação de seus dentritos e das interconexões com outras células?. (Cardoso; Sabbatini, 2000).

As partes das células estelares que crescem são chamadas dentritos. São eles que permitem que um neurônio receba impulsos nervosos de outras células, os quais se transmitem por meio do corpo celular e depois para o axônio. ?Conseqüentemente, o crescimento das ramificações dos dendritos só pode significar que os processos de intercomunicação nas células do córtex aumentaram e que mais dendritos tornam-nos mais efetivos em termos de regulação da atividade dos circuitos neuronais.? (Cardoso; Sabbatini (2000). Os autores consideram que se isso ocorre com os ratos também parece acontecer com os humanos.

Mas não basta que a escola disponha de abundância de brinquedos, que o professor escolha bem os jogos e que incentive as crianças a jogar. No caso de crianças com dificuldades de aprendizagem é preciso que o professor realize intervenções e que coordene suas atividades.

Zélia Maria Bonamigo é jornalista, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social pela UFPR, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná zeliabonamigo@uol.com.br

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