Bobby Short cantor e pianista, morre aos 80

São Paulo – Símbolo de elegância, intérprete sofisticado que dedicou a carreira ao grande cancioneiro americano, o pianista e cantor Bobby Short morreu hoje, no hospital presbiteriano de Nova York, vítima de leucemia. Tinha 80 anos, 35 dos quais se dedicou a cantar no Café Carlyle, desde 1968. Considerado o último grande cantor de salão, Short nunca se casou. Deixa um filho adotivo e um irmão.

Short fez sete festejadas temporadas no Brasil. A primeira foi no extinto 150 Night Club, do Hotel Maksoud Plaza, em 1982, em São Paulo. Na última delas, em 1999 no Bar Baretto, também na capital paulistana, cantou diversos standards, com ênfase nas canções de Cole Porter. Short só cantava autores do quilate de Porter, Duke Ellington, George & Ira Gershwin, Harold Arlen, Billy Strayhorn, Jerome Kern e a dupla Rodgers & Hart. Seu repertório era formado maciçamente por canções dos anos 20 aos 40. ?Prefiro os compositores daquela época. Definitivamente, as canções de hoje não servem para mim. Não me interessam porque não têm conteúdo literário, nem são inteligentes o bastante?, afirmou ele da última vez que esteve por aqui.

A despeito de sua veneração pelos clássicos, Short não parecia nostálgico. Seu gosto musical, como sua voz aveludada e o elegante guarda-roupa, era sempre impecável. ?Meu público espera uma certa porção de sofisticação quando vem me ouvir?, disse certa vez. Tinha entre seus fãs Woody Allen (até apareceu no filme Hannah e suas rmãs, do diretor), Miles Davis, os Rockfellers e os presidentes da República Richard Nixon, Jimmy Carter, Ronald Regan e Bill Clinton, para os quais cantou na Casa Branca.

?Recorro ao que ouvi Marian Anderson dizer certa vez: ?Primeiro uma canção tem de ser bonita?, disse ao New York Times em 2002. ?No entanto, bonito abriga um vasto leque de coisas. Eu tenho de admirar a estrutura de uma canção e tudo que a envolve. Mas também tenho de determinar como posso transmitir minha afeição por uma canção para a platéia.?

Robert Waltrip Short nasceu no dia 15 de setembro de 1924, nono de dez filhos de uma família musical. Aos 4 anos começou a tocar de ouvido no piano de casa, recriando canções que ouvia no rádio. Aos 9 anos, o autodidata pianista já se apresentava nos saloons de Danville (Illinois), colaborando nas despesas caseiras nos anos da Depressão. Durante dois anos permaneceu em Chicago, reconhecido pelo apelido Miniature King of Swing (o Rei Miniatura do Swing). Tocou no circuito de vaudeville e certa oportunidade se juntou a Louis Armstrong.

Aos 12 anos, já era atração nos clubes noturnos de Manhattan e tinha compromissos regulares com o Apollo Theater. Receoso, porém, de desperdiçar a juventude, voltou para sua cidade natal e para o colégio. Quatro anos depois, ainda adolescente, retornou ao circuito. Mais três anos e ele já deixava os Estados Unidos para tocar em Londres e Paris.

Durante os anos 60, no entanto, o público de Short começou a encolher. Os Beatles e outros da chamada ?Invasão Britânica? do rock passaram a dominar a cena musical.

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