Black Rebel Motorcycle Club se apresenta em São Paulo

“Isso é um sonho. Realmente é”, garantiu Robert Levon Been, baixista, vocalista e líder do Black Rebel Motorcycle Club, às vésperas da primeira visita da banda californiana a São Paulo, em 2011, antes de prometer “o melhor show do festival” SWU, realizado em Paulínia, naquele ano.

Cinco anos depois, Levon Been se sente frustrado que os planos e promessas não se realizaram. Embora o potente som do BRMC tenha ecoado forte pelo Parque Brasil 500, aquela performance não mostrou “tudo o que o Black Rebel Motorcycle Club é capaz de fazer”. Foi um show curto e grosso. Direto e soturno, embora o horário escolhido para a banda, no meio da tarde, não tenha ajudado.

“Eu posso dizer que foi, de certa forma, um show divertido. Embora eu considere como um teaser. Uma amostra do que podemos fazer. Queríamos ter tocado muito mais também. Queríamos fazer a nossa apresentação cheia. Em um lugar mais intimista, menor. Espero que, desta vez, as coisas funcionem melhor. Queremos entregar um show de rock, esperava por isso. Acho que, enfim, vamos entregar isso.”

Levon Been, Peter Hayes (guitarra e voz) e Leah Shapiro (bateria) estão de volta a São Paulo. O trio foi escalado para encerrar a primeira passagem do gratuito House of Vans, dedicado a arte, cultura de rua e música, pelo País. O evento da marca, que já passou por Nova York, Londres, Austin, Toronto, Cidade do México, entre outras cidades, foi iniciado na última quinta-feira, 17, com a banda neozelandesa Black Seeds, continuou na noite seguinte com performances de skatistas. Por fim, nesta sexta-feira, 18, a Casa das Caldeiras, na Água Branca, recebe o rock queimado pelo sol californiano do Black Rebel Motorcycle Club, às 21h – outras atividades têm início desde 11h.

A banda também chega com um disco mais recente – e elogiadíssimo – na bagagem. Com Specter at the Feast, lançado há três anos, Levon Been e companhia reforçaram a estética, um filhote híbrido do encontro entre Velvet Underground e Alice in Chains, deixado torrar ao sol por meses no deserto. Um disco poderoso, com vocais de Levon Been soltos em devaneios, ora desesperados e intensos, ora murmurados desleixadamente. O trabalho colocou o grupo de volta aos eixos principalmente após o titubeante Beat the Devil’s Tattoo, de 2010.

Trata-se de um reflexo natural de uma banda que passou por algumas intempéries nos últimos anos. Em 2008, o baterista Peter Salisbury deixou o grupo por “colocar fogo demais nas gravações”, explicou Levon Been. Foi substituído por Leah Shapiro, baterista também competente. Dois anos depois, ainda antes da passagem pelo SWU, Levon Been perdeu o pai, Michael Been. O Been pai, antigo líder da banda The Call, trabalhava como engenheiro de som em um festival na Bélgica, onde o BRMC também se apresentaria, quando teve um mal súbito. O luto levou um período de tempo considerável para que o filho conseguisse seguir adiante novamente.

Levon Been chegou a ocupar o lugar do pai em alguns shows de tributo a ele ao lado de outros ex-integrantes do grupo e decidiu gravar uma das canções do The Call em Specter at the Feast. A escolhida, Let The Day Begin, obviamente ganhou ares soturnos, mas ainda soa otimista. “Acho que foi uma boa forma de homenagear Michael, quero dizer, meu pai, por tudo o que ele fez pelo Black Rebel Motorcycle Club desde o início. Sempre esteve conosco”, explica o filho. “Era muito importante tê-lo naquele disco. Porque muitas das canções que estávamos fazendo refletiam aqueles sentimentos de luto, mas não queríamos fazer isso. Decidimos por uma canção otimista, nada melancólica ou triste.” O sucesso razoável do pai foi, por muito tempo, um fantasma a perseguir Levon Been. À princípio, ele assumiu os pseudônimos de Robert Locke e, depois, Robert Turner, antes de voltar ao nome de batismo.

Levon Been falava de Los Angeles, entre um ensaio e outro para a gravação daquele que será o oitavo álbum da banda. Ainda não há nome escolhido, justamente porque o processo criativo ainda está no início. “Se escolhermos um nome, isso pode limitar a gente”, explica o baixista. “E, quando gravamos um disco, o resultado nunca é igual àquele que pensávamos no início. Às vezes, ele começa calmo e, quando vamos perceber, é um álbum de punk rock. Acho interessante deixar a criação completamente livre.”

As canções da nova safra não serão mostradas ao vivo por aqui, porque a banda não quer que as músicas vazem com ajuda de gravações realizadas por smartphones durante os shows. “A gente aprendeu a duras penas de que não é interessante mostrar uma música inédita em um show. No dia seguinte, ela já está na internet. E, hoje em dia, acho bom manter a surpresa.” Ainda assim, Levon Been não faz coro aos roqueiros que, atualmente, brigam para que o público deixe os celulares nos bolsos e bolsas, e curtam os shows. “Não gosto de dizer o que as pessoas devem ou não fazer”, ele diz. “Eu até entendo, acho que tem algo de voyeurismo, em ver o mundo pelo olhar dos outros.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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