Bienal de São Paulo: a arte como território livre

Pela primeira vez com entrada franca, começa hoje à noite e vai até o dia 19 de dezembro, no Pavilhão do Parque do Ibirapuera, na zona sul da cidade, a 26.ª edição da Bienal de São Paulo, que propõe uma visão da arte como território de liberdade, terreno fértil para a construção estética. Figuras importantes da política nacional, entre eles o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB) e a prefeita Marta Suplicy (PT), comparecem discursando para um conjunto significativo de personalidades do mundo cultural.

Após tratar da conturbada relação entre os grandes núcleos urbanos e a arte contemporânea, a Bienal de São Paulo volta-se para a estética e se propõe a investigar a relação poética da criação artística, a capacidade da obra de arte de mobilizar a reflexão e as emoções do público. A seleção é extensa e contempla as mais diferentes formas de expressão artística, com destaque para a pintura.

Uma das novidades desta edição é não apenas a inexistência de um núcleo histórico, mas a escassez das grandes estrelas. Há nomes conhecidos por aqueles que acompanham o circuito contemporâneo internacional, como Luc Tuymans e Cai Guo Qiang, mas raros são os artistas que já expuseram seus trabalhos por aqui. Mesmo entre os brasileiros, a opção foi priorizar trabalhos de artistas jovens, que participam pela primeira vez de uma bienal.

Para o curador da mostra, Alfons Hug, ainda estão em jogo duas concepções rivais da arte, Benjamin e Adorno, ambos imbuídos do espírito crítico da escola de Frankfurt que ajudaram a fundar. Adorno defendia a autonomia da obra de arte. Benjamin, o engajamento artístico. Adorno não considerava o artista uma máquina de comunicar conceitos ou conteúdos prévios. Ao recusar a comunicação imediata, a arte, em sua “mudez”, conduziria à contemplação e à transcendência, duas palavras que não fazem parte do histérico vocabulário dos contemporâneos, quase sempre dispostos a gritar em videoinstalações ou embutir alguma “mensagem” bizarra em vísceras de animais ou corpos mumificados.

Serviço:

26.ª Bienal de São Paulo. Pavilhão da Bienal/Parque do Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/n.º, portão 3, Ibirapuera, 5574-5922. 9h/22h (6.ª, sáb., dom. e fer., até 23h). Serviço de monitoria deve ser solicitado com três dias de antecedência pelo fax 5549-0230 ou pelo e-mail: monitoria@bienalsaopaulo.org.br. O local ainda possui cadeiras de rodas disponíveis, livraria, loja, telefone público e lanchonete. Não será permitido ingresso com máquinas fotográficas e filmadoras. Entrada franca. Até 19/12.

Programação oferece debates

Para o serviço educativo desta 26.ª mostra, foi realizada uma parceria entre a Fundação Bienal e a Fundação Armando Álvares Penteado.

Há mais de um mês está sendo ministrado um curso gratuito para formação de monitores. Como conta o presidente da Bienal, Manoel Francisco Pires da Costa, professores da Faap ficaram responsáveis pelas aulas. No total, 400 monitores trabalharão no evento. Desses, 130 vieram da Faap e o restante, de universidades de todo o País. Segundo Pires da Costa, a idéia é tornar o curso de formação de monitores uma ação permanente.

Debates e livros – Como parte da programação paralela da 26.ª Bienal, vai ser promovida no prédio uma série de debates sobre arte. Segunda e terça, entre 14 e 20 horas, ocorrerão mesas-redondas com a participação de críticos, curadores e artistas, muitos deles presentes na exposição, como Alec Soth, Julie Mehretu, David Batchelor e Beatriz Milhazes. Entre os temas a serem discutidos, a pintura, escultura, a crítica de arte e o vídeo.

Ainda como evento paralelo, uma sala do espaço expositivo da Bienal será dedicada ao Projeto Portinari, criado há 25 anos. Lá será lançado oficialmente na segunda o catálogo raisonné de Candido Portinari (1903-1962).

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