?Ana Arabia? fala sobre árabes e judeus no Oriente Médio

Com Ana Arabia, o israelense Amos Gitai se defronta com sua obsessão: a convivência entre árabes e judeus no Oriente Médio. O filme é profundamente humano e um belo exercício de linguagem cinematográfica, feito num único plano-sequência. Quer dizer, não existem cortes, e tudo o que se vê é em tempo real. Da chegada de uma jovem repórter a uma espécie de vila meio precária, situada entre Haifa e Tel-Aviv, até sua partida, transcorrem 84 minutos. Tempo suficiente para que a moça ouça histórias de vários personagens, homens e mulheres, velhos e moços, árabes e judeus, que falam de suas vidas e do que fazem lá.

“A opção pelo plano-sequência único não foi um capricho de diretor. Eu simplesmente não queria interromper o fluxo narrativo entre os personagens porque essa é a essência do projeto”, conta. Gitai é um dos raros cineastas contemporâneos a ter consciência da sua ferramenta de trabalho e de como escolhas estéticas implicam decisões de conteúdo. “O uso do plano sem cortes foi essencialmente político”, acredita.

Sobre sua utopia de uma convivência entre povos de culturas diferentes e de ódios muito arraigados, Gitai responde que a realidade no Oriente Médio é assim mesmo. “Você vai a um hospital e pode ser atendido por um médico palestino. A convivência existe na prática, mas é sabotada por uma intolerância gerada pela ideologia. Onde encontramos de forma melhor essa sabedoria sobre o viver junto? Entre as pessoas mais simples. Foi o que quis retratar no meu filme.”

Numa ficção que se parece muito a um documentário, Gitai não promove qualquer discurso sobre a convivência. Limita-se a registrá-la em ato. Entre os sete personagens principais entrevistados pela repórter interpretada por Yuval Scharf, com as histórias mais variadas, de guerras, sofrimentos pessoais e políticos, emerge a ideia de que as pessoas aprendem a anular diferenças e fanatismos e fundar um meio comum como forma de convivência. Não são as ideologias que fornecem essa sabedoria, as próprias necessidades da vida a ensinam. Como dizia o nosso Guimarães Rosa, o sapo não pula por boniteza, mas por precisão.

Ana Arabia faz parte da seleção da Mostra de Cinema de São Paulo, que acontece em no mês de outubro.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Voltar ao topo