Além da barriga

Roteirista do Caldeirão do Huck, Gabriel Moojen encontrou um jeito de aproveitar a gravidez da esposa, a modelo Francielle Zanon, para emplacar um quadro no Fantástico. A série, de cinco episódios, compara o planeta hoje e em 2043, quando Valentina, sua filha, estará com 36 anos. ?A idéia é mostrar como ela vai viver quando tiver a minha idade. Isso se não fizerem nada para evitar que as previsões se transformem em realidade?, explica. Antes de saber que seria pai, Gabriel pensava em, junto com o diretor João Carrascosa, elaborar um quadro para o dominical que mostrasse um casal de viajantes com preocupações ecológicas. Mas quando descobriram a gravidez, os planos mudaram. O jornalista, que foi responsável pelo programa Mochilão MTV, passa agora a maior parte de seu tempo em casa fazendo experiências e gravando-as. ?Juntamos isso com as matérias de rua para dar uma linguagem mais dinâmica ao quadro?, diz.

P – Sua idéia inicial era fazer um quadro viajando ao lado da Francielle e, de repente, os rumos mudaram. Como aconteceu essa mudança?

R – Pois é. O João Carrascosa escreveu isso para nós a partir de uma outra idéia que eu já tinha. Curti muito fazer o Mochilão MTV e pensei em um quadro para o Fantástico sobre um casal de viajantes que passa por vários lugares sem poluir ou deteriorar o planeta. Eu faria com a Francielle, mas aí ela ficou grávida. A partir daí, a gente começou a pensar nas previsões que são feitas hoje sobre o futuro do mundo. E imaginar como vai ser o mundo da minha filha quando ela tiver a minha idade, 36 anos. Começamos a desenvolver os roteiros com a preocupação de achar a linguagem certa para isso.

P – E como vocês encontraram o tom certo?

R – Eu e a Francielle temos o hábito de gravarmos nossa rotina em casa e colocar os vídeos na internet. Acho isso bacana. Então mostrei para o João alguns e disse que gostaria que fosse algo próximo daquilo. Foi daí que decidimos misturar algumas experiências caseiras com as matérias que fazemos nas ruas.

P – Que tipo de experiências vocês realizaram?

R – Juntamos o nosso lixo durante um mês, por exemplo. Depois de um tempo, só o meu lixo já estava do meu tamanho. Quando a gente joga fora, ele não desaparece, só muda de lugar. Então, percebemos que o nosso lixo vai ser uma herança para a nossa filha, porque ele vai existir ainda quando Valentina tiver a minha idade. Sobre a água, começamos a não comer arroz. Gasta-se muita água na irrigação dele. É estranho, mas sob esse ponto de vista, o arroz é uma coisa que, politicamente, não é correta. Pensamos em tomar banho de dois em dois dias, mas aí a Francielle não topou.

P – As previsões que vocês divulgam foram traçadas por especialistas. Você acredita mesmo que as coisas mostradas no programa vão acontecer em 36 anos?

R – Prefiro acreditar nas mudanças. Não posso dizer que estamos trabalhando com base em ?achismos?, porque são pessoas com conhecimentos técnicos que estão falando isso. Mas, ao mesmo tempo, o problema da camada de ozônio que tanto preocupava o planeta está sendo contido através da conscientização e de leis favoráveis ao meio ambiente. Prefiro acreditar que as pessoas vão se tocar e algo vai ser feito para evitar esses desastres. Minha maior preocupação é alertar e tentar contribuir para que essas coisas não aconteçam.

P – E o que você já implantou na sua casa para tentar mudar esse quadro?

R – Sempre fui a favor de ações que beneficiem a Terra. Eu e a Francielle não vamos ter mais do que dois filhos. Não dá para aumentar a população. Se for um casal deixando dois, o saldo dá empate. Sempre enchi o saco das pessoas com a problemática do lixo, incentivando a reciclagem e jogando o que não serve mais nos lugares certos. Controlo bastante a água que eu uso na cozinha também, mas confesso que nesse ponto da água eu ainda não sou exemplo. Fecho a torneira no hora de lavar a louça, mas acho difícil racionar a água no banheiro. 

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