Agradáveis mudanças

Carlos Lombardi mudou sua forma de fazer novelas. Ele já não recorre tanto ao ritmo nervoso e à edição picotada, que remete às histórias em quadrinhos. Esse estilo marcou várias de suas tramas, como Kubanacan e Uga Uga, por exemplo. Em Pé na jaca, o autor deixou um pouco de lado a eletrizante velocidade das cenas, sempre recheadas de aventuras, para investir no chamado ?novelão?.  

Diálogos mais longos, profundidade nos conflitos e dramas dos personagens revelam uma certa quietude do autor. Não que o texto tenha perdido o inconfundível humor lombardiano, com diálogos estruturados numa sagaz comédia contemporânea. Mas além desse recheio bem-humorado, Lombardi parece se arriscar mais em cenas que prendem a atenção não só pelo movimento, mas pela história de seus personagens.

Com essas alterações, Lombardi também derruba alguns estereótipos. Juliana Paes, por exemplo, não tem sido mais vista apenas como a morena gostosa na pele de Guinevere. Em sua sexta novela, a atriz demonstra amadurecimento numa interpretação que chega a surpreender, como uma sofrida dona-de-casa. Até Marcos Pasquim tem conseguido, paulatinamente, chamar a atenção não só pelo abdômen definido. O personagem Lance tem conflitos verossímeis que, pela primeira vez, fazem com que Pasquim possa ser levado a sério.

Mas na contramão das boas mudanças incluídas em Pé na jaca, o autor não consegue deixar de lado os tipos enfadonhos, que recebem interpretações caricatas e superficiais. Caso de um dos principais casais da trama: Artur e Vanessa, de Murilo Benício e Flávia Alessandra. Enquanto o falido empresário – cujo jeito de falar parece uma versão piorada de Evandro Mesquita – é o pior papel já vivido pelo ator, pelas expressões grotescas e humor forçado, Flávia naufraga com o companheiro de cena. Na pele da dondoca perua, a atriz se mostra muito pouco à vontade para fazer esse tipo de comédia e o resultado compromete muitas das cenas da trama.

Entre os altos e baixos da ?nova versão? lombardiana, a novela se equilibra com a satisfatória audiência de 35 pontos de média, com picos de 40. Talvez Lombardi consiga elevar ainda mais a audiência de Pé na jaca tomando medidas mais radicais que reduzir a velocidade das cenas ou aprofundar seu conteúdo. Se o diretor Ricardo Waddington fugir um pouco do padrão de enquadramento e Lombardi deixar de fazer uso dos mesmos recursos utilizados desde o início da telenovela, já seria uma boa iniciativa. Como alguém deixar uma bandeja cair quando encontra um antigo amor, ou escutar conversas atrás da porta, por exemplo. Às vezes, identificar o óbvio pode impedir que se enfie o pé na jaca.

Voltar ao topo