‘Achei que não desfilaria por causa da recessão’, diz estilista Patrícia Viera

A estilista carioca Patrícia Vieira mostrou sua nova coleção na São Paulo Fashion Week nesta quinta-feira, 28. Por causa da crise do País, Patrícia diz ter tido medo de não desfilar este ano na semana de moda. “Entrei em pânico”, afirma. A economia e um problema de saúde a incentivaram a mudar o tema do desfile. Para evitar desperdício e custos altos na produção das peças, Patrícia utilizou matéria-prima que já tinha e desistiu de falar sobre a África para inspirar-se em Cuba. “Vi uma porção de sacos de couro parados, que são os meu retalhos que não deixo vender para ninguém, pensei: ‘gente, estou em Cuba, não tem sabonete, não tem nada, como eu me viro?’, conta. Na passarela, a estilista mostrou saias de couro que parecem de renda, jaquetas metalizadas navalhadas e saias bordadas e florais que garantiram o clima de latinidade. Leia a entrevista com Patricia:

Como foi sua inspiração?

Era para ser África, mas eu quebrei o pé e não podia viajar, então mudei para Cuba. É um lugar que eu sempre quis ir e não conseguia, porque implicava com a situação do país. Com o problema na perna, eu ficava parada, via as notícias sobre o País em recessão, tudo quebrando. Teve um momento em que eu entrei em pânico. Entrei no meu estoque e fui vendo uma porção de sacos de couro parados, que são os meu retalhos que não deixo vender para ninguém, pensei: “gente, estou em Cuba, não tem sabonete, não tem nada, como eu me viro?”. E comecei a fazer meus mosaicos, minhas flores, e comecei a entender algumas coisas de reciclagem, do reaproveitamento.

A relação da cliente com as compras mudou?

Minha cliente é muito consciente, não é boba. Ela não compra porque achou bonito, compra porque é bom, porque é a marca que a representa. Então eu fui pensando no que eu ia apresentar para essas clientes, como eu ia fazer uma coleção linda num momento que elas estão muito conscientes. Pensando nisso me alinhei. Sabe como soldado se alinha? Então, eu me alinhei, respeitei essa cliente e vivi esse momento no Brasil com todo mundo indo para a rua numa consciência política que a gente nunca teve.

Você se envolve em política?

Antes eu falava: “ai, eu sou criação, eu não me envolvo”. Gente, eu estou envolvida de todas as maneiras, indireta e diretamente. As pessoas me falavam: “não pode falar de Sérgio Moro”, mas eu estou apaixonada por ele. É uma pessoa que está me defendendo lá, eu comecei a ver que eu tenho direitos e tenho soluções.

Como foi a criação da coleção?

Eu achava que eu tinha que viajar, ver o belo, e ao mesmo tempo a gente precisa da venda, precisa do custo, da qualidade, tem que dar certo, tem que vender, tem que ser bacana, tem que ser comercial. Eu nunca entrei no custo como entrei dessa vez, porque só tinha preocupação de fazer o belo, não tinha preocupação com o custo. Depois eu dava um jeito. Dessa vez, eu vim sabendo que tinha que bater a meta, e me senti muito responsável também. Sabe quando você sai da alienação? Eu saí em todos os sentidos.

Que tipo de couro você usa na coleção?

Só uso couro abatido por causa da carne. Não uso nenhuma pele que não seja para o uso comestível, sabe? Se você quiser vison, não vai encontrar.

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