Vitória garante o Paraná Clube na Copa Libertadores

Jogador, artilheiro, supervisor, auxiliar-técnico, comentarista esportivo e técnico. Caio Júnior é um daqueles poucos profissionais em atividade no futebol brasileiro que pode se orgulhar de ter vivenciado cada uma das facetas possíveis no ?mundo da bola?. Hoje, ele comanda o Paraná Clube no jogo mais emblemático da história de uma agremiação jovem, mas vitoriosa e que está a um passo da Libertadores. Uma tarde em que o trabalho de uma temporada será medido em noventa minutos.

Tribuna: Você teve, há alguns anos, uma ascensão muito rápida no clube. Como foi aquele momento, o início de sua carreira como treinador?

Caio Júnior: Não sei se foi tão bom para mim. Quando assumi os juniores, em 2002, planejei ficar dois anos nas categorias de base. Queimei etapas, já assumindo o time principal no estadual. Depois, recuei à função de auxiliar. Mas, acho que comecei a me tornar treinador no Cianorte, onde tive que formar a equipe, junto com o Serginho. Mas, depois me desgastei muito, pois vi o quanto é difícil não ser um técnico de ponta, fora da primeira divisão. O Gama, na Segundona, foi a gota d?água. No Londrina, o supervisor, Lico, me derrubou. A história se repetiu em Brasília. Por isso, resolvi voltar a trabalhar na imprensa.

Tribuna: Pelo que viu nesses anos, a atual estrutura – ou falta dela – do futebol acaba queimando bons profissionais?

Caio Júnior: Com certeza absoluta. Foi isso que me fez refletir. Há muitos treinadores de alto nível que não têm oportunidade como eu tive. Particularmente, não esperava ter uma chance como essa. Quando veio a oferta do Paraná, não tive dúvida.

?É a minha chance. Ou vai ou racha.? Há muitos que passam a vida inteira sem um convite como esse. Entendo quando o Muricy criticou a indicação do Dunga para dirigir a seleção. Nada contra o Dunga, mas há muito técnico bom, no interior, e que ninguém vê.

Tribuna: Quando o Miranda ligou, você aceitou de pronto ou discutiu o assunto com sua família?

Caio Júnior: Eu estava no estúdio da Banda B. Todo mundo começou a participar da decisão. O presidente me deu uma hora para pensar. Primeiro, falei com a minha esposa. Depois liguei para o Luiz Carlos Martins. Quem me ajudou muito, naquele momento, foi o Marcelo Ortiz. Tenho um carinho muito grande porque ele me deu muita força. Acabei aceitando a chance antes mesmo de acertar a questão financeira. Me considero um abençoado. Tenho muita fé e minha esposa me influenciou nisso. O curioso é que tudo só aconteceu porque o presidente ouvia meus comentários. Se eu estivesse trabalhando como técnico, no interior, talvez nada disso tivesse acontecido.

Tribuna: Pesou o fato da visível reestruturação do clube, que recém-conquistara o título estadual?

Caio Júnior: A passagem de 2002 foi muito dura. Naquele jogo de Florianópolis tirei um peso enorme das minhas costas. Acreditei num projeto que seria complicado: começar um estadual só com garotos das categorias de base. Como comentarista, trabalhei em 99% dos jogos do Paraná no estadual deste ano. Tinha uma noção do grupo e via o clube em ascensão. Isso me deu confiança para voltar ao clube.

Tribuna: Você é um técnico que não esconde emoções. Até que ponto esse lado verdadeiro ajudou a conquistar o elenco?

Caio Júnior: Costumo dizer que o Paulo Autuori é o meu guru, pois ele é muito verdadeiro. Mas, tenho que me controlar um pouco mais. Me arrependo daquele dia em que falei que o cavalo paraguaio estava chegando.

É coisa de momento, que precisaria segurar. Mas, há coisas naturais que não vou perder, como vibrar com uma vitória. Em relação à arbitragem, por exemplo, tenho evitado qualquer atitude. Por influência do colunista Luiz Augusto Xavier, não fui mais expulso. Ele me fez uma crítica naquela primeira rodada. Li e fiquei morrendo de vergonha. Passei o jogo inteiro reclamando do árbitro. Quanto aos jogadores, eles te respeitam ou porque você escala o time ou porque eles vêem que você é sério. Preciso ser respeitado pela seriedade.

Tribuna: Você lamenta alguma decisão? Que análise você faz das escolhas táticas?

Caio Júnior: Depois, fica sempre a sensação de que poderia ter feito algo diferente. O Pierre, por exemplo, poderia ter sido adaptado a essa função, no 4-4-2, assim que chegou.

Mas, aconteceram fatos que me fizeram manter o sistema com três zagueiros. É tudo momento e você precisa ter a sensibilidade de não quebrar uma estrutura que está dando resultado. Ficando no Paraná, penso em armar um time mais dinâmico, mais versátil. Nesse Brasileiro, Grêmio e Figueirense me chamaram a atenção. São equipes modernas, até mais que o São Paulo.

Tribuna: Como você, que já esteve do outro lado, trabalha com a crítica? A imprensa atrapalha? E conhece o futebol?

Caio Júnior: Na hora, fico magoado. Mas, passa. Tenho que absorver as críticas corretas e que ajudam a evoluir.

O que mais chateia é quando comenta-se sobre uma inverdade ou por falta de informação. Ou quando é um chute.

Se voltasse a ser comentarista, passaria a ver treinamentos. Só pelo jogo é muito difícil se fazer um comentário preciso e profundo. Mas, há muita gente boa, na imprensa de Curitiba e do Brasil.

Tribuna: Nacionalmente, a imagem que se tinha é de que o grupo do Paraná trabalharia para não cair. Você tinha que idéia desse elenco e onde o clube deve melhorar para 2007?

Caio Júnior: O time titular campeão estadual era muito bom. O que fez a diferença foi o fato de o Paraná ter acertado em muitas contratações.

O Cristiano, por exemplo, foi um tiro certo. Isso sem contar o pessoal da Adap, o Angelo, o Batista. E o Edmilson. Além disso, durante o campeonato tivemos surpresas como Eltinho e Peter. Numa competição tão difícil,

é surpreendente jogadores tão jovens darem uma resposta desse nível. Mas, não é fácil acertar sempre e o Paraná terá a pressão de manter a qualidade para se manter entre os primeiros colocados. Com o atual orçamento, o Paraná faz milagre.

Tribuna: Essa identidade com o clube te emociona?

Caio Júnior: Muito. Depois de livrar o Paraná do rebaixamento, eu sempre tinha uma sensação de que um dia voltaria para o clube. Quando o presidente me ligou, pensei: ?Pronto, chegou a hora?. Essa sensação também esteve presente em momentos difíceis, quando eu tinha certeza que as coisas se encaixariam. Tenho uma relação diferente com o clube. Fui o único contratado em 97 e fiz gols decisivos para o título. Em 2002, fui contratado para dirigir os juniores e ajudei a livrar o time do rebaixamento…É algo que vem lá de cima…

Tribuna: E o futuro? Seu e do time?

Caio Júnior: Devo conversar com o presidente na quinta-feira. Quanto ao grupo, teremos que buscar reposição de qualidade. Alguns jogadores vão sair e temos que encontrar substitutos. Vi muito pouco da Série B, mas a diretoria já está trabalhando. O Vavá tem muitas informações, da Segundona e do interior paulista e acho que o trabalho feito nos últimos anos continua. Só que com uma vantagem. Há tempos o clube não tinha tantos jogadores com contratos em vigência para a próxima temporada. O Paraná já tem uma base forte. Nessa procura, é importante que a gente busque jogadores dinâmicos e de muita força. O futebol caminha para isso.

Vaga na Libertadores pra festejar com a galera

Foto: Walter Alves
Flávio é o único jogador do elenco que já disputou a competição internacional.

A duas semanas de seu 17.º aniversário, o Paraná Clube quer dar um presente antecipado à sua torcida. Uma vitória sobre o já campeão São Paulo, hoje – às 16h, na Vila Capanema – seria o marco de uma nova etapa na vida do Tricolor. Após campanhas marcantes nas últimas temporadas, o representante paranaense está a um passo de carimbar seu passaporte para a primeira Copa Toyota de sua história. Uma situação inédita para quase todos, à exceção do goleiro Flávio, que está a 90 minutos de sua terceira Libertadores da América.

Se confirmar a sexta vaga do País na competição continental, o Pantera escreve seu nome na história do futebol paranaense como o jogador que mais vezes defendeu o Estado na maior competição promovida pela Conmebol. Flávio atuou na Libertadores duas vezes, ambas com a camisa do rival Atlético. ?São momentos distintos, mas a motivação é a mesma. O jogador escreve seu nome na história assim, com conquistas, com títulos?, disse Flávio. O goleiro, ranzinza para muitos, não esconde ser exigente ao extremo. ?Não gosto de perder nem coletivo. Cobro mesmo?, afirma o Pantera.

O goleiro não esconde que uma classificação, hoje, teria sabor diferenciado.

?Nas outras vezes, a conquista veio no mata-mata. Agora, seria um prêmio à nossa regularidade?, lembrou Flávio. Em 1999, ele chegou à Libertadores através de um torneio seletivo. ?Ficamos fora dos oito primeiros por um ponto, mas o destino nos levou à Libertadores?, recordou. ?Depois de 37 jogos, nesta última rodada é quase um mata-mata.

É tudo ou nada?, comentou o Pantera.

Flávio prevê um jogo tenso, decidido nos detalhes. ?Foi a tônica deste Brasileiro. Não houve um jogo fácil, nem mesmo aqueles com placares mais elásticos?, disse. O segredo, na avaliação do goleiro, é não deixar se influenciar pela euforia que certamente tomará conta da torcida. ?O estádio estará lotado, a torcida eufórica. Mas, temos que nos blindar quanto a isso?, avisou.

O que antes parecia um sonho distante, transformou-se, ao longo da competição, em ?objeto de desejo?. Por isso, Flávio não precisou, em momento algum, dar algum toque sobre a importância desta conquista ao grupo. ?Todos sabem o que representa para o clube essa Libertadores?, finalizou o Pantera.

Beto está confirmado no meio-de-campo

Um treino rápido pôs fim à dúvida. O capitão Beto passou no teste e garantiu presença na grande decisão. Recuperado de uma contratura na panturrilha, o volante correu, bateu na bola sem receio e deu ao técnico Caio Júnior a tranqüilidade para definir o Paraná Clube com sua força máxima, à exceção do zagueiro Gustavo, suspenso. João Paulo, que está de olho na vaga de titular para 2007, será o seu substituto.

?O Serginho fez bons treinamentos, mas tem características distintas. Com o Beto, o time também ganha experiência?, frisou Caio Júnior. O treinador aposta na sincronia de um time que sempre se superou nos momentos decisivos do Brasileiro. Muito em função do rendimento de seu meio-de-campo, formado por Pierre, Beto e Batista.

?Além disso, essa formação me permite uma variação tática sem a troca de peças?, destacou o treinador.

Ainda com o supercílio esquerdo ?remendado? – foram quatro pontos devido a uma cotovelada sofrida frente ao São Caetano – Beto garante que está em plena forma para comandar o meio-de-campo diante do campeão brasileiro.

No primeiro turno, quando Paraná e São Paulo decidiram o primeiro turno (o clube paulista fez 3×2,

de virada), Beto foi um dos destaques do time, fazendo um dos gols e participando do outro, marcado por Leonardo.

Além de Beto, o treinador também recebeu ?sinal verde? em relação a Eltinho. O lateral chegou a ter escalação ameaçada devido a uma lesão no adutor esquerdo, mas recuperou-se a tempo e foi confirmado na ala esquerda. ?É jogo onde vale todo sacrifício. Estou bem e não perderia essa decisão por nada?, comentou a revelação paranista.

Comissão técnica unida

Cristian Toledo

Um time não se faz apenas com onze jogadores. E um time também não se faz apenas com um técnico. O Paraná Clube tem na comissão técnica um grupo de profissionais que se entrosaram durante a temporada e que forma hoje uma ?turma? homogênea, que conseguiu controlar o elenco em todo o Brasileiro. E que também espera ser ?premiada? com a vaga na Libertadores da América de 2007.

Caio Júnior, inclusive, foi o último a chegar ao Tricolor -todos os outros membros da comissão técnica estão, pelo menos, desde o início do ano, tendo trabalhado com Luiz Carlos Barbieri na conquista do título paranaense.

Júlio César de Camargo é o ?braço-direito? do treinador. Antes, era preparador de goleiros e hoje é indispensável na estrutura da comissão técnica. Quem herdou seu lugar na estrutura tricolor foi Renato Secco, ex-goleiro do Coritiba e responsável pela boa forma de Flávio.

Marcos Walczak, o preparador físico, é quem recebe os maiores elogios dentro do clube. Ele tornou-se uma unanimidade, referendada nesta reta final de Brasileiro com o ótimo rendimento dos jogadores. ?Nosso departamento médico é de ótima qualidade e nossa comissão é maravilhosa?, resume Caio Júnior.

CAMPEONATO BRASILEIRO

Última rodada

PARANÁ CLUBE x SÃO PAULO

Paraná

Flávio; Peter, João Paulo, Edmílson e Eltinho; Pierre, Beto, Batista e Sandro; Cristiano e Leonardo.

Técnico: Caio Júnior

São Paulo

Bosco; André Dias, Edcarlos e Alex Silva; Souza, Ramalho, Richarlyson, Rodrigo Fabri e Lúcio; Thiago e Alex Dias.

Técnico: Muricy Ramalho

Em campo

Local: Durival Britto

Horário: 16h

Árbitro: Alício Pena Júnior (FIFA-MG)

Assistentes: Marco Antônio Gomes (FIFA-MG) e Guilherme Dias Camilo (MG)

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