Tática e técnica

Os europeus já se entusiasmaram. E voltaram a incluir a seleção brasileira entre os favoritos deste Mundial. Tudo porque houve quem arriscasse uns dribles a mais na apertada vitória verde-amarela contra a Turquia, na segunda-feira. Para os franceses do “L?Èquipe”, por exemplo, esta partida foi a melhor do torneio até agora, o que só pode ser reflexo da frustração pelo péssimo início de jornada dos campeões mundiais.

Jogar bonito ou rifar a bola? ? eis a questão levantada ontem em interessante artigo no site oficial desta Copa do Mundo, o www.fifaworldcup.com, com o título ?”Jogo Bonito” leaves Brazil sleepless?. Assim mesmo, com a primeira parte escrito em português, para dizer que o jogo bonito tira o sono do Brasil, especialmente de seu treinador. O interessante balanço do jornalista da Fifa (a matéria não é assinada) remonta aos áureos tempos de veneração do tricampeonato, da “Era Pelé”, que sabia aliar bons resultados a exibições de deixar qualquer um com o queixo caído. E detecta o que nós, por aqui, já sabemos de longe: o jogo bonito morreu com a desclassificação em 1982.

Era um timaço, não era? Mas não ganhou nada além do entusiasmo da opinião pública mundial até o momento da eliminação para a Itália. Era um time que só atacava, atacava e atacava, sem se importar com o que poderia ocorrer lá atrás. Podia empatar, estava empatando, continuou no ataque e ficou sem a vaga.

Desde então, jogo aberto nunca mais. O tetracampeonato foi conquistado na pura disciplina tática, que também vinha funcionando até os problemas da final de 98. A diferença é que agora já nem a tática é bem definida, pois a seleção brasileira tem um sistema de três zagueiros e nenhum deles sabe quem é que deve fazer a sobra. Sendo assim, por falta de um sistema compreensível, há quem arrisque exibir habilidades individuais, o que mexe com o público (europeu, principalmente, pouco afeito à essas coisas), mas nem sempre traz resultados práticos.

Para o site da Fifa, Denilson é o “ball-wizard”, o mágico da bola e todos aguardam ansiosamente pela chegada do segundo tempo para vê-lo em ação. Pois até que me provem o contrário, ele tem o mesmo efeito daqueles malabaristas de intervalo, que somam centenas de embaixadas enquanto o público se reabastece de sanduíche, pipoca e cerveja. Dois, três, quatro dribles e depois? É o apelo à técnica por falta de opção tática?

A visão de fora para dentro acerta no conceito global, mas peca em particularidades como essa. Ou até por imaginar ter sido o Brasil tricampeão somente na técnica, quando aquele time do México tinha um padrão tático muito bem concebido e aplicado pelos craques que participaram daquela conquista.

Talvez neste ponto estivesse a diferença: técnica e tática juntas, harmoniosamente distribuídas, o que parece impossível acontecer nos dias de hoje.

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