Roupeiros do Paraná somam 56 anos de casa

Um já tem 40 – isso mesmo, quarenta – anos de casa. O outro completou 16. Apesar da diferença de idade, trabalham em perfeita sincronia, com o objetivo de garantir todo o conforto para os jogadores. Não apenas nos jogos, mas nas muitas sessões diárias de treinamentos. Um trabalho que passa despercebido por muitos, mas que exige atenção e cuidados especiais com as ?manias? de cada atleta. Orlando Ribeiro e Londre Borges Seixas formam a dupla de mordomos – ou roupeiros – do Paraná Clube, há quase duas décadas.

Com estilos – e temperamentos – diferenciados, dizem que ?se completam?, formando uma tabelinha que vem dando certo. ?Pelo menos não me lembro de um problema maior com qualquer jogador. É um trabalho de apoio, mas que tem importância para os jogadores. Sentindo-se confortáveis, podem render muito mais?, lembrou Londre, a ala ?séria? da dupla. Ele mesmo admite ser mais fechado que o amigo e mentor. ?O Orlando é mais brincalhão e isso quebra o gelo com o grupo de jogadores. Acho que conseguimos trabalhar com todos na medida certa.?

Orlando Ribeiro, 62 anos, pensa da mesma forma. E fala do alto de seu profundo conhecimento do dia-a-dia de um clube de futebol. ?Tenho uma vida aqui no Paraná, desde os tempos de Ferroviário?, recorda. O início de sua carreira é até curioso. ?Sou de Canoinhas. Um dia, o Ferrovário foi fazer amistoso lá e estavam sem um roupeiro. O Maçaneiro, superintendente do clube, pediu para eu dar uma mão e depois me convidou para vir para Curitiba. Desde então, estou aqui, na Vila Capanema?, lembra-se, com saudosismo.

?Até me emociono em falar, pois é uma vida nesse clube. Foi assim que criei meus filhos e tenho muito amor pelo Paraná?, disse Orlando. O segredo para a longevidade no clube, Orlando tem na ponta da língua: ?Trabalhar com honestidade?. Mesmo com acesso a muitos detalhes de bastidores, evita falar sobre o que ?rola? nos vestiários. ?Faço o meu, sem me intrometer no trabalho dos outros?, disse Orlando, garantindo que nunca deu uma ?cornetada? sobre time, jogador ou treinador de futebol.

Londre Seixas, 40 anos, chegou ao Paraná em 1991. Inicialmente para trabalhos gerais na Vila Olímpica do Boqueirão. Mas na ausência de um mordomo no infantil do clube, ?quebrou um galho? e no ano seguinte já estava no profissional, como auxiliar de Orlando. Além do entrosamento, ambos concordam que o futebol mudou muito nos últimos anos. Mesmo com algumas ?manias?, não há mais a superstição de antigamente. E, diante da maior rotatividade, o tratamento ficou mais profissional, menos ?familiar?.

?Antigamente, era um tal de colocar arruda ou santinho na meia de muito jogador?, lembra Orlando. ?O Régis, por exemplo, se alguém metia a mão na luva dele, ele não a usava mais?, disse Ribeiro. Já Londre, recordou do meia – e hoje técnico – Tadeu Martins. ?Primeiro que ele não usava a camisa 7, nem a 16, por nada. Além disso, tinha cinco pares de chuteiras. Se você levava só quatro, ele queria sempre a que tinha ficado no clube?, contou Seixas. ?Mas hoje já não tem mais disso, não?, garantiu.

Mais do que funcionários, Orlando e Londre são companheiros do grupo. Sofrem com cada derrota, com cada momento difícil. ?Quando a gente chega numa maré como essa, vem um filme na sua cabeça. Mas creio que como em 2002 e 2004, vamos virar o jogo?, disse Londre. Orlando, quase como um paizão dos garotos que chegam das categorias de base, também demonstra preocupação, mas diz confiar na garotada. ?O Paraná já mostrou que tem qualidade. Vamos sair dessa, com a união do grupo?, finalizou o mordomo paranista.

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