Reginaldo Vital tenta recuperar a forma e a vida no futebol

Um esportista de talento inquestionável experimenta a glória, mergulha em dramas pessoais, despenca com a mesma rapidez que conheceu a fama e, quando ninguém mais lhe dava crédito, reúne forças para tentar a volta por cima. Parece o resumo de um filme hollywoodiano, com a diferença de que o final ainda está por ser escrito pelo candidato a protagonista: José Reginaldo Vital, 31 anos.

Como um Rocky Balboa do futebol, Vital decidiu espantar a aposentadoria precoce para dedicar-se ao retorno. Mas a volta após um ano e meio de inatividade não é um caminho florido. Todos os dias o ex-jogador de Paraná, Atlético e Coritiba toma um ônibus e mistura-se aos corredores anônimos do Parque Barigüi com o amigo Bruno, o preparador físico das categorias de base do Paraná Clube, que o ajuda gratuitamente. Quando o ?personal trainer? tem compromissos no clube, o meia faz os exercícios indicados por ele ou procura uma academia perto do apartamento onde mora, no centro de Curitiba. Apesar do esforço de manhã e de tarde, os quilos em excesso ainda são visíveis. ?Acho que em 10 dias estarei no meu peso ideal?, anima-se, numa projeção nitidamente otimista.

Entre abril de 2006, quando deixou seu último clube (o Joinville), e meados de agosto de 2007, a inatividade só não foi total por causa de algumas peladas com amigos. Só nas duas últimas semanas Vital resolveu retomar a forma. Desta vez, jura que é para valer. ?Muita gente acha que não tenho condição de voltar a jogar. Quero provar pra mim mesmo que posso?, afirma. O foco é a temporada 2008, seja onde for.

Pessoas do círculo íntimo do jogador exaltam a tentativa de retorno. ?Ele é um bom garoto e tem bola pra jogar em qualquer time do Brasil. Pena que os problemas pessoais atrapalharam bastante?, diz o comentarista Dionísio Filho, espécie de conselheiro de Vital desde o início da carreira.

Para o empresário Braz Aguiar, que tenta recolocar Vital no mercado pela amizade com o jogador, o meia foi mais uma vítima do deslumbramento dos novatos com a fama. ?Tudo aconteceu muito rápido com ele. E quando tentou voltar no Joinville, não deu tudo de si. Agora, com a filha, amadureceu e realmente está a fim?, aposta.

Vital revela que as sessões no Barigüi ou em academias continuam até que arrume um clube. Enquanto isso, treina para chegar bem condicionado em janeiro. ?Alguma coisa vai aparecer?, confia. A inspiração para a reconquista dos gramados responde pelo nome de Maria Letícia, dois anos, a filha que vive com a mãe. ?Quando era sozinho, era diferente. Tenho que dar uma vida melhor a ela?, diz o obstinado Vital. ?Não se pode julgar pelo que passou. Ele só precisa de um treinador corajoso e de força de vontade?, opina o procurador. O final feliz só depende do personagem principal.

Uma trajetória de glórias e desilusões

Quando despontou no Paraná Clube, em 1997, Reginaldo Vital rapidamente impressionou. Volante que aliava força física, técnica refinada e um chute potente e preciso, logo virou titular e xodó da torcida tricolor. O menino pobre que ajudava a família trabalhando como servente de pedreiro em Jacarezinho, no Norte Pioneiro, vestiu a camisa 10, foi capitão e marcava muitos gols, mesmo atuando em função defensiva.

Cobiçado por vários clubes, acabou negociado com o Gamba Osaka, do Japão. Apesar de conviver com contusões, também brilhou na terra do Sol Nascente.

Parecia o início de uma trajetória de sucesso. Mas um casamento mal-sucedido, problemas de saúde que o impediam de manter o preparo físico e algumas lesões viraram de ponta-cabeça a carreira de Vital. Ganhou uma chance no Atlético em 2002, voltou ao Japão em 2003 e em 2004 recebeu nova oportunidade, no Coritiba. Na dupla Atletiba mostrou lampejos da velha categoria, mas só quando conseguia manter a forma. Como isso era raro, saiu sem deixar grandes saudades. No ano passado, o técnico Sérgio Ramirez o levou  ao Joinville. O time foi à final do Catarinense, mas Vital não seguiu em Santa Catarina e está desde abril de 2006 sem jogar.

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