Real Brasil vira caso de polícia

Das páginas esportivas para policiais. Esse é o rumo que está tomando o Real Brasil CF Ltda, de propriedade do empresário e presidente Aurélio Almeida. Ontem aconteceu mais um capítulo tenso e confuso da recente história da equipe que disputou a Série A do Campeonato Paranaense, e por irregularidades no registro de um jogador, foi rebaixada e suspensa por um ano. A proprietária do Aymoré Hotel, Maria Helena Batista, chamou a polícia, fez um boletim de ocorrência por falta de pagamento dos 54 ?hóspedes?, que arrendaram o estabelecimento por quatro meses. A água e luz do hotel já foram cortadas duas vezes nesse período. Ontem a porta do restaurante, que está terceirizado, e sob a responsabilidade do Real Brasil, foi fechada pela dona do hotel. Depois o acesso do restaurante foi normalizado.

Lista dos jogadores no hotel.

Na realidade a queixa é contra o Real Brasil, que está instalado no hotel, no centro de Curitiba, desde 5 de janeiro deste ano. O clube fez um contrato de locação do hotel por um período de quatro meses – até o término do Campeonato Paranaense. O hotel tem 29 apartamentos, sendo que 27 deles estariam cedidos para o Real Brasil. Junto com o time profissional, estão hospedados também no local os atletas que participam do ?Projeto Profissional do Futuro?, que pagam para treinar e jogar nas categorias de base do clube. A partida dos juniores contra o Atlético Paranaense, que aconteceria neste final de semana, na estréia da Copa Tribuna, foi cancelada.

A ação da polícia na manhã de ontem chamou a atenção de todos, inclusive do presidente do clube, que depois de algum tempo, voltou a manter contato, por telefone, com a proprietária do Aymoré, prometendo quitar as dívidas com o hotel, que estariam em torno de R$ 90 mil.

No final da tarde outro desdobramento da ação. Alexandre Chemin, advogado do Real Brasil, compareceu ao hotel para conversar com Maria Helena, e uma advogada que representa o Aymoré. No encontro uma nova promessa. Segundo Alexandre Chemin, um carro da marca Mercedes, avaliado em torno dos R$ 30 mil será entregue hoje como pagamento de parte da dívida do hotel. ?Só vou acreditar quando isso realmente acontecer. Já escutei umas 350 promessas do Aurélio?, disse Maria Helena. O acordo será selado no começo da tarde, após registro em um cartório de Curitiba, assim como o parcelamento do restante da dívida.

A Tribuna já havia noticiado o problema na edição de sábado. A proprietária do hotel disse que ?estava tentando buscar uma solução amigável para o pagamento da dívida?. Mas pelo ocorrido ontem, a paciência de Maria Helena se esgotou. Outros credores do Real Brasil, como panificadora, açougue e lavanderia também deverão seguir o mesmo caminho.

Dono do Real Brasil sumiu

Procurado novamente ontem pela reportagem da Tribuna, Aurélio Almeida, presidente do Real Brasil, não foi encontrado. Na noite da última sexta-feira (14/3), após saber que a reportagem havia entrevistado jogadores e a dona do Aymoré Hotel, o dirigente telefonou para a Tribuna para dar a sua versão, prometendo apresentar documentos que comprovariam que o ?clube já havia pago o hotel?. Na ocasião Aurélio Almeida afirmou que ?estaria viajando para o México?, onde diz manter negócios com o Puebla, e que no seu retorno, ?na segunda-feira, dia 17, voltaria a conversar com a reportagem?. Até ontem à noite, o folclórico cartola não havia dado notícias.

Saída seria o Chico Beltrão?

Enquanto a nova pendenga com o hotel toma outros desdobramento, os jogadores que ainda esperam receber seus salários, e que destino poderão tomar, continuam sem saber o que fazer. Ontem circulou uma notícia, vinda de um empresário ligado ao clube, que ?parte dos atletas dos profissionais seriam emprestados ao Francisco Beltrão?. A equipe do Francisco Beltrão, do sudoeste do Estado, disputará a partir de 20 de abril, a Divisão de Acesso, a 2.ª Divisão do Campeonato Paranaense. Na conversa por telefone na sexta-feira, o presidente do Real Brasil disse que estaria negociando o empréstimo de alguns jogadores para o J.Malucelli. No Jotinha a notícia não foi confirmada.

Projeto dos piás sustenta o clube

Arquivo
Aurélio Almeida, presidente do Real Brasil.

Como funciona o esquema Real Brasil FC: O clube-empresa que já passou por quatro cidades -Prudentópolis, Maringá, Toledo, e agora Curitiba/São José dos Pinhais, atua em duas frentes.

Na primeira dando oportunidade para atletas considerados profissionais buscarem um lugar ao sol, mostrando suas atribuições e que talvez possam interessar a outros times. Parte do dinheiro para manutenção das atividades do clube viria dessa negociação.

Outra que sustenta os períodos de ?vacas-magras?, seria tirada do chamado ?Projeto Profissional do Futuro?, onde novos atletas buscariam projeção nas chamadas categorias de base, disputando campeonatos de juniores, entre outros torneios. Mas para participar do projeto, o interessado deverá pagar R$ 8.800 pelo período de um ano. Nesse valor estariam incluídos treinamentos, e todas as despesas de alojamento, alimentação, cuidados médicos, viagens. Caso o atleta não disponha do valor total, seria dada a opção de pagar 50% desse valor integral – R$ 4.400, e o restante seria parcelado em duas vezes – R$ 2.200 – sendo a primeira para 30 dias, e a outra parte para 60 dias, no cheque ou boleto bancário.

Ainda na proposta apresentada pelo Real, uma cláusula no mínimo curiosa: ?Em caso de não ter condições físicas, ou técnicas para profissionalização do atleta, o dinheiro investido será devolvido integralmente no final do contrato. Neste caso o atleta deve ter cumprido todo o contrato de 1 ano e ter feito o pagamento em dia.?

Outra promessa da direção do clube-empresa é que ao final do período de treinamento, ?o Real Brasil garante ao jogador a profissionalização, em contrato?. A profissionalização pode também acontecer antes de findar um ano, ?se assim as comissões técnicas das equipes principal, sub-20, juniores ou juvenil avaliarem e se o atleta tiver no mínimo 16 anos?.

Porém, o que apurou a reportagem da Tribuna é que vários dos jogadores inscritos no projeto pagaram somente parte dos valores citados acima, variando de R$ 800 a R$ 1.200. Outra constatação feita pela reportagem é que muitos dos cheques destinados ao Real Brasil serviram de moeda de troca para o pagamento de outras dívidas do clube. Outros cheques pré-datados começaram também a ser sustados pelos pais dos atletas.

O treinamento dos jogadores e atletas do Real Brasil acontecem, quando acontecem, no Parque Barigüi, e no Estádio do Pinhão, no Xingu, em São José dos Pinhais, onde o time principal mandou seus jogos nesta temporada.

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