Quem está sedado?

Mesmo na cama de um hospital, Alex Mineiro não perde o bom humor. Triste, ferido, mas sem mágoas, o maior artilheiro do Brasil na temporada aguarda pela cirurgia que vai corrigir as fraturas no nariz e no maxilar, sofridas no empate entre Atlético e Grêmio, no último sábado. E já se prepara para três longos meses longe da bola.

Para Alex, não há culpados pela grave contusão. ?Foi um lance normal de jogo?, lamenta. Nem mesmo o dono da chuteira que atingiu violentamente seu rosto, em uma dividida na pequena área. ?O Tcheco está isento de qualquer culpa. Não houve intenção nenhuma e, mesmo que tivesse, ele não iria conseguir fazer um estrago como esse?, brinca o goleador, inocentando o meia gremista.

Alex Mineiro quase não jogou em Porto Alegre. Aos 10 minutos do 1.º tempo, após a cobrança de um escanteio, ele mergulhou de peixinho. Ao invés da bola, encontrou o pé direito de Tcheco, que tentava afastar o perigo da área gremista. ?Só senti um impacto muito forte. Pelo relato do doutor, na hora eu não estava respondendo muito bem. Mas na maca já estava vendo tudo. Vi que sangrava bastante e o médico me falou sobre a suspeita de fratura?, relembra.

O atacante soube da visita de Tcheco ao hospital para onde foi levado, em Porto Alegre. ?Eu estava na sala de emergência e não deixaram ele entrar. Depois ele ligou pedindo desculpas, mas nem precisava?, afirma Alex, numa postura que contrasta com a reação dos diretores do Atlético, que ameaçam processar o jogador gremista.

Visita

Esse é o estilo Alex Mineiro. ?Boa praça?, ele é querido até por jogadores de clubes rivais do Furacão. Ontem à tarde, quando a reportagem da Tribuna visitou o artilheiro, encontrou no quarto do hospital o meia Chumbinho, do Coritiba. Alex e Chumbinho se conheceram no Japão. No ano passado, os dois defenderam a equipe do Kashima Antlers.

Nota sobre reportagem da Tribuna do Paraná

Na última quarta-feira, o jornal Tribuna do Paraná publicou matéria que fere os mais elementares princípios da ética, do bom senso e do respeito à pessoa humana. Ao desprezar a combalida situação do estado de saúde do jogador Alex Mineiro, um repórter do jornal invadiu o seu quarto do hospital onde está internado para extrair-lhe mediante fraude uma ?entrevista exclusiva?. O resultado dessa invasão de privacidade foi a matéria de profundo mau gosto que ofende a dignidade do indivíduo indefeso, semi consciente, sedado e traumatizado por conta da agressão sofrida no jogo em Porto Alegre. A atitude ofende aos leitores do próprio jornal, na medida em que os equipara a um sedento bando de notícias fantasiosas para aguçar-lhes a imaginação sobre a desgraça alheia. Ofendeu a direção da Tribuna do Paraná nivelando-a condição (sic) de abutres e mais ainda, atingiu o conceito da empresa de comunicação que sustenta um veículo que deveria respeitar aqueles que o prestigiam. Essa reportagem da quarta-feira, portanto, foi o resultado de um ato desumano aliado à falta de caráter de um repórter capaz de qualquer coisa para conseguir uma matéria exclusiva, uma chamada de capa do jornal e quem sabe, atender cego e submisso, quaisquer ordens superiores por mais incoerentes e absurdas que fossem.

Como é de conhecimento da imensa torcida atleticana, o atacante Alex Mineiro está hospitalizado devido às inúmeras fraturas que sofreu em seu rosto. O atleta, devido aos ferimentos, vem sendo medicado todos os dias, desde o último fatídico sábado, para conseguir suportar as dores que sente.

Devido a tudo isso, o jogador do Atlético Paranaense ainda não havia se submetido à cirurgia de reconstrução da face. Desta forma, por causa dos medicamentos, os médicos do clube orientaram repouso total ao atleta, para que ele ficasse em condições de passar pelos procedimentos cirúrgicos. Independente disso, qualquer ser humano, com o mínimo de bom senso, jamais pensaria em incomodar uma pessoa nas condições em que o jogador se encontra.

Mesmo assim, uma lauda de jornal está acima de qualquer coisa. Está acima das condições humanas. Vale tudo, inclusive, invadir a privacidade de um ser humano, e no caso de Alex Mineiro, conseqüentemente, de seus familiares, do clube e também da torcida do Atlético Paranaense, que torce e reza pela recuperação mais rápida possível do ser humano e atleta.

Além de violar o repouso do jogador, que se encontra sedado para suportar o trauma sofrido recentemente, o repórter da Tribuna do Paraná usou de má-fé para conversar com Alex Mineiro. Afirmou ao atleta que o clube havia autorizado a entrevista, faltando com a verdade e abusando das condições psicológicas do atacante.

Alex Mineiro, como é de conhecimento de todos, é altamente generoso, simpático e educado e, na sua elegância e generosidade, mesmo sedado e com poucas condições de falar, concedeu a uma entrevista sem a necessária consciência de suas palavras.

Cabe a reflexão dos torcedores do Atlético Paranaense se esse era o momento de importunar o atleta por uma mera notícia de jornal. Se, após tudo o que o jogador passou, sendo hospitalizado em uma UTI, viajando em uma aeronave UTI Móvel Aérea e às vésperas da realização de uma delicada cirurgia, Alex Mineiro tinha condições psicológicas de conceder uma entrevista, sendo que o repórter já foi com intenção de retirar determinadas palavras da boca do jogador para ter a sua ?manchete? do dia.

O Atlético Paranaense, novamente se solidariza com o ser humano Alex Mineiro e seus familiares, pelo constrangimento causado por um repórter desumano, preocupado apenas com sua ?matéria?. É uma pena que o lado humano sempre seja deixado de lado por causa de uma notícia. O que importa é vender jornal, é Ter uma manchete na manhã que cause impacto, independente de qualquer outra coisa. É uma pena que a privacidade de Alex Mineiro, que atravessa um momento difícil, tenha sido violada, simplesmente, pela cobiça de um jornal que não respeita sequer a si próprio.

O pedido de esclarecimento ou resposta nem foi feito oficialmente, mas a Tribuna faz questão de publicar o texto estampado na página oficial do Clube Atlético Paranaense, sob o título ?Nota sobre a reportagem da Tribuna do Paraná?. Até porque, a maioria dos leitores não tem acesso à internet. A nota é de uma ingenuidade cabal, mas, ao publicá-la, quero repassar ao leitor o ofício de analisá-la e fazer seu próprio juízo. Pra facilitar, repetimos, ao lado, a matéria tão criticada por não sei quem, pois ninguém se dispôs a assinar o texto atleticano. Será a instituição Clube Atlético Paranaense se prestando a decidir se Alex Mineiro estava ou não em condições de falar? Quero só lembrar que o repórter Cahuê Miranda esteve no Hospital Santa Cruz por volta das 17h da última terça-feira, portanto, horário normal de visitas aos quartos particulares. Se identificou na portaria, uma exigência do hospital, junto com o fotógrafo Ciciro Back. Ambos devidamente paramentados com seus crachás funcionais do Grupo Paulo Pimentel e demais equipamentos de uso profissional. Foram autorizados a seguir até o quarto do ídolo atleticano, que os recebeu com toda a educação que lhe é peculiar.Agora, amigo leitor, leia os dois textos e tire suas conclusões sobre ?invasão de privacidade, mau gosto, ofensas, absurdos, bom senso…?

Boa leitura.

Rafael Tavares Diretor de Redação

Alex Mineiro pra presidente

Julio Tarnowksi Jr.

Alex Mineiro já tem futuro garantido quando largar a bola nos gramados. O atacante poderá se tornar dirigente. De clube, ou mesmo de alguma entidade ligada ao futebol. Por que falo isso? Simples, é só conversar com o jogador. Mineiro de Belo Horizonte, Alex é tranqüilo para expor suas idéias e convicções. Na última terça-feira,a Tribuna foi entrevistá-lo para saber qual a sua opinião sobre a grave contusão que o tirou da partida contra o Grêmio, e o deixará quase três meses sem participar de uma partida.

Ao contrário do que todos poderiam esperar, e sem a irritante e burra ?blindagem? que tentam impor aos jogadores do Atlético, Alex Mineiro considerou ?lance de jogo? o seu incidente no Estádio Olímpico. Pra tapar a boca dos cartolas falastrões, isentou o meia Tcheco de culpa, e tirou de letra e com muito bom humor ?o acontecimento?. ?Não houve intenção nenhuma, e mesmo que tivesse, ele não iria conseguir fazer um estrago como esse?, disse ele ao repórter Cahuê Miranda.

As declarações do atacante, dadas ainda no hospital onde fez ontem a cirurgia no nariz e maxilar, e publicadas na quarta-feira, colocaram uma ducha de água fria na ?indisposição e clima de guerra? criados por dirigentes para o jogo de volta contra o Grêmio, no 2.º turno. Coincidência ou não, poderá ser exatamente diante do tricolor gaúcho, a data do retorno – 31 de outubro -, de Alex Mineiro no Brasileirão.

Mostrando a mesma serenidade e tranqüilidade que o levaram a ser um dos ídolos na história do Rubro-Negro, e ter empatia com a torcida do Furacão, Alex Mineiro deu ?força? para os companheiros de time, e que podem ocupar o seu lugar nos próximos 90 dias. ?São jogadores de qualidade, e vou torcer para que eles façam um bom trabalho?, disse o goleador, dando a entender que gostaria que a torcida também compartilhasse com ele essa esperança.

Pena que os cartolas também não tenham tido a mesma serenidade para avaliar o lance do jogo em Porto Alegre. A grita parece mais tentar esconder algo que o torcedor já parece ter identificado: a falta de competência pra montar um time competitivo, que encante, dê alegrias e novamente volte a encher o Joaquim Américo.

Alex Mineiro fará falta tanto nos gramdos quanto fora deles, para contrastar com alguns cartolas destemperados.

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