Preços dos ingressos de futebol na capital paranaense subiram 136%

Cada vez mais, assistir futebol ao vivo se torna privilégio das camadas mais ricas. Cálculos do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) apontam que o ingresso é um dos maiores vilões da inflação em Curitiba. O aumento de mais de 100% somente em 2006 mostra a gradual elitização do esporte no Brasil.

O Ipardes constatou que o preço da entrada de futebol aumentou 72,9% nos últimos 12 meses (entre agosto de 2005 e julho de 2006). No acumulado do ano, a inflação futebolística foi ainda maior: 136%.

O inchaço tornou o futebol o quinto item que mais pressionou a inflação na capital paranaense de janeiro a julho de 2006, atrás apenas de remédios, carros usados, aluguel e conserto de veículos. Dentro do grupo ?despesas pessoais?, que engloba lazer e educação, o ingresso teve o maior impacto individual sobre a taxa no ano. Os cálculos são baseados no preço médio do ingresso cobrado pelos três clubes de Curitiba, independentemente da competição e considerando o tamanho das torcidas.

O Ipardes avalia a flutuação de preços de 340 produtos e serviços para calcular a inflação com base no IPCA – o mesmo índice aplicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). ?Vale lembrar que o futebol tem peso muito pequeno no cálculo da inflação, pois não é item prioritário. O ingresso só teve influência porque o aumento foi muito grande?, observa o economista Gino Schlesinger, do Ipardes.

Mas há algumas ressalvas nestes números. No ano passado, o preço médio do futebol baixou porque Paraná e Coritiba venderam seis jogos cada um para a Nestlé – nestes casos, o instituto considerou como valor do ingresso o preço do achocolatado trocado pela entrada (pouco mais de R$ 3). Em 2006 o Coritiba não aderiu mais à promoção porque caiu para a Série B e o Paraná fez apenas um jogo patrocinado pela empresa, diante do Cruzeiro.

De qualquer forma, os três clubes de Curitiba promoveram reajustes nesta temporada. O Paraná aumentou a entrada única de R$ 15 para R$ 20. O Coritiba reajustou a cadeira superior de R$ 60 para R$ 100, e o Atlético majorou as retas atrás dos gols (R$ 20 para R$ 25) e as cadeiras inferiores da Getúlio Vargas (R$ 30 para R$ 40). E nos últimos anos os valores já vinham registrando alta.

Preços elevados têm sido prática comum no País. Em São Paulo, os ingressos subiram 21,84% no acumulado de 12 meses até julho passado – também foi o maior índice da categoria serviços. Desde o início do Plano Real, em julho de 1994, os preços das entradas para jogos de futebol na capital paulista acumulam alta de 292,65%, contra uma inflação de 166,35% no mesmo período. O estudo foi da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), que calcula o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Elitização, caminho sem volta

O Atlético pode ser considerado precursor da onda de ingressos caros no futebol nacional. No início do Brasileiro de 2004, a diretoria rubro-negra dobrou o preço da entrada média de R$ 15 para R$ 30, provocando uma série de reações indignadas da torcida. A Justiça interveio e reduziu o preço, que depois acabou majorado novamente, mas com divisão em setores.

A política, porém, ficou e aos poucos a maioria dos times do País aderiram à tendência. Hoje, o Juventude também cobra arquibancadas a R$ 30, e clubes como o Figueirense têm entradas mais baratas a R$ 20 (sem contar o meio-ingresso) – preços inimagináveis há poucos anos.

O próprio Atlético tem setor mais em conta a R$ 25 e ostenta a maior média de público entre os times da capital em 2006, com mais de 10 mil pagantes por jogo.

José Carlos de Miranda, presidente do Paraná Clube – que também cobra R$ 20 pelo bilhete mais barato – diz que a elitização do esporte é um caminho sem volta. ?O futebol se profissionalizou, os salários são altos. Além disso, a população cresceu e a capacidade dos estádios diminuiu, por força da legislação. Aos poucos o público nos estádios será composto por quem tem mais dinheiro?, acredita. Na reinauguração da Vila Capanema, em 20 de setembro, o Tricolor cobrará de R$ 30 a R$ 60, mas promete reduzir os valores nas partidas seguintes em seu estádio.

Mas há vozes dissonantes nesta tendência.

O presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, questiona o Ipardes, que constatou aumento médio de 136% no preço dos ingressos de futebol na capital paranaense este ano. Como o instituto considera o preço das entradas em todos os setores, o valor médio no Couto Pereira subiu por causa do reajuste nas cadeiras superiores (de R$ 60 para R$ 100).

?O Coritiba mantém o mesmo valor há três anos. As cadeiras só subiram para não ficarem mais caras que o valor mensal pago pelos proprietários das cativas. Além disso, dos nossos 40 mil lugares, só há mil cadeiras. Se este é o parâmetro do Ipardes, é errôneo?, contesta Gionédis, que discorda da tese de que os ingressos aumentarão gradativamente no futebol.

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