Parreira dá liberdade aos jogadores para numeração

Maracaibo, Venezuela (AE) – Antes do confronto com a Venezuela e já preocupado com os jogos restantes do Brasil este ano pelas Eliminatórias do Mundial de 2006 (contra Colômbia e Equador), o técnico Carlos Alberto Parreira fez pelo menos uma revelação nesta entrevista à Agência Estado, concedida no Hotel Del Lago, em Maracaibo.

Disse que não se envolve na escolha do camisa 10 da seleção e que ela vem sendo vestida por Ronaldinho Gaúcho a pedido do próprio craque do Barcelona. “Acho que está muito bem entregue. A camisa 10 simboliza talvez o grande jogador do time. Se ela for entregue ao Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho ou ao próprio Kaká, estará sempre em boas mãos. Mas não é escolha minha.”

O treinador afirmou que não considera importante o primeiro lugar nas Eliminatórias e manifestou sua admiração pelo futebol de Kaká. Projeta para o jovem ídolo do Milan um futuro brilhante e destacou uma série de qualidades do ex-craque do São Paulo. “A técnica, a inteligência para jogar, a presença, o poder de cobrir, de vir ajudar na marcação.”

Sobre a última, Parreira atribuiu o aprendizado ao Milan. O técnico acredita que Kaká, em breve, ainda vai ganhar mais notoriedade. “Ele já quase conquistou a Europa. É hoje uma das grandes figuras do futebol italiano.” Parreira abordou outros temas, relacionados à seleção e falou do Campeonato Brasileiro e da hegemonia do futebol do País.

Agência Estado – Qual a importância de ser o primeiro das Eliminatórias do Mundial de 2006?

Carlos Alberto Parreira – Nenhuma. A gente quer a liderança até por uma questão de Brasil, de se impor, de ser o pentacampeão do mundo. Mas sabemos que não é tão importante assim. Nas últimas eliminatórias, não obtivemos boa colocação e a Argentina terminou na frente. Veio o Mundial, os argentinos foram eliminados na primeira fase e o Brasil conquistou o título, invicto, com uma campanha maravilhosa.

Agência Estado – Você dispõe de um reserva, Adriano, incluído em lista recente da Fifa como um dos melhores do mundo. Como lidar com isso?

Parreira – Não vejo como reservas muitos do grupo da seleção. O Adriano é um deles, o Lúcio também. Tenho de procurar o equilíbrio do time, então sobra sempre alguém. O Adriano é uma alternativa boa. Infelizmente não posso começar a partida com 13, com 15 jogadores.

Agência Estado – A camisa 10 da seleção tem sido vestida ultimamente por Ronaldinho Gaúcho. Foi decisão sua?

Parreira – Ela é exemplo de excelência, referência de grandes jogadores que se consagraram ao longo da história, como Pelé, Maradona, Platini, Zico. Hoje, a camisa 10 simboliza talvez o grande jogador do time. Se ela for entregue ao Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho ou ao próprio Kaká, estará sempre em boas mãos. O Ronaldinho Gaúcho vinha atuando com a 7. Nos últimos três jogos, na dúvida de quem ia vesti-la, ele falou: “Eu quero a 10”. Acho que está muito bem entregue. Mas não é escolha minha, não me envolvo nisso, nunca me envolvi, não faço a menor questão. A gente já tem tanta preocupação, tantos problemas, deixo o Américo (Faria, supervisor) resolver com os jogadores.

Agência Estado – Pelo retrospecto de títulos e resultados expressivos, o Brasil teria potencial para se manter na hegemonia do futebol por muitos anos?

Parreira – A hegemonia vai ser de fato, exercida por pelo menos 10 anos. Se for com títulos, melhor. A gente quer voltar a ser campeão, o hexacampeonato. Mas temos de ter a certeza, a convicção, de que não vai ser fácil ganhar na Alemanha (a Copa de 2006). Os europeus vão fazer de tudo para que o Brasil não vença de novo, e na Europa. Por outro lado, temos uma equipe muito boa, com vantagem de que 95% do grupo já joga no continente europeu.

Agência Estado – A perda de Edmílson, vítima de grave lesão de joelho e que ficará sem jogar pelo menos seis meses, pode representar mudança também a médio e longo prazo na seleção?

Parreira – Quando o futebol brasileiro começa a renovar e a mostrar valores jovens é porque o espaço foi aberto por quem saiu. É a lei natural dessa renovação. E isso vale para a seleção. Temos o Gilberto Silva, que deve voltar ainda este ano ou no começo de 2005 (está com problema nas costas) e o Renato, que fez uma Copa América muito boa na posição e vem despontando como um novo conceito de volante. É aquele jogador sem a pegada de um Dunga, de um Mauro Silva, mas que sabe se posicionar, sabe roubar a bola, sabe marcar, com elegância, com técnica. Se você perde num aspecto, ganha em outro. Com o afastamento do Edmílson pode ser aberta sim uma vaga, sem dúvida. O próprio Magrão, que veio nesse rastro da contusão do Gilberto Silva, é outro jogador de qualidade. Ele treinou muito bem na equipe reserva nesses últimos dias em Teresópolis.

Agência Estado – Na seleção, nota-se um cuidado especial da comissão técnica com o Kaká. Pode-se projetar para ele um futuro tão grandioso como o dos grandes craques do futebol brasileiro?

Parreira – Ele já quase conquistou a Europa. É hoje uma das grandes figuras do futebol italiano. No Milan, é uma personalidade, uma atração, uma estrela. Com apenas 22 anos e um ano de Europa. Está começando a trilhar um caminho bonito na seleção brasileira. Evidente que ainda não tem uma história de afirmação. Mas eu acho que ele pode chegar lá. Repito, tem apenas 22 anos.

Agência Estado – Você vê qualidades que diferenciam o Kaká?

Parreira – A técnica, a inteligência para jogar, a presença, as alternativas que proporciona, as jogadas que ele faz, não só na conclusão, como na armação, no lançamento, no toque. E ele hoje acrescentou uma coisa que ajuda muito o seu futebol: o poder de cobrir, de vir ajudar na marcação. Não foi na seleção que aprendeu isso, foi no Milan. Acabou facilitando o nosso trabalho aqui. Isso tudo o torna um jogador quase que completo. Muito bom mesmo. E, além disso, vem de boa formação, tem personalidade, uma vida regrada, centrada, presa à família. Portanto, dispõe de todas as ferramentas para se tornar um grande ídolo.

Agência Estado – O que falta para Kaká se tornar um jogador completo?

Parreira – Maturidade, experiência. Com 22 anos, evidentemente, ainda não tem isso. O próprio caminho na seleção; ele ainda não tem uma história na seleção. Está começando a se firmar, a ser um ídolo também na seleção, o que aqui ele divide com Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo e outros grandes jogadores. No Milan, já está à frente.

Agência Estado – O campeonato brasileiro vai ficar polarizado entre Santos e Atlético Paranaense até a última rodada?

Parreira – Não vejo uma terceira força capaz de ameaçá-los. Pela posição que atingiram na tabela, pela maneira como vêm atuando. São os mais consistentes, os mais regulares, tecnicamente os melhores. A não ser que haja um desastre total, que algum deles perca três, quatro partidas seguidas, o que eu acho muito difícil.

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