Histórias sem fim

Entre idas e vindas, Saulo passou quase dez anos no Paraná e viveu de tudo

Saulo já foi técnico do Tricolor em 2003 e entre 2007 e 2008. Foto: Valterci Santos/Arquivo/Tribuna do Paraná

O Tigre da Vila – apelido dado a Saulo pelo então narrador Carneiro Neto pela boa técnica e muito vigor físico, que lembrava um felino – contou que seu faro de matador não é fruto do acaso. O ex-camisa 9 do Paraná Clube garantiu que se dedicava muito além do exigido pelos técnicos para poder estar em alto nível.

“Eu tinha uma coisa que poucos jogadores tiveram: determinação após os treinos. Eu trabalhava todos os dias cabeceio e finalização. Você pode ter o dom de jogar bola, mas se você não aperfeiçoar, não vai chegar ao ápice. Eu treinava bastante. Não foi por acaso não”, afirmou.

Saulo lamenta o fato de hoje faltar identificação dos jogadores com os clubes e, por isso, acha praticamente impossível que sua marca seja superada.

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“Eu fiquei de 1991 até 1996 no Paraná, com alguns empréstimos. Hoje o jogador vem, fica três ou quatro meses e vai embora. Não tem mais a identidade com o clube. Eu acho que nesses 100 gols, ninguém mais vai chegar, não por falta de qualidade, mas pela questão do tempo. Dificilmente alguém vai quebrar esse recorde que eu tive”, cravou.

Calou a Fonte Nova

Entre tantos momentos especiais vividos dentro do Paraná, Saulo tem o seu preferido. Para ele nada irá superar o título de campeão brasileiro da Série B de 1992, em cima do Vitória, na Bahia. Com a torcida adversária abarrotando a Fonte Nova, Saulo marcou o gol da conquista – para ele o mais importante de sua carreira – e silenciou a festa baiana.

“Eu tive a felicidade de fazer o gol do título e conseguimos calar mais de 80 mil pessoas na Fonte Nova. Quando entramos em campo, eu olhei pra arquibancada lotada e falei pro Adoilson: estamos perdidos”, afirmou ele, recordando o momento de muita ansiedade.

“Mas estávamos tão concentrados, que eu falei: não vamos sair daqui sem o título. E tivemos aquela felicidade de levar o Paraná à primeira divisão jogando bem. Fizemos uma competição impecável, tínhamos um grande treinador, que era o Otacílio (Gonçalves), que formou uma família. E a felicidade veio”, contou, descrevendo também que fez outros muitos gols bonitos em sua trajetória.

Saulo com o ex-presidente Ernani Buchmann, com a placa dos 100 gols, em 1996. Foto: Valterci Santos/Arquivo/Gazeta do Povo

Bicho adiantado

Apesar de deixar muito claro o respeito que todo o grupo sempre teve pelos rivais, Saulo relembrou algo muito curioso quando o assunto era Paratiba na década de 1990. “A gente sabia que ia jogar contra o Coritiba e ia vencer, mas sempre respeitando. Ganhávamos o bicho adiantado e já gastávamos antes de entrar em campo. Tínhamos uma equipe muito qualificada. Quando íamos enfrentar outras equipes na Vila Capanema, dentro do ônibus, em cima do viaduto, já combinávamos qual seria o placar. Sabíamos que no mínimo íamos fazer dois ou três gols”, falou.

O treinador Saulo

Em duas oportunidades, Saulo, que foi auxiliar-técnico entre 1998 e 2001, representou o Paraná Clube do outro lado da linha do gramado: em 2003 e entre 2007 e 2008.

Algo que veio por acaso. “Na verdade eu nunca tive esse pensamento de ser treinador, mas foi acontecendo. O Geninho foi para o Santos (em 2001) e aí eu assumi interinamente. Depois veio o Cuca (em 2003), e assumi interinamente de novo. Chegou o Adilson (Batista), não deu certo e tive, de novo, que assumir. Aí falei: agora assumo de vez ou nem assumo”, esclareceu.

O artilheiro tem orgulho da trajetória que construiu dentro do Tricolor não só balançando as redes, mas também na função de comandante.

“Eu fui um cara felizardo, fui artilheiro do Paraná e, como treinador, fui um dos primeiros a levar o Paraná a um torneio internacional, com a Sul-Americana, em 2003. Na primeira divisão, tivemos o segundo melhor ataque, perdemos para o Cruzeiro, que foi campeão. Ficamos 12 ou 13 partidas invictos na Série A. Isso é difícil de conseguir”, apontou.

Despedida?

A expectativa de Saulo é poder fechar, de maneira oficial, seu ciclo do time. A intenção do ex-jogador era ter voltado ao Paraná para uma conclusão de sua carreira, mas por questões de saúde, isso não foi possível.

“Quando parei de jogar, no Vitória, tive a infelicidade de precisar operar a coluna, ficar alguns anos parado, e não encerrei como queria. O meu sonho é ainda fazer uma despedida oficial no Paraná Clube. Estou com 52 anos, acho que ainda está em tempo. Espero conversar com a diretoria para fazermos um confronto contra Coritiba ou Athletico, algo beneficente”, revelou.

Mesmo que não tenha saído dos gramados como desejou, ele tem apenas boas lembranças pelo que construiu na equipe paranista e carrega alegria pelos anos dentro da Vila Capanema. “O mais gratificante é as pessoas reconhecerem aquilo que você fez. Eu sou muito feliz por isso”, finalizou o Tigre.

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