Paraná perde para o Nacional no torneio da morte

Uma péssima campanha na primeira fase e uma estréia desastrosa no torneio da morte. Em circunstâncias normais do futebol brasileiro, quem pagaria de imediato pelo pífio desempenho do Paraná seria o técnico Saulo de Freitas. Entretanto, pelo menos por ora, o treinador segue no comando. “Reconhecemos que o resultado foi terrível, mas não queremos atropelar as coisas. Foi apenas o primeiro jogo de seis”, disse o vice-presidente de futebol José Domingos, quando indagado sobre o futuro de Saulo no comando.

O resultado do Norte, fez barulho também na sede da Kennedy, onde, após o fiasco em Rolândia, se reuniram conselheiros e o presidente do Tricolor, Professor Miranda. Do encontro, eles abriram caminho para que Saulo não se sinta mais “tão abandonado” no comando do Tricolor. Para tanto, devem apresentar hoje, às 16h, quando o grupo volta ao trabalho, dois reforços para a comissão técnica: os professores Édson Palomares e Gocha. O primeiro é paranaense, já trabalhou na Rússia e traz de lá conhecimentos teóricos, além de já ter comandado equipes do nosso futebol amador. O segundo, foi preparador de goleiros (trabalhou na antiga União Soviética, sendo preparador de goleiros, quando orientou o famoso Dasaev).

Dúvida

Amenizada, não se sabe até quando, a culpa de Saulo, o que está proporcionando a estrondosa decadência do time no estadual? É uma pergunta que nem mesmo o dirigente sabe responder. “Estamos no caminho errado e não sabemos o que nos fez sair da linha. Por isso, vamos mergulhar numa análise da situação para sair disso”, dizia Zé Domingos, após a partida, sem saber da reunião no quartel-general paranista. “Alguma coisa tem que ser mexida. Não sei se a saída é sacar o treinador, oxigenar a diretoria ou o que. É sobre isso que vamos conversar na viagem de volta”.

Para Domingos, é muito complicado encontrar culpados, pois a responsabilidade pela atual situação passa por todos: atletas, comissão técnica e diretoria. “O futebol passa por todos, não se faz de um só”. Ontem, ele criticou a disposição dos jogadores e o padrão da equipe na segunda etapa. “Estamos vendo um Paraná atabalhoado, alguns atletas não conseguem ter obediência tática ou sequer garra. Hoje (ontem), o adversário teve mais disposição o tempo todo. Isso não pode acontecer”.

Entretanto, o dirigente deixou uma pista que as mudanças devem começar na própria diretoria, que está um tanto quanto desgastada. “Nós temos que mexer em algo. Nós, diregentes, não somos eternos e não somos donos do clube. Só que não vamos analisar nada com a cabeça quente. Durante a viagem de volta, vamos ter muito tempo para refletir”.

Brasileiro

Desde o início do estadual, a diretoria vem sendo espinafrada em função da falta de palenjamento para a competição. No time que acabou em 10.º lugar no campeonato brasileiro, apenas Flávio foi mantido. E a diretoria não soube repor os atletas perdidos à altura. Até agora, foram 13 contratações e quatro dispensas. O próprio técnico Saulo não deixa de apontar a falta de planejamento como decisiva para a má fase. Mais que isso, ele lamenta a falta de armas para lutar. “Esse é o time que temos”.

Motivo de chacota em Rolândia

Nem o paranista mais pessimista poderia imaginar o que aconteceu ontem em Rolândia. O Paraná Clube iniciou a campanha no torneio da morte perdendo por 3 a 1 para o Nacional, que envolveu o Tricolor praticamente durante todo o jogo. Com o resultado, o time da Vila fica na lanterna no quadrangular que vai definir os dois rebaixados à série Prata do campeonato paranaense de 2005. O próximo compromisso do Paraná é contra o Grêmio Maringá, domingo, no Pinheirão.

Aproveitando-se de um contra-ataque rápido, o Nacional subiu rápido ao ataque e abriu o marcador logo aos 11 minutos, em um lance confuso. Paulo Sérgio chutou em direção ao gol, Wiliam cabeceou contra o patrimônio e confundiu Flávio. Antes da bola entrar, encostou no goleiro e o árbitro creditou a ele o gol, numa atitude um tanto quanto inusitada.

Aos 13 minutos, o Paraná perdeu a oportunidade de empatar quando o árbitro assinalou pênalti de Douglas em João Vítor, após um esbarrão na área. Na cobrança, Jean Carlo foi displicente, permitindo a defesa do goleiro Felipe.

Desestabilizado em campo e errando muitos passes, o Tricolor só esboçou reação aos 34 minutos. Erivélton subiu pela direita e tocou para Wiliam cruzar na área. Na subida, Fábio empatou a partida de cabeça.

No entanto, o gol não deu a tranquilidade que o Paraná precisava e o Nacional acabou marcando mais um ainda no primeiro tempo. Aos 37 minutos, Éverton derrubou Robert na área e o árbitro assinalou a penalidade. Na cobrança, aos 39 minutos, Vágner colocou o Nacional novamente na frente.

No retorno dos vestiários, o abatimento dos paranistas era claro. Mesmo porque apesar de ainda haver mais 45 minutos para a equipe tentar reverter o marcador, havia a consciência de que o Nacional era superior. No desespero, o técnico Saulo sacou o lateral-direito Erivélton e escalou o atacante Cacau, dando maior poder de fogo ao time.

Mas o efeito foi contrário. Logo aos 3 minutos, o Paraná vacilou mais uma vez. Ao tentar fazer a linha do impedimento, a zaga falhou e Robert apareceu livre pela esquerda, para marcar mais um. Justamente no lado do campo que acabara de ser mexido. Aos 12 minutos, o Nacional fez mais um, mas o gol foi anulado pelo árbitro.

Sem maiores opções, o técnico Saulo trocou Éverton por Alcides para tentar dar um novo gás ao ataque, mas o Nacional continuou mandando no jogo. Desanimado com a derrota iminente, o Paraná ainda conseguiu colocar uma bola na trave através de Wiliam. Mas o placar já estava sacramentado e o Tricolor teve que deixar o gramado sob o coro de “ão, ão, ão, segunda divisão”.

E Saulo não perdoa ninguém

A tranqüilidade do técnico Saulo de Freitas parece inabalável. Mesmo consciente de que a corda do tricolor pode arrebentar do seu lado, apesar da diretoria ainda tê-lo como treinador, ele não se altera. “Sou funcionário do clube e o que a diretoria decidir, vou acatar. Prometi ficar até o final do campeonato, para impedir o rebaixamento, mas não sou eu quem decido”.

A aparente calma de Saulo está diretamente ligada a seus argumentos. Sem papas na língua, ele não poupou os jogadores após a partida de ontem. “Disse que seria complicado ter um time tão jovem. Alguns atletas estão tendo medo de jogar. Têm que ter mais personalidade”, disparou.

Ontem à tarde, ele voltou a dizer que não pode resolver o problema pelos jogadores. “Quem entra em campo não é o treinador. Lá dentro, é jogador que resolve. Não estamos ganhando a segunda bola e os marcadores estão indo para tomar o drible. Tem que ter mais calma para evitar esse tipo de envolvimento”.

Sobre o jogo de ontem, ele foi ainda mais longe. “Faltou disposição de alguns atletas. Tomamos o gol no início, tivemos a chance de empatar, mas perdemos o pênalti. Eles se aproveitaram disso e cresceram no jogo”.

Sobre as críticas sobre o padrão de jogo do time, ele garantiu que não vai abrir mão de jogar no 4-4-2, mesmo que as peças disponíveis não sejam as ideais. “Não vamos mudar por causa dos atletas, que têm dificuldades. Pelo menos o padrão tem que ser mantido”, garantiu. Resta saber se a diretoria vai continuar aceitando os argumentos do treinador.

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