MP conclui que Paulo Forte atenuou riscos

São Paulo – O promotor Rogério Leão Zagallo, do 5.º Tribunal do Júri, chegou à conclusão de que Serginho sabia dos problemas de saúde, mas não da dimensão da gravidade. Sua avaliação é de que o médico Paulo Forte, do São Caetano, minimizou os riscos em conversas com o jogador, que, assim, resolveu seguir jogando, até sua morte, em 27 de outubro.

De acordo com Zagallo, o depoimento do cardiologista Edimar Bocchi, do Incor, por cerca de 2h30, na manhã de ontem, reforçou ainda mais seu pensamento de que Paulo Forte e o presidente do clube, Nairo Ferreira de Souza, devem ser responsabilizados pela morte do zagueiro.

"Bocchi nunca falou em 1% de risco. Pelos outros depoimentos, acredito que quem falou foi Forte. O jogador tinha confiança no doutor Forte", disse o promotor.

Segundo as investigações do MP, Paulo Forte disse a Serginho que a patologia não era grave e que a possibilidade de algum problema não ultrapassaria 1%. Medir riscos é algo que nenhum cardiologista costuma fazer. As fortes suspeitas recaem sobre o médico do São Caetano. Uma das evidências foi a entrevista dada pelo goleiro Sílvio Luiz depois da parada cardiorrespiratória sofrida por seu companheiro, no Morumbi. "Sabíamos que ele tinha 1% de risco."

Bocchi confirmou o que vinha afirmando desde o início do caso e declarou, no depoimento, que avisou, por várias vezes, Paulo Forte de que Serginho deveria parar de jogar, por causa de arritmia e miocardiopatia dilatada. O atleta, apesar das recomendações do cardiologista, teria confiado no médico do clube, que atenuou os problemas.

"O doutor Bocchi disse ter certeza de que, se o Serginho tivesse se afastado do futebol, não morreria nesse momento nem dessa forma", contou Zagallo.

O médico do Incor foi questionado, pelo promotor e pelo delegado Guaracy Moreira Filho, sobre a nota que assinou com Paulo Forte, por meio da qual comentou que a morte de Serginho foi uma "fatalidade". Ele reiterou que foi pressionado.

"Ele foi ingênuo ao assinar a nota por não ter percebido que a utilização dela seria inescrupulosa", observou Zagallo. "Bocchi confirmou pressão, mas negou ter sido ameaçado." A pressão teria partido do médico do São Caetano, que, após ter obtido o laudo da necropsia do Serviço de Verificação de Óbito – antes mesmo da polícia -, procurou-o para que assinasse a nota distribuída à imprensa.

Zagallo ressaltou também que a digoxina, remédio usado por Serginho para a deficiência cardíaca, não foi prescrito pelo médico do Incor. Suas suspeitas são de que Forte o indicou ao jogador. "Ele (Bocchi) disse que a digoxina é um remédio em desuso mesmo para os casos de miocardiopatia dilatada e que há medicamentos mais eficientes para esses quadros, jamais seria receitada por um cardiologista."

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