KonSolle, mecenas da maratona

Responda rápido: o que um vigilante, uma advogada e um jovem desempregados, um pedreiro autônomo, uma auxiliar de serviços gerais, uma bancária, a ?tia? do cafezinho, uma professora primária, o estudante universitário e um engenheiro mecânico angolano, brasileiro naturalizado têm em comum? Não sabe? A resposta pode ser dada através de uma prova de maratona. Mais especificamente da Maratona de Curitiba, que no domingo terá sua nona edição percorrendo algumas ruas da capital paranaense.

Essa mistura social forma um grupo de corredores que vão participar da maratona. O que os une não é exatamente a paixão pelo esporte, mas a determinação do engenheiro Fernando Carinhas, 45 anos, que por brincadeira, com apenas 15 dias de preparo – ?mau preparo?, reconhece ele -, resolveu correr a edição de 2004.

Carinhas, executivo da KonSolle, uma empresa de consultoria e projetos da Cidade Industrial de Curitiba, é casado, tem dois filhos e uma situação financeira estável. E revela que durante o percurso (precisou de quatro horas) no ano passado conheceu muita gente, percebeu ainda que essa gente aliava garra e disposição, a maioria atletas que ?literalmente corriam atrás do prêmio e para se superar e vencer não apenas seus limites físicos, mas sociais?, aponta.

Dessa forma, o executivo angolano passou a acreditar mais em si, em superar os seus limites e também a apostar mais nos outros. Com isso, convenceu seus empregadores a patrocinar um grupo de atletas, que não dispõe de recursos financeiros sequer para participar de corridas locais, uma vez que toda semana alguém está promovendo uma corrida cuja inscrição gira em torno de R$ 15,00. ?São pessoas simples que precisam da ?injeção? financeira para competir, sobretudo em provas fora da cidade?, conta ele.

A KonSolle aceitou a aposta e investiu cerca de R$ 2 mil por mês nesse grupo de oito corredores. Segundo Carinhas, sem a preocupação com o retorno institucional. Na maratona, a empresa bancou as inscrições e a fase de treinameno. Em troca, divulga sua marca no uniforme dos atletas. ?Nosso retorno é maior. Acho que é divino. É muito bom saber que podemos ajudar pessoas a correr atrás de seus sonhos. E isso custa tão pouco?, atesta Carinhas.

A longo prazo, pódio é meta

Na companhia de seus novos companheiros, Fernando treina de três a quatro vezes por semana, nos parques Barigüi e São Lourenço, além de correr algumas rústicas. ?Mas ainda não tenho o pique deles, que toda semana correm nos circuitos daqui da região, de Santa Catarina e São Paulo?, conta.

O sonho do grupo era conseguir um patrocinador para buscar o verdadeiro objetivo: vencer uma maratona. E a de Curitiba para eles é uma meta ambiciosa. Joelson, que veio de Guarapuava para Curitiba há quatro meses, estreou na edição passada, completando a prova em quatro horas. Este ano, a meta é completar a prova em 2h50. ?Estou me preparando para isso e, mais tarde, disputar Conrrades, na África do Sul?, projeta, acrescentando: ?Tenho 27 anos e com 33 quero ser campeão?.

Emerson já coleciona dez primeiros lugares em corridas de 10 km pelo Brasil. Na sua categoria, foi bicampeão em Joinville. ?Contar com um patrocinador para mim já é uma vitória?, diz.

Orionir Magalhães correu todas as maratonas de Curitiba e ano passado foi campeã na categoria curitibana e 3.ª na veteranos. Para ela, poder contar com este apoio é fundamental. ?Se não fosse isso, nem teria condições de correr fora de Curitiba?, completa.

Mauro Rafael é o estreante do grupo. Em 2004, disputou provas do circuito de corridas de rua promovido da Prefeitura e este ano foi 5.º (de sua categoria) na Corrida da Guarda Municipal (10 km). ?A corrida é o esporte mais acessível. Mas, mesmo assim, precisamos de patrocínio para poder participar de competições fora da cidade. Por isso, é fundamental a força que o Fernando vem nos dando?, agradece.

Zenaide Mantovani, cantineira da Hertz-CIC, disputa a Maratona de Curitiba desde 2000. Em 2003, completou o percurso em 3h42 e foi campeã da sua categoria. ?Conseguir um patrocinador é muito difícil. Tivemos sorte de ter um que correu atrás da gente e agora corre com a gente?, brinca ela.

Os integrantes da equipe

Os apadrinhados de Fernando e de sua empresa são: Waldirene Reis Catarino, 35 anos, advogada desempregada (fará sua 4.ª participação); Joelson Dias da Silva, 27, é pedreiro autônomo; Emerson de Mira, 35 anos, vigilante e instrutor de artes marciais; Orionir Magalhães, 50 anos, bancária; Zenaide Mantovani, 42 anos, auxiliar de serviços gerais; Mauro Rafael, de 28 anos, desempregado; Dinorah Vargas Tovar, 24 anos, professora primária; Rosilda de Lourdes Paes da Silva, 36 anos, residente em Guaratuba; e Rafael Ribeiro Carinhas, 21 anos, estudante (é filho de Fernando).

Família escolheu o Brasil

Por causa da Guerra Civil de Angola, em 1975, a família Carinhas – os pais e mais duas irmãs de Fernando -, da alta classe média local, foi obrigada a abandonar o país e o patrimônio. Depois de uma temporada em Portugal, o pai de Fernando, um administrador de empresas, recebeu duas propostas de trabalho: uma para o Brasil e outra para o Canadá. ?Decidimos pela nossa menina-dos-olhos que sempre foi o Brasil?, conta Fernando Carinhas.

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