Justiça muda toda a diretoria da FPF

Uma nova bomba caiu na tarde de ontem na Federação Paranaense de Futebol (FPF). Uma decisão judicial destituiu a diretoria e uma nova administração já tomou posse na entidade. O empresário Hélio Pereira Cury, 57 anos, é o novo presidente, até as próximas eleições, marcadas para abril de 2008.

Um mandado expedido pela juíza Denise Antunes, da 9.ª Vara Cível de Curitiba, determinou a mudança de comando. Ela deu ganho de causa a Hélio Cury em uma de quatro ações impetradas em 2004, quando o ex-presidente Onaireves Moura foi eleito para o 6.º mandato consecutivo.

Cury, que foi adversário de Moura no pleito, questionava a legalidade da chapa encabeçada pelo ex-presidente. Segundo o artigo 23 da Lei Pelé (9.615/1998), pessoas inadimplentes com contribuições previdenciárias, com falência decretada ou já condenadas pela Justiça. Após três anos, a ação foi considerada procedente e Moura destituído do cargo, assim como toda a diretoria e o conselho fiscal eleitos em 2004. Ele já havia sido condenado em 2000, por não pagar o INSS.

Agora, quem assume a FPF é a chapa ?Transformação?, que recebeu apenas oito votos, contra 81 de Moura, numa eleição marcada por diversas denúncias de irregularidades. Os novos vice-presidentes da FPF são Fábio Chagas Theophilo, Emílio Fernando Martini, Lorivaldo Correia dos Reis, Amilton Stival, Eliseu Siebert, Reginaldo Luiz dos Santos Cordeiro e Daniel Romaniuk da Silva.  O novo Conselho Fiscal tem como membros efetivos José Aparecido Faleiros, Reginaldo do Rocio Taborda, Genivaldo dos Santos, Luciano Rossa e Claudio Marcelo Baiak. Os suplentes são Alcir Antonio Ganassini, Homero Wollner e Eloir Ney Nunes de Azevedo.

Tranqüilidade

A decisão judicial que mudou a diretoria da FPF foi proferida no final da manhã de ontem. No início da tarde, Cury foi à sede da entidade acompanhado do oficial de justiça Márcio Borges Carneiro. Com o mandato judicial em mãos, Carneiro foi recebido pelo superintendente Lourival Barão, antes da chegada de Aluízio Ferreira.

A ?transição? ocorreu em clima tranqüilo, sem nenhum tipo de resistência dos dirigentes destituídos. ?Decisão judicial não se discute, cumpre-se?, afirmou Ferreira, que já avisou que vai recorrer. ?Vou usar todo o direito que tiver, até a última instância. Mas isso não quer dizer que briguei com o Hélio. Vou dar toda a assistência para ele. Quero mostrar os meandros que eu consegui descobrir nesses cinco meses?, garantiu.

Cury quer auditoria pra conhecer situação da Federação

Aliocha Mauricio
Novo presidente vai tentar se desfazer do Pinheirão e também mudar o estatuto da entidade, impedindo mais de uma reeleição.

Empossado como novo presidente, Hélio Cury diz que utilizará os cinco meses que restam no atual mandato para fazer um balanço completo da situação da FPF. ?Temos que recuperar a credibilidade do futebol do Paraná. Vou fazer uma auditoria jurídica, para saber tudo o que a Federação deve. Esse é o primeiro caminho, para verificarmos o que será necessário a partir do ano que vem?, afirma Cury, que já confirmou sua candidatura nas próximas eleições, em abril de 2008.

Por enquanto, apenas os diretores eleitos (vice-presidentes e membros do conselho fiscal) perderam seus mandatos. Cury diz que a situação dos demais dirigentes, na maioria escolhidos por Moura, ainda será avaliada. ?Vamos estudar a posição de todos. Não posso mudar tudo de uma vez. Temos que analisar cada caso, para ver quem pode ser aproveitado?, afirma.

Sem perseguição

Na mesma condição estão hoje os 40 funcionários da FPF. Antes, Aluízio Ferreira, que assumiu no lugar de Moura, havia afastado outros 15 funcionários. ?Vamos conversar com todos e verificar quem deve ficar ou não. Mas não tem perseguição. Vamos conhecer cada um e se trabalham realmente como deve ser, não há problema?, garante.

Cury avisa que também trabalhará por mudanças no estatuto da FPF. ?Temos que permitir apenas uma reeleição. Oito anos já é um bom limite. Em várias federações do Brasil, pessoas ficaram no comando por cerca de 20 anos, por cinco mandatos. Isso para mim é um absurdo?, avalia.

O novo presidente também já adiantou que vai tentar se desfazer do Pinheirão. ?Acho que Federação é para administrar o futebol, não para manter estádio. Temos que levantar a situação real do Pinheirão para ver em que pé está. Se houver condições e amparo legal para se desfazer dele, não tenha a menor dúvida que é isso o que faremos?, antecipa. A idéia é usar o estádio para abater parte da dívida da FPF, que está em torno de R$ 50 milhões.

Ex-aliado de Moura teve apenas 8 votos

Hélio Cury é uma figura já conhecida do futebol paranaense. Atual inimigo, caminhou durante anos lado a lado do ex-presidente Onaireves Moura, de quem foi vice entre 1985 e 2003. Também já foi presidente do União Capão Raso, clube amador de Curitiba, diretor do Paraná Clube e da Secretaria Municipal do Esporte e Lazer.

Dono de uma loja de artigos esportivos, Cury foi durante anos o fornecedor preferencial de materiais usados em campeonatos da FPF. Até 2003, quando rompeu relações com Moura. No ano seguinte, montou chapa para disputar a presidência da entidade, que teve seu primeiro bate-chapa após 19 anos de composição em torno de Moura.

Numa eleição polêmica, com diversas denúncias de irregularidades, Cury recebeu apenas 8 votos, contra 81 de Moura. Na ocasião, uma controversa decisão fez com que o pleito ocorresse através de voto aberto, possibilidade prevista no estatuto da FPF, desde que aprovada em assembléia, na hora da eleição.

Gionédis

O presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, teve papel fundamental para que isso acontecesse, quando pediu a palavra em meio a discussão. Ele disse que sequer havia recebido uma carta apresentando a chapa de oposição, pediu votação aberta e já declarou seu voto em Moura, sendo seguido por outros 7 representantes de ligas e clubes. Derrotado, Cury continuou a briga na Justiça, tentando impugnar a chapa de Moura. Ontem de manhã, obteve sucesso e, mesmo com uma votação inexpressiva, foi declarado vencedor da  eleição de 2004.

Voltar ao topo