Cauteloso até a semana passada, o Governo Federal mudou o tom sobre a volta do futebol brasileiro, com o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos Costa, afirmando nesta segunda-feira (27) que ela acontecerá “em breve”.

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O UOL Esporte apurou que nem a maioria dos clubes nem dirigentes da CBF endossam o discurso, e consideram que a postura do governo começa a ser de pressão para acelerar a retomada das atividades.

Pessoas ligadas à cúpula da entidade que comanda o futebol brasileiro afirmam que nenhum tipo de pressão é bem-vinda, e que a entidade, em nenhum momento, pediu qualquer pressa na elaboração de um plano de retomada. A prioridade segue sendo a de estabelecer um protocolo de segurança com médicos e com autoridades sanitárias e, quando isso acontecer, priorizar o término dos estaduais.

Dirigentes de clubes ouvidos pela reportagem, inclusive do Rio e de São Paulo, cidades com maiores focos do coronavírus, também foram pegos de surpresa pela declaração de Costa.

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Embora as equipes brasileiras apostem na retomada do futebol como garantia da sua sobrevivência financeira, não há entre elas qualquer sentimento de proximidade deste retorno -ainda é necessário diálogo e planejamento para garantir a saúde de todos envolvidos.

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O que existe é um consenso de que, embora tenha partido publicamente de uma pessoa ligada ao ministério da Economia, a mudança de postura do governo coincide também com a saída de Henrique Mandetta do ministério da Saúde. Mandetta tinha objeções consideráveis principalmente em relação aos grandes centros como Rio e São Paulo, algo que parece ter mudado neste início de semana.

Essa pressão não é vista com bons olhos entre dirigentes tanto da CBF como des clubes. Desde o início da pandemia, os cartolas vêm mantendo frequentes reuniões por vídeo na tentativa de amarrar as diversas pontas sobre o futuro do futebol brasileiro – e elas são muitas. Declarações e comportamentos que criem expectativas excessivas em torcedores e mobilizem clamor popular pela aceleração de uma retomada não ajudam neste processo.

A CBF já estabeleceu com as federações estaduais o compromisso de priorizar o término de seus campeonatos, para só depois retomar o Brasileirão. Os clubes da Série A do Brasileiro, por outro lado, tem tido como prioridade garantir que o campeonato nacional tenha 38 rodadas – isso para poder receber integralmente ou até antecipar receitas de transmissão da Globo, e assim conseguir fôlego financeiro.

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A Globo, por sua vez, já suspendeu pagamentos referentes aos estaduais e reduziu alguns referentes ao Brasileiro. A emissora tem estado aberta ao diálogo, mas não tem falado em pagar integralmente por produtos sem a certeza de como e quando eles serão entregues.

Há ainda divergências políticas: estados têm tratado a pandemia com posturas diferentes das do governo federal. Os governos de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, têm tido diretrizes mais rígidas de isolamento social, e qualquer retomada terá que passar por elas.

Todas as partes tem estabelecido diálogos frequentes em busca de uma forma segura e que atenda, na medida do possível, todos os interesses, mas o processo envolve múltiplas divergências e vem sendo trabalhoso. Uma nova reunião entre clubes e CBF ocorre na tarde desta terça-feira.

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