Entrevista com o tenista sueco Jonas Björkman

Artur OliveiraConte um pouco sobre sua vida em Alvesta, Suécia.

Jonas – Uma cidade bastante pacata na qual vivem apenas 10 mil pessoas. Eu creio que, de certo modo, ter crescido em um pequeno e divertido vilarejo foi excelente para mim, já que todos se conheciam e quando eu alcancei sucesso todos puderam lembrar daquela pequena criança de antigamente.

Artur OliveiraQuais foram os motivos que te levaram a jogar tenis? De que forma seus pais contribuíram para sua escolha?

Jonas – Tanto meu pai como minha mãe jogavam tenis, sendo que meu pai alcançou um bom nível jogando torneios nacionais. Quando eu tinha 16 anos derrotei pela primeira vez meu pai. Depois disso, ele parou de jogar porque era isso que o motivava a continuar jogando. Eu tentei diferentes esportes e hockey realmente era meu preferido. Eu jogava bem, mas aí todos começaram a crescer e eu fiquei pequeno e me machucava muito. Eu comecei a jogar por influência do meu pai que era jogador de hockey. Posso dizer que meus pais sempre estiveram presentes para me apoiar desde o início. Não teria conseguido nada sem a ajuda deles.

Artur OliveiraDe acordo com algumas biografias, você tinha um temperamento forte quando começou a jogar. Porém, no circuito você é conhecido como uma pessoa bastante divertida fora das quadras. De que forma o tenis mudou suas atitudes?

Jonas – Meu pai conversou com o patrocinador que avisou que eu não teria mais raquetes se continuasse quebrando-as o tempo todo. Eu fiquei com medo e parei porque ficaria muito caro ter que comprar minhas próprias raquetes. Depois disso meu pai e eu tivemos uma conversa séria e eu aprendi uma grande lição. Creio que as viagens que eu fiz sozinho, os jogos diante de tantas pessoas e as entrevistas para grupos de pessoas de diferentes nacionalidades contribuíram em muito para a conquista da confiança que possuo hoje e para o meu amadurecimento.

Artur OliveiraDe que forma a vitória sobre seu ídolo Stefan Edberg em 1994, na terceira rodada do Grand Slam americano, mudou sua carreira?

Jonas – Esta partida foi com certeza um divisor de águas em minha carreira por ter me levado do anonimato para a fama. Foi um jogo sensacional porque eu consegui derrotar o meu ídolo e também o meu parceiro de treino durante alguns anos no período em que Stefan voltou para a Suécia. Ele sempre foi bastante prestativo e com certeza me ensinou muitas coisas.

Artur OliveiraTenis é um esporte bastante individualista. Como você se sentiu ao vencer a Copa Davis pela Suécia em 1994, 1997 e 1998?

Jonas – Eu assisti quando a equipe sueca venceu os Estados Unidos em 1984 e isso foi uma grande virada pro tenis do meu país. Eu sempre gostei de estar em um time porque desde criança eu pratiquei tantos esportes coletivos. O meu grande sonho sempre foi fazer parte da equipe sueca da Copa Davis e representar bem meu país. Eu me sinto agradecido e privilegiado por fazer parte de um time tri-campeão.

Artur OliveiraQuais são os fatores técnicos, emocionais e físicos que fazem de você um dos melhores tenistas da história do tenis?

Jonas – Eu jamais desisto e sempre luto até o último ponto. Eu tenho trabalhado muito duro para ter certeza que posso usar o físico ao meu favor durante as partidas. Minha boa movimentação com a esquerda e os voleios são meus melhores golpes. Eu adoro as grandes partidas em qualquer torneio e sempre ajo de forma a jogar meu melhor tenis quando é necessário.

Artur OliveiraHá muitos jovens talentos no Brasil, mas infelizmente não há uma política nacional de investimentos que propicie o crescimento desses tenistas. Qual é a realidade do tenis na Suécia?

Jonas – Há 15 anos nós passamos pelo mesmo problema aqui na Suécia. A Federação não dispõe de dinheiro e, por isso, acabamos perdendo jovens muito talentosos. Aqui, especialmente, há uma competição muito dura com muitos outros esportes e o tenis não tem muito espaço na TV para que possamos mostrar esse excelente esporte.

Por causa de nossas muitas conquistas no passado as pessoas se tornaram bastante exigentes e acham que por não termos ganho a Copa Davis e torneios Grand Slams na modalidade de simples o tenis sueco está mal. Nós precisamos muito de bons treinadores em nossos clubes de tenis, que sempre foram nosso celeiro de talentos.

A melhor parte é que contamos com a colaboração de Wilander e de outros grandes tenistas suecos que estão no momento envolvidos em um programa de desenvolvimento do tenis nacional ? apesar dos baixos salários.Felizmente nós estamos podendo usar as habilidades e a experiência deles para o desenvolvimento de jovens talentos.

Artur OliveiraO que você sabe sobre a carreira de Gustavo Kuerten e seus problemas físicos mais recentes?

Jonas – Eu perdi para o Guga em Roland Garros em 1997 e me senti bastante desapontado, mas quando o vi vencer o torneio compreendi que havia perdido para uma nova estrela do tenis mundial. Ele é um cara fantástico que fez muito pelo tenis brasileiro e da América do Sul. Depois dessa derrota para o Guga eu me esforcei para vencê-lo em outra oportunidade e consegui. Tenho conhecimento que ele tem tido sérios problemas com lesões e desejo que se recupere o mais rápido possível. Guga é um grande embaixador do tenis.

Artur OliveiraVocê tem envolvimento com algum projeto de ajuda humanitária?

Jonas – Eu colaborei com as vítimas do desastre da Tsunami na Ásia, que mobilizou também todos os tenistas e muitos torneios do circuito no intuito de arrecadar fundos para ajudar as pessoas da área atingida.

Artur OliveiraVocê acredita que esportes podem promover inclusão social e qualificação profissional para pessoas pobres?

Jonas – Sim, eu penso que quando você faz uma bela carreira no esporte se extrai muito do tenis, o que inclui qualificação e inclusão social. Você aprende como tratar as pessoas com respeito e aprende a assumir responsabilidades como ídolo de muitas crianças.

Artur OliveiraFinalmente, o que o tenis representa para você? Mesmo estando no circuito por tantos anos, como você vê seu futuro após o tenis?

Jonas – O tenis tem me dado tudo e mesmo depois de 16 anos no circuito eu ainda tenho a mesma motivação para entrar em quadra e fazer bons jogos. Tenho consciência que minha carreira está próxima de terminar e estou muito feliz porque terei mais tempo para o meu filho Max e a minha amável esposa Petra. Eu com certeza permanecerei no tenis como observador atento e também tenho alguns projetos nos quais trabalharei após a minha aposentadoria. Espero poder jogar bem este ano e talvez mais um ano antes de me retirar do circuito.

 Artur Salles Lisboa de Oliveira, coordenador do site www.raciociniocritico.com
email: arturslo@hotmail.com

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