Desempenho do Brasil nos Jogos Olímpicos é questionado

Não dá pra dizer que foi um fiasco completo. Mas é certo que o desempenho brasileiro nos Jogos Olímpicos de Pequim deixou a desejar. Diante do alto investimento dos órgãos públicos, do crescimento do País em competições internacionais e dos resultados nos Jogos Pan-Americanos de 2007, esperava-se um pouco mais da delegação nacional.

Com 3 medalhas de ouro, 4 de prata e 8 de bronze, o Brasil igualou o recorde de pódios (15 no total) de Atlanta-1996. Mas o número de ouros critério de classificação no ranking do Comitê Olímpico Internacional foi inferior aos cinco de Atenas-2004. Assim, o País caiu do 16.º, há quatro anos, para o 23.º lugar no quadro geral de medalhas.

A ONG Contas Abertas, especializada em fiscalizar a aplicação de recursos públicos no País, estima que a União torrou R$ 655,7 milhões no último ciclo olímpico (2005/08) somente em esporte de alto rendimento ou seja, sem contar o valor gasto em centros de formação, esporte nas escolas, nas ruas, entre outros. O valor é mais que o dobro dos R$ 280 milhões investidos no ciclo de Atenas (2001/04).

Deste montante, a maior fatia (R$ 265,7 milhões) vem da Lei Piva, que desde 2001 destina 2% do total arrecadado por todas as loterias aos comitês olímpico e paraolímpico brasileiro.

Outra parte importante (R$ 247,9 milhões) é oriunda de patrocínios das empresas estatais, além de R$ 107 milhões aplicados pelo governo federal no Programa Brasil no Esporte de Alto Rendimento. Finalmente, R$ 34,4 milhões em isenções fiscais foram concedidas a empresas através da Lei de Incentivo ao Esporte.

De olho no Nuzman

Os críticos do presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, reclamam do alto valor gasto com o esporte de alto rendimento, em relação ao investimento na base. Um dos maiores exemplos são as Olimpíadas Escolares (antigos Jogos Escolares Brasileiros), grande celeiro de atletas em duas faixas etárias (12 a 14 anos e 15 a 17 anos).

O COB determinou em 2005 que as despesas com transporte das delegações seriam cobertas de forma regressiva: 100% naquele ano, 50% no ano seguinte e 25% em 2007, até que em 2008 os estados teriam que bancar todos os custos.

Os estados tentaram mudar a norma, mas não houve acordo. Resultado: 14 unidades da federação boicotaram a edição de 2008, que será disputada em Poços da Caldas (MG), para 12 a 14 anos, e em João Pessoa (PB), para 15 a 17 anos. Forças como Paraná, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina estão fora por falta de recursos.

O Ministério dos Esportes parece incapaz de reverter a situação perante o COB, que tem forte influência sobre todas as confederações esportivas e administra a maior parte da verba da pasta.

“Enquanto isso, o atletismo brasileiro leva 40 atletas a Pequim para ganhar uma medalha, e de uma saltadora que havia sido abandonada (Maurren Maggi). A Jamaica levou 18 e ganhou 11 medalhas na modalidade. Olimpíada não é para ganhar experiência. Com essa política, não teremos melhor desempenho nas próximas Olimpíadas”, critica Lester Pinheiro ex-diretor esportivo da Paraná Esportes e atual coordenador do Ginásio do Tarumã.