Volta do futebol brasileiro alia incerteza, irresponsabilidade e insensatez

D'Alessandro, volta do futebol brasileiro
D'Alessandro tem sua temperatura medida ao chegar para treinar no Internacional. Os clubes gaúchos se preocupam com as datas da volta do futebol brasileiro. Foto: Divulgação/Inter

E quando a volta do futebol brasileiro tem seus passos mais claros nota-se que não é tão fácil retomar com os campeonatos. Se a maioria dos clubes e das federações tem pressa – até demais – para esse retorno, os desafios do calendário, da adoção do protocolos médicos e o momento do País no combate ao coronavírus mostram o tamanho do desafio. Ou da insensatez.

Foi só a CBF fechar questão pelo dia 9 de agosto pro início do Brasileirão que começaram as reclamações. Os clubes gaúchos e paulistas perceberam que a data prevista faria com que os campeonatos estaduais ficassem encavalados. E, portanto, a volta do futebol brasileiro teria um nó difícil de ser desatado antes mesmo de se começar tudo de novo.

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O desafio do calendário é complexo. Sem abrir mão de nada, não tem como resolver esse quebra-cabeça. Serão em média quatro meses de interrupção até a volta do futebol brasileiro, e é preciso tentar encaixar tudo até fevereiro de 2021. E não é só Brasileirão, tem também Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana. E, claro, as Eliminatórias.

Os atletas na volta do futebol brasileiro

Além disso, é preciso se preocupar com a saúde de quem faz o jogo – e não são os cartolas, mas sim os jogadores, que não foram ouvidos. Nem todos os clubes vão ter elencos grandes o suficiente para a maratona de jogos, e é preciso pensar em um calendário que os proteja. Essa incerteza preocupa alguns clubes, principalmente os que não estão na Série A.

O protesto dos jogadores do Botafogo. Pela saúde e pela importância das vidas negras. Foto: Thayuan Leiras/GloboEsporte.com

As equipes da Série B já fecharam questão em não aceitar o início da competição em 8 de agosto – querem começar seis dias mais tarde, em 14 de agosto. A volta do futebol brasileiro também pode ter alterações no Brasileirão, apesar da CBF garantir que é preciso começar no dia 9. E não podemos esquecer que tudo isso depende de um OK das autoridades de saúde.

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A ação conjunta dos clubes da Segundona mostra outro ponto importante nesta volta apressada do futebol brasileiro. O foco extremo na primeira divisão faz com que se esqueça da dificuldade que será a implantação do protocolo médico nas outras divisões. Será que a CBF não pensa nisso?

Insensatez e irresponsabilidade

No Campeonato Paranaense, a marcha da insensatez não para. O presidente da FPF, Hélio Cury, disse em entrevista à rádio Banda B que iria falar com as autoridades de saúde para “tentar mostrar que o futebol não é o grande vilão da história”. Até pode não ser, mas parece difícil entender que o problema é de todos, não só de alguns.

Os cartolas parecem não querer compreender que o dono da loja de bairro também não é vilão da história, assim como o diabético que precisa de exercícios físicos na academia, o aluno da escola pública ou o artista que toca nos bares. Mas eles precisaram interromper suas atividades porque é preciso evitar qualquer tipo de aglomeração, é preciso que todos deem sua cota de sacrifício. Por que o futebol se julga diferente?

Hélio Cury, presidente da FPF. Por que o futebol acha que pode mais que outras atividades? Foto: Felipe Rosa/Arquivo

O que é insensato pode virar irresponsável rapidamente. Como ficou claro na decisão da prefeitura do Rio de Janeiro em permitir jogos com público a partir de 10 de julho. Políticos e cartolas cariocas promovem um circo a olhos vistos e há quem – cego pelo clubismo – ache que isso é correto.

Decepção

E a postura não é só dos engravatados. A desastrada entrevista de René Simões à rádio Central de Campinas, dizendo que o futebol tem que voltar para ajudar pessoas que estão “enlouquecendo”, mostra que a falta de noção não tem profissão definida. Ele disse que se expressou mal, mas o estrago foi feito. Falar de “amigos aqui que já se separaram, outros já bateram na mulher, outros batem nos filhos” como se fosse natural é inacreditável e inaceitável.


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