É tetra! Copa de 94 foi a libertação de uma geração de torcedores

brasil tetra
Só vi o momento do grito que imortalizou o tetra horas mais tarde. Tinha uma coisa mais importante a fazer. Foto: Reprodução/Globo

17 de julho de 1994. O dia do tetra. O amigo internauta mais jovem, da geração do penta, com certeza não fazem ideia do que essa data representou para uma geração de torcedores. Enfim vimos a seleção brasileira ganhar uma Copa do Mundo, e aquele jogo contra a Itália meio que resumiu 24 anos de angústia – no meu caso, 17 de vida, 12 de torcedor. Quem não viu poderá rever essa história louca neste domingo (26), às 15h45, na RPC.

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Todos nós, que nascemos entre 1969 e 1984, vivíamos com a marca da derrota. Claro que cada um tinha seu clube do coração (naquele tempo era um time por estado), mas quando nos uníamos em torno da seleção, nada dava certo. O tetra, que parecia tão perto quando o Brasil ganhou o tricampeonato em 70, sempre escapava das nossas mãos.

As dores do mundo

Em 1974, na Alemanha, um futebol medroso não foi páreo para a Holanda. Perdemos porque não apostamos na técnica e nem estávamos entendendo as evoluções táticas. Em 1978, na Argentina, um futebol “científico” parou na falta de criatividade e na presepada do Peru contra os donos da casa.

Em 1982, na Espanha a magia nos encantou e nos fez chorar. Foi a primeira vez que chorei por causa de futebol. Em 1986, no México, quisemos fazer diferente, mas acabamos sem saber o que fazer. Telê Santana primeiro quis os ‘italianos’, depois pensou nos mais jovens e acabou no meio do caminho. E em 1990, na Itália, brincamos de Copa do Mundo.

Itália 3 x 2 Brasil - A Tragédia do Sarriá
Rossi comemorava, Oscar e Cerezo lamentavam, nós chorávamos. Foto: Arquivo

Veio 94, uma nova chance para buscar o tetra. Chegamos sem razões para festejar. A economia era um trem a caminho do precipício – o Plano Real entrou em vigor durante a Copa. Violência, tráfico de drogas, fome, AIDS, desemprego, tudo isso e muito mais nos afligia. E o único heroi daqueles tempos, Ayrton Senna, tinha encontrado a morte na curva Tamburello.

Não foi fácil

Já tínhamos passado pelas Eliminatórias com as calças na mão, dependendo do talento de Romário, que estava fora dos planos de Carlos Alberto Parreira. O Baixinho salvou contra o Uruguai e passou a mandar na seleção, com o aval dos líderes do grupo, inclusive de Dunga, que passou a capitão no decorrer do torneio.

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Aos trancos e barrancos, deu certo. Vencemos a Rússia sem problemas, também não corremos risco diante de Camarões. O empate contra a Suécia gerou críticas, mas estava na conta. O Brasil ia encontrando uma forma de jogar – se fechava no meio-campo, permitia que Jorginho e Leonardo (depois Branco) saíssem para o apoio e dava liberdade absoluta para Romário e Bebeto resolverem na frente.

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Taffarel, Jorginho, Aldair, Mauro Silva, Márcio Santos e Branco; Mazinho, Romário, Dunga, Bebeto e Zinho. O time do tetra. Foto: Divulgação/CBF

Comandando o time, um Dunga que em campo foi muito mais jogador do que a gente pensou e talvez pensa. A Copa dele foi espetacular – abaixo, claro, dos herois Romário e Taffarel. Ele era o retrato de uma seleção que fora aos Estados Unidos para vencer, não para encantar.

E que acabou fazendo seus melhores jogos depois do inacreditável sufoco diante dos EUA. Contra a Holanda, vencemos com justiça e com a bomba santa de Branco. Bombardeamos a Suécia apesar da vitória por 1×0. E fomos melhores contra a Itália nos 120 minutos de jogo.

O meu tetra

Assisti à maior parte da Copa do mesmo lugar onde agora escrevo esse texto – no meu quarto da casa dos meus pais. A camisa azul que ganhei de Natal em 1993 ainda servia, e foi com ela que acompanhei todas as partidas da caminhada até o tetra.

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A camisa azul da seleção. Foto: Arquivo

Na final, meus pais combinaram de irmos até a casa de amigos deles. Eles moravam na rua Padre Anchieta, no Bigorrilho. Seria um churrasco que se estenderia até as 16h30, horário do jogo no Brasil. Não lembro das carnes, da conversa, do sentimento. Minha memória parte do apito final da prorrogação. Teríamos pênaltis.

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Aquele jogo já tinha tido emoção demais. Bola na trave, gol perdido na pequena área, chances a rodo desperdiçadas… Por tudo isso, e talvez por ter sentido o primeiro baque no coração que pararia de bater em 2011, meu pai não viu os pênaltis. Saiu do salão de festas e foi para a garagem. Falar isso me arrepia até hoje.

Quando Roberto Baggio chutou para as nuvens e Galvão Bueno gritou “é tetra”, nada me importou. Saí correndo gritando por meu pai, até encontrá-lo e abraçá-lo. A Copa do Mundo era nossa. Estávamos libertados. Naquela tarde de 17 de julho de 1994, voltei a chorar pelo futebol. Da mesma forma que choro agora.

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