Brasil perde para o Paraguai e acaba o sonho do ouro

(AE) – O Brasil está fora das Olimpíadas de Atenas. A partida começou com uma lembrança, um minuto de silêncio, ao imortal Leônidas da Silva, o Diamante Negro, mas além de sua morte, o Brasil teria muito mais a lamentar 90 minutos depois. O Paraguai, sem dar pancada, sem se fechar lá atrás, fez um primeiro tempo impecável, marcou 1 a 0 e até merecia ter feito mais. Voltou fechado para a segunda etapa, mas a seleção brasileira sub-23, apresentando futebol lastimável, não conseguiu o empate que a qualificaria para os Jogos Olímpicos.

Agora, o sonho de conquistar uma medalha de ouro nas Olimpíadas, fica adiado para os Jogos de Pequim, em 2008, se passarmos pelo próximo pré-olímpico.

O Paraguai começou a partida marcando sob pressão. Por cinco minutos só eles jogaram. Aos poucos, o Brasil foi tentando se soltar, mas os adversários dominaram a maior parte do primeiro tempo e o Brasil, quem diria, fechado, jogava apenas nos contra-ataques. Covardia demais para o País pentacampeão do mundo.

O Paraguai tocava bem a bola e não precisou de muito para humilhar os brasileiros. Aos 16, por pouco o Brasil não levou o primeiro: Diaz chutou forte e Gomes ainda tocou na bola antes de ela acertar a trave.

O Brasil acordou (um pouco) a partir dos 20?. A melhor chance ocorreu aos 24, numa cobrança de falta com Alex. Ainda era insuficiente. A justiça foi feita aos 32 (o time de Ricardo Gomes em momento algum mereceu a vitória). De Vaca subiu sozinho depois de chuveirinho dentro da área e ficou fácil fazer 1 a 0. Aos 39 e aos 40 ainda tiveram duas chances seguidas e não ampliaram.

O Brasil voltou melhor no segundo tempo. Dagoberto entrou no lugar do volante Paulo Almeida e agitou o time. O Paraguai, por sua vez, voltou a ser o time aguerrido do primeiro tempo e se fechou: o técnico Gustavo Méndez tirou o atacante Pablo Giménez e pôs um zagueiro, Alvarenga.

A primeira chance de empate surgiu rápido, aos 3?. Mas Dagoberto acabou perdendo ângulo ao tentar driblar o goleiro. Mais tarde, tentou encobrir o goleiro, errou de novo. O Brasil jogava um futebol medíocre demais para pensar em preciosismo. Não havia meio-campo, nem jogada ensaiada. Restava esperar que a sorte nos ajudasse. Aos 22, Daniel Carvalho fez linda jogada, foi derrubado na área pelo goleiro, mas o juiz ignorou o pênalti.

O futebol dos garotos brasileiros não tinha o mínimo de objetividade. Daniel Carvalho, Dagoberto e Nilmar faziam o que podiam, mas sem sucesso. Perigo, apenas nas bolas paradas, todas na barreira. A maior parte dos lances terminavam em levantamentos sem destino para a área. Para fechar o jogo, Dudu Cearense errou um gol sozinho debaixo da trave e Edu Dracena foi expulso. Não era mesmo o Brasil que o País gostaria de ver nas Olimpíadas de Atenas.

Ricardo Gomes assume culpa

Viña del Mar ? AE

Ricardo Gomes deixou o gramado do Estádio Sausalito com futuro incerto. O treinador, o que não conseguiu classificar o futebol do Brasil para as Olimpíadas, assumiu a responsabilidade pelo fracasso no Chile e, a partir de hoje, fica sem função. “A culpa não é dos jogadores, mas minha”, disse o técnico, contratado pela CBF, no ano passado, com a missão de preparar time suficientemente equilibrado para levar o País à inédita medalha de ouro. A não ser que Ricardo Teixeira resolva atribuir-lhe novas tarefas, pode sondar mercado de trabalho em clubes.

Não vale como desculpa a ausência de Kaká – que ontem fez dois gols para o Milan – ou do zagueiro Luisão, que o Benfica não quis ceder. O grupo que foi ao pré-olímpico contou com jogadores jovens, mas com experiência em decisões. Os santistas Elano, Diego, Robinho, Paulo Almeida e Alex conquistaram o título brasileiro de 2002 e foram vice-campeões da Libertadores de 2003. O goleiro Gomes, os laterais Maicon e Wendell, o zagueiro Edu Dracena ajudaram o Cruzeiro nas campanhas vitoriosas da Copa do Brasil e do brasileiro de 2003. Rochemback já passou pelo Barcelona e atualmente defende o Sporting, de Lisboa.

O Brasil caiu porque não teve padrão – oscilou desde a primeira fase e falhou no momento decisivo. Ricardo Gomes não foi claro na estratégia.

Humilhação

Cabisbaixos, humilhados, os jogadores brasileiros tentavam explicar o inexplicável no final da partida. Dagoberto, que entrou no intervalo e, nos primeiros minutos, melhorou o time, disse que a partida foi perdida no primeiro tempo, quando a equipe esteve irreconhecível.

O goleiro Gomes chorou muito após o apito final e preferiu fugir das entrevistas. O goleiro, bastante criticado na maior parte dos jogos da Seleção sub-23 neste pré-olímpico, ontem fez uma boa partida, salvando o time em lances importantes, principalmente no primeiro tempo, quando a tragédia poderia ter sido maior.

Campeã

Mesmo já classificada para os Jogos Olímpicos de Atenas, a Argentina entrou em campo determinada e empatou por 2 a 2 com o Chile, neste domingo, em Viña del Mar. Com o resultado, o time do técnico Marcelo Bielsa sagrou-se campeão do torneio pré-olímpico ao terminar em primeiro no quadrangular final, com sete pontos. O Paraguai, que ficou com a segunda vaga para as Olimpíadas, ficou com seis pontos.

Humilhados, jogadores se negam a falar

Os jogadores brasileiros saíram atordoados do Estádio Sausalito. Muitos passaram direto pelo corredor que ligava o vestiário ao local onde estava o ônibus, fazendo sinal de que não iam falar. E os que pararam não conseguiram encontrar explicação para o desastre.

Um torcedor com a camisa da torcida Pavilhão Nove, do Corinthians, ficou ao lado do ônibus xingando todos os jogadores e cobrando raça, além de pedir para Ricardo Gomes deixar o Brasil e ir “treinar um time na Arábia”. O único que reagiu foi o atacante Marcel – um dos que não deram entrevista. Ele encarou o torcedor e devolveu os insultos. Os outros entraram de cabeça baixa no ônibus.

Robinho, que mais uma vez ficou devendo, respondeu apenas a uma pergunta, disse que o time tinha tentado fazer o melhor possível e foi correndo para o ônibus. Já Diego, que durante o jogo foi vaiado pelos torcedores brasileiros, não fugiu das entrevistas e foi o último a entrar no ônibus, que deixou o Sausalito às 19h50, horário chileno.

Ele admitiu que não jogou bem, e justificou dizendo que estava muito cansado. “Eu pensava nas jogadas, tentava fazer, mas as pernas não iam. Estava com a musculatura muito dolorida e não consegui jogar.”

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