Brasil pega a China com obrigação de jogar bem

Seogwipo (AE) – Se torcida ganha jogo – como diz um velho ditado do futebol, a seleção brasileira precisa se cuidar hoje. Vai enfrentar a China, uma equipe frágil que, após a primeira rodada da Copa do Mundo da Coréia da Sul e do Japão, quando foi derrotada pela Costa Rica por 2 a 0, deixou a imagem de time mais fraco do Grupo C. Já o Brasil venceu na estréia a Turquia, por 2 a 1, de virada, e pode ficar bem próximo da segunda fase com mais três pontos.

A partida, válida pela segunda rodada da primeira fase, acontece às 8h30 (horário de Brasília), no Estádio Jeju, na paradisíaca ilha de Jeju, no Sul da Coréia. Porém, se dentro do campo os chineses estão longe de apresentar a força de seleções mais tradicionais, fora dele possuem uma arma imbatível: a torcida.

Com uma população de cerca de 1,5 bilhão de pessoas, a China concentra praticamente 25% dos habitantes, ou melhor, dos torcedores do planeta. A proximidade entre os dois países – são, aproximadamente, três horas de vôo de Xangai, na China, até o território coreano – motivou uma verdadeira invasão de turistas e torcedores chineses às cidades onde sua equipe vai se exibir.

Em Seogwipo, por exemplo, o complexo hoteleiro está próximo de sua capacidade máxima. Quem chegou à ilha na véspera do jogo encontrou muitas dificuldades para encontrar vagas. E os problemas vão desde os apartamentos mais sofisticados até os motéis para pernoites. “Hoje (ontem) até conseguimos um quarto em hotéis centrais. Mas amanhã (hoje), dia do jogo, é impossível. Está tudo lotado”, era o discurso dos agentes de turismo coreanos.

E a invasão de chineses vai se traduzir no local da partida. Estima-se que a capacidade do estádio seja de 45 mil pessoas. Dessas, calcula-se que 35 mil venham da China. O restante vai ser ocupado por coreanos, turistas internacionais e uma minoria de brasileiros que vive na Coréia ou que está no país a passeio.

Descaso

Para os jogadores da seleção brasileira, ter a torcida contra em um mundial, fato raro de acontecer, por causa da admiração, simpatia e interesse que o futebol do Brasil ainda desperta ao redor do mundo, não vai ser significativo. O negócio, para eles, é jogar. “Isso conta só no momento de fazer a festa ou vender ingresso”, disse o meia-atacante Juninho para, na seqüência, lembrar uma máxima do futebol.

“Torcedor não entra no gramado. Lá dentro são onze contra onze.” Já o capitão Cafu, que assumiu o posto no lugar de Emerson, cortado por causa de uma contusão no ombro direito, mostrou que o discurso do técnico Luiz Felipe Scolari, que insiste em dizer que a China é uma equipe tão forte quanto a do Brasil (na última atualização do ranking da Fifa a China aparece na 50.ª posição), foi assimilado apenas parcialmente pelo grupo de jogadores.

Para o lateral-direito, o adversário vai ser respeitado como todos os outros. “Mas temos de meter o pau”, afirmou, categórico. Medo? Além de dizer que a seleção brasileira está equiparada a todas as demais, Scolari foi o autor de frases durante a semana que não animam muito os torcedores apreciadores do futebol-arte. “Essa história de jogar bonito já era” foi uma delas. Para enfrentar os chineses, o treinador brasileiro não quis saber de deixar o time mais ofensivo. A única alteração que promoveu em relação à equipe que estreou na Copa foi na zaga – Edmílson deu lugar a Anderson Polga. Scolari diz acreditar que, dessa forma, vai melhorar a cobertura do setor, fundamental frente à `artilharia’ oriental.

Ronaldo quer ser artilheiro

Seogwipo

(AE) – Se na prática o atacante Ronaldo ainda não consegue apresentar o mesmo futebol que o transformou, por duas vezes seguidas, no melhor jogador do mundo, na teoria a história é diferente. A evolução no tratamento e fortalecimento da musculatura do joelho direito, que o afastou do esporte por quase dois anos, deu a ele mais confiança.

Hoje, Ronaldo não é mais um jogador que agradece o fato de poder jogar novamente. Quer mais. O atacante brasileiro já começou a falar como um dos concorrentes à artilharia. O líder na corrida pela condição de líder entre os goleadores, até o momento, é o alemão Klose, que já marcou quatro vezes em duas rodadas. O brasileiro tem apenas um.

E nem mesmo os insistentes e nada convincentes discursos do treinador Luiz Felipe Scolari sobre a igualdade de condição do Brasil em relação às demais seleções parece ter sensibilizado Ronaldo. Para o “Fenômeno”, respeito à parte, a seleção brasileira tem de se impor e ir para frente em busca do gol. “Temos, sim, é de partir para cima, impor o nosso jogo, pensar em fazer gols e não tomar”, afirmou o atacante, titular absoluto na equipe de Scolari. “O negócio é fazer o máximo de gols possível.” Para isso, já avisa: não pretende sair durante a partida. “Vou fazer de tudo para jogar os 90 minutos em todas as partidas.”

Homem-gol

Mesmo consciente de que esse mundial representa um verdadeiro divisor de águas para sua carreira – o sucesso pode mantê-lo entre os principais nomes do futebol internacional, enquanto o fracasso deve consolidar sua queda no mercado -, Ronaldo não quer se poupar – muito pelo contrário. “Sempre fui artilheiro e vou fazer de tudo para continuar dessa forma.” (SB e WV)

O Brasil se isola na ilha de Jeju

Edmundo Leite

Seogwipo

(AE) – Após dias de convivência no clima pesado da industrial Ulsan, a seleção brasileira mudou de ares e isolou-se. O time de Luiz Felipe Scolari chegou ontem de manhã (noite de quinta no Brasil) a Seogwipo, na bela ilha de Jeju, onde hoje enfrenta a China pela segunda rodada da Copa do Mundo. O isolamento começou já na chegada, depois de uma hora de vôo desde Ulsan. A delegação sequer passou pelo saguão do aeroporto, entrando no ônibus ainda na pista e partindo para o Paradise Hotel, que fica na outra extremidade da ilha. Lá, evitou qualquer contato externo.

O nome do hotel é a melhor definição para a ilha. Com praias e cachoeiras belíssimas e outras paisagens encantadoras, Jeju é um verdadeiro paraíso. Em Ulsan, da janela do hotel onde o time está concentrado e a caminho do campo de treinamento, as paisagens eram indústrias e um estaleiro. No endereço dos próximos dias – a equipe volta a Ulsan na manhã seguinte ao confronto com a China – tudo é diferente. Ao lado do muro, uma trilha leva a uma bonita encosta de pedras no mar. O prédio principal do resort fica no meio de jardins repletos de palmeiras e muito verde.

O técnico Luiz Felipe Scolari quer tranqüilidade total em Seogwipo e, por esta razão, proibiu os jogadores de qualquer contato com jornalistas e torcedores, ao contrário do que acontecia em Ulsan. O Paradise é um resort, cujas acomoda-ções estão reservadas exclusivamente para a delegação brasileira. Até mesmo integrantes do staff oficial de apoio ao time encontrava dificuldades para entrar no local, precisando de muitas conversas ao telefone e idas e vindas dos cadetes da polícia para conseguir a liberação.

Decepção

Quem não gostou do rigor da segurança foi a torcida. Vários brasileiros passaram pelo local, mas foram embora logo que souberam que não haveria a menor possibilidade de fotos ou autógrafos. Um grupo de paulistas não escondia a decepção. “Não vamos perder tempo aqui”, diziam entre surpresos e decepcionados com o fim da regalia que estavam acostumados a encontrar na concentração de Ulsan. Mas até na cidade que acolheu o Brasil o ambiente já está mudando nos últimos dias, por causa do descontentamento da Fifa com a situação. E a tendência é que a situação piore cada vez mais a partir da segunda fase.

Depois de jogar com a China, o time volta a UIsan, onde fica mais quatro dias até seguir para Suwon, palco do confronto com a Costa Rica. A partir daí os jogos serão todos no Japão, exceto se o Brasil perder na semifinal. Neste caso, o time teria de voltar à Coréia, mais especificamente a Daegu, para disputar o 3.º lugar.

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