Auditores condenam quem pagou propina, mas absolvem quem recebeu

O resultado do julgamento do caso Bruxo causou indignação em juristas envolvidos no caso. O fato de a condenação ter se restringido aos acusadores, e não afetado os acusados, espantou quem acompanhou o inquérito desde o início.

O auditor Clóvis Costa, que participou da votação, disse que havia provas concretas para condenar pelo menos nove denunciados. ?A absolvição de Sandro da Rocha, por exemplo, foi uma absoluta incoerência jurídica. Condena-se quem paga o suborno (Genézio Camargos, do Foz do Iguaçu) e absolve-se quem recebe?, observou.

Segundo Costa, os depoimentos de Nelson Boreico e João Alberto Ituarte, do Prudentópolis, foram contundentes e conclusivos. Seguro, Ituarte esmiuçou o esquema de corrupção, segundo ele chefiado pelo diretor da FPF Johelson Pissaia, e apresentou como prova a agenda com números de telefones de árbitros escritos por Marcos Tadeu Mafra, suposto enviado de Pissaia. O auditor também considerou fundamental o depoimento do ex-diretor de árbitros José Carlos Marcondes, que admitiu ter afastado Antônio Salazar Moreno de uma partida disputada em 2000 por uma denúncia de corrupção. ?As absolvições de Mafra, Salazar e Pissaia são inexplicáveis?, afirma Costa, que questionou o menosprezo do tribunal pleno às provas testemunhais. ?O TJD sempre baseou suas decisões em relatos, como as súmulas de árbitros. Se depender de provas materiais, não pode condenar ninguém, até pela dificuldade em obtê-las?, indagou, lembrando que o TJD não pode, por exemplo, pedir quebra de sigilo bancário, fiscal ou telefônico de denunciados.

Outra conclusão óbvia é que, se três dirigentes foram eliminados, existe mesmo um esquema de corrupção no futebol paranaense. ?Seria ingenuidade acreditar que Cidão era o único envolvido?, falou o auditor.

No fundo, as penas aplicadas foram praticamente inúteis. Cidão já havia abandonado o apito na FPF, Gubert estava afastado do Operário e o Marechal de Gilson Pacheco sequer disputou a Série Prata em 2005. Apenas Genézio Camargos, do Foz, ainda estava na ativa.

O auditor Octacílio Sacerdote Filho, que presidiu o inquérito e colheu inúmeros depoimentos, foi ainda mais contundente com os colegas de tribunal. Ele também usou o termo ?incoerência? para classificar a absolvição de Sandro da Rocha. ?Como se pode absolver uma pessoa e condenar outra com base nas mesmas provas??, indagou o promotor, que acompanhou o julgamento e parabenizou Evandro Roman por ter feito as denúncias. Sacerdote acreditava que apenas Fernando Luís Homann e Amoreti Carlos da Cruz se livrariam da eliminação. ?O TJD perdeu a chance de dar um exemplo de cidadania e moralidade e mostrar que no futebol do Paraná quem transgride a lei é punido?, desabafou Sacerdote.

A FPF anunciou que os denunciados seguem afastados enquanto o caso estiver na Justiça – a Procuradoria do tribunal já anunciou que irá pedir recurso no STJD. O ex-diretor de árbitros Valdir de Souza e o apitador Carlos Jack Magno disseram que não pretendem retomar suas funções.

Coxa quer que Roman apresente provas

A diretoria do Coritiba emitiu ontem, através da assessoria de imprensa, uma nota oficial sobre as acusações do árbitro Evandro Rogério Roman. Ele disse, em seu depoimento durante o julgamento do ?caso bruxo?, que um dirigente coxa teria sondado um dos assistentes da partida com o Londrina, pela semifinal do Paranaense 2003, para que o Cori fosse ?ajudado?. Roman não disse o nome nem do diretor nem do bandeirinha, afirmando que fará isso quando tiver em mãos a gravação da suposta proposta de manipulação. A posição apresentada na nota oficial segue a adotada pelo presidente Giovani Gionédis e pelo restante da diretoria desde o início da crise de credibilidade da arbitragem tanto nas denúncias do ?caso bruxo? quanto na manipulação de jogos confessada por Edílson Pereira de Carvalho.

A íntegra da nota é a seguinte: ?O Coritiba Foot Ball Club repudia as declarações do árbitro Evandro Rogério Roman, no julgamento realizado na última segunda-feira (10/10) no Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná. A diretoria do Coritiba não concorda com qualquer atitude que possa gerar interferência em resultados de jogos e está interpelando o árbitro através de seu departamento jurídico para que o mesmo apresente as provas de acusação, caso contrário o mesmo poderá ser processado criminalmente pelo clube?.

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