Opinião da Tribuna

Atlético demorou, mas tomou uma posição clara e correta

Quando a Tribuna se posicionou na segunda-feira (11) sobre o “Waltergate”, a realidade era uma. Naquele momento, Walter tinha cometido um erro (largar o jogo contra o Londrina porque não entrou) e a torcida organizada Os Fanáticos havia cometido um erro maior (o vídeo ameaçando o jogador).

Quando amanheceu a terça-feira (12), o cheiro de pizza estava no ar. A diretoria do Atlético não falou nada, Walter pediu desculpas à organizada, a torcida disse que “qualquer material multimídia que não seja divulgado em nossos canais oficiais não representa a opinião da instituição”.

Mas os fatos do dia foram mudando a história. Pela manhã, Mário Celso Petraglia aparece no CT do Caju. Em seguida, Paulo Autuori dá uma fortíssima entrevista. Deixa claro que não gostou da atitude de Walter, tira ele do time do jogo desta quarta (13) contra o Brasil de Pelotas. E uma frase chama a atenção: “Entre vontade e necessidade vamos na necessidade”. Dá a entender que, se dependesse apenas do treinador, o atacante não jogaria mais no Furacão.

Walter também pede desculpas aos companheiros e ao treinador – se bem que para Autuori não adiantou muito. Em seguida, nota oficial do Atlético informa que Walter recebeu uma “punição administrativa”; em resumo, uma multa no salário. Até o fato mais relevante de todos: em outra nota oficial, o clube anuncia uma série de medidas contra as organizadas.

Qualquer adereço que identifique Os Fanáticos ou Ultras na Arena da Baixada está proibido – camisas, faixas, bandeiras, bateria. Acabou também o acordo que permitia que o setor onde fica a principal torcida organizada não tivesse cadeiras, para que todos ficassem de pé. O estádio, portanto, ficará em breve todo uniforme, com todos os setores com cadeiras.

A péssima repercussão das atitudes da organizada entre os próprios torcedores mostra que a posição atleticana terá respaldo. Não há quem tenha achado correto alguns cidadãos fazendo uma emboscada ao ônibus do clube ou falando que Walter tenha que jogar “no amor ou no terror”.

Não se sabe se Walter achou demasiada sua punição. O que é certo é que ele tentou, conscientemente ou não, quebrar a hierarquia, jogando a torcida contra Paulo Autuori. A punição é pra lá de compreensível, e mostra que o jogador precisa entender que mesmo sendo o melhor jogador do Atlético, é um igual entre os companheiros.

Mas já se sabe que a torcida organizada achou exagerada a punição que sofreu. Para recuperar o crédito que tem (além das ações sociais que realiza), precisa de um gesto também claro – identificar quem participou do vídeo e anunciar a expulsão dessas pessoas da facção. E com isso permitir que o Atlético faça um processo de exclusão daqueles que forem sócios. Mostraria que as organizadas estão realmente interessadas em acabar a violência, mesmo que nesse caso ela tenha ficado na ameaça.