Atlético campeão 2001

Ambiente no Anacleto Campanella era favorável ao Furacão

Era 23 de dezembro, um domingo chuvoso. Lágrimas do céu numa cidade com nome de santo. Quase 3 mil atleticanos invadiram São Caetano do Sul naquele dia. Mas apenas 2400 felizardos conseguiram entrar no Estádio Anacleto Campanella, palco da decisão. Parecia mais. A acanhada casa do time paulista ganhou ares de caldeirão.

Os primeiros ônibus pintados de vermelho e preto começaram a chegar no ABC por volta das 11h da manhã. A polícia fez todo o acompanhamento no trajeto até o estádio, organizando a fila de entrada e evitando possíveis confrontos. A garoa insistente, por vezes atropelada por chuva mais forte, garantiu um Natal mais gordo pros vendedores de sombrinhas e capas de chuva.

Longe de sugerir arrogância, mas os jogadores do Atlético esbanjavam confiança. Sabiam que formavam uma equipe melhor que a do adversário. Nem tanto pela boa vitória no primeiro duelo decisivo, mas pelo desejo incomum de conquistar uma estrela que colocaria fim no martírio da torcida rubro-negra. Afinal, já eram 16 anos de intensa provocação por parte dos coxas, até então únicos campeões brasileiros.

Na verdade, o clima positivo que culminou com a conquista no último jogo da temporada começou a se formar ainda nas quartas, contra o São Paulo. A Arena da Baixada atingiu o ápice como caldeirão e seguiu em ebulição nos jogos seguintes, contra Fluminense e o próprio São Caetano. Muito desse ponto de fervura foi junto com a galera pro Anacleto, onde os gritos de guerra dos atleticanos eram mais ouvidos que os dos donos da casa.

Eram 21 minutos passados do segundo tempo quando olhos arregalados e atentos viram Kléber receber a bola na intermediária, se livrar do marcador e abrir na esquerda pra Fabiano. O lateral deu poucos passos e, da quina da grande área, meteu o pé. O goleiro Silvio Luiz rebateu – aliás, como o técnico Geninho havia alertado ainda na concentração – e, neste momento, a respiração da galera travou. Dois longos e intensos segundos de silêncio até que Alex Mineiro chapou a bola pro fundo da rede.

Esses dez segundos, da recepção de Kléber até a conclusão de Alex Mineiro, resumem aqueles noventa minutos. A partir daí ninguém mais deu bola pra bola. Nos instantes finais, Geninho até ameaçou invadir o campo. Ansiedade pura, de alguém que não conseguia enxergar que a coroa já tinha dono. A torcida já enxergava. Seus atletas também. E, no dia seguinte, a capa da Tribuna colocou o Atlético no céu.

FICHA TÉCNICA

BRASILEIRÃO
Final – Jogo de volta

São Caetano 0x1 Atlético

São Caetano
Silvio Luiz, Mancini, Daniel, Dininho e Marcos Paulo (Müller); Serginho (Bechara), Simão, Adãozinho e Esquerdinha (Marlon); Anailson e Magrão.
Técnico: Jair Picerni

Atlético
Flavio, Gustavo, Nem e Rogerio Corrêa (Igor); Alessandro, Cocito (Pires), Kléberson, Adriano e Fabiano; Kléber (Souza) e Alex Mineiro.
Técnico: Geninho

Local: Anacleto Campanella (São Caetano do Sul-SP)
Árbitro: Carlos Eugenio Simon (FIFA-RS)
Gol: Alex Mineiro, 21 do 2º
Cartões Amarelos: Mancini, Simão, Esquerdinha (SAO); Nem, Rogerio Corrêa e Adriano (CAP)