Atlético perde e praticamente entrega o título

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Washington foi muito marcado
pelos vascaínos.

É. Mais uma vez um carioca desestabilizou o caminho do Atlético. Assim como na temporada de 1996, quando o goleiro Ricardo Pinto tomou uma paulada na cabeça, quando a equipe enfrentava o Fluminense, nas Laranjeiras, e desfalcou a equipe no restante da competição, por conta de um traumatismo craniano, e o Atlético se viu sem uma peça fundamental para buscar as finais do brasileiro este ano outra equipe do Rio de Janeiro impede o sonho do bicampeonato nacional do Rubro-Negro.

Ontem à tarde, em São Januário, contra o Vasco, o Atlético não conseguiu superar o tabu de nunca ter vencido os cruzmaltinos em seu estádio. Perdeu por 1 a 0, com gol de bola parada do zagueiro Henrique. Pior, viu o Santos quebrar o tabu de nunca ter vencido o São Caetano em brasileiros no Anacleto Campanella, em São Caetano do Sul – venceu por 3 a 0 -, e sentir desmoronar a vantagem, conquistada ao longo de uma das melhores campanhas do Rubro-Negro em nacionais.

Com os resultados combinados, o Atlético passa a ser vice-líder. Entra na última rodada precisando vencer o Botafogo e torcendo pelo mesmo Vasco, que vai ao interior paulista (o Santos não tem mais mandos de campo neste Brasileiro) para enfrentar o Peixe.

Ou seja, o domingo foi o pior do Atlético na temporada de 2004. Nem mesmo o fato de ter perdido o título paranaense em casa, no último mês de abril, para o arqui-rival Coritiba, em plena Arena da Baixada, será tão sentida quanto a tarde de ontem.

O jogo começou em alta velocidade. Os dois times começaram a partida sem período de estudos e partiram decididos para estabelecer uma vantagem no placar. Sem a mesma categoria e conjunto que o Atlético, o Vasco partiu para cima na base da raça.

Com a defesa bem postada, no entanto, o Atlético soube segurar o ímpeto dos vascaínos. Mas a ausência do meia Jádson começou a ser sentida quando o Atlético precisava de qualidade no meio-campo, para distribuir as jogadas.

Embora o Vasco tenha ficado com a posse de bola mais tempo, na etapa, foi do Atlético a grande chance no início da partida, quando os avantes Washington e Denis Marques trocaram passes no ataque e o artilheiro do campeonato finalizou. Éverton espalmou nos pés de Washington e ele chutou para fora, à direita do gol vascaíno.

Sem criatividade no meio-campo, com o ataque mais isolado que o normal e sentindo o peso da responsabilidade, o Atlético passou a preocupar pouco a defesa vascaína, que teve em Henrique um herói da equipe.

Precisando da vitória para não correr riscos de ser rebaixado, o Vasco voltou mais ousado no segundo tempo, com Marco Brito na vaga do volante Júnior. O ex-coxa deixou o jogo mais empolgante, pois a defesa atleticana começou a cometer falhas que não costuma fazer.

Mas foi o Atlético quem tomou a iniciativa, duas vezes com Fernandinho. Na primeira, ele pegou a bola e só foi travado na hora de finalizar. Logo depois, o meia arrancou do campo de defesa, avançou driblando e foi desarmado. A bola sobrou para Washington, que mandou por cima. Logo depois, Washington foi desarmado e a bola sobrou para Denis Marques, que assustou Éverton, que espalmou para escanteio.

A seguir, no entanto, o Vasco acordou. Aproveitando, ora falha da defensiva, ora criando jogadas, foi para cima da defesa atleticana criando muitas oportunidades. Anderson perdeu lance cara a cara com Diego, mandando por cima. Mas por ceder tanto espaço, o Atlético foi punido. Petkovic cobrou falta sofrida por Thiago Maciel no lado direito da área. Ele alçou na entrada da pequena área. O zagueiro Henrique não perdoou e mandou para a rede. Falha de toda a zaga e de Diego, que não saiu do gol e deixou a bola passar entre suas mãos.

Ygor ainda teve chance de ampliar em outra falha da defensiva atleticana, mas o volante isolou a bola quando estava sozinho na marca do pênalti. Depois, o Atlético tomou as rédeas do jogo. Entretanto, mesmo com posse de bola, buscou o ataque sem a mesma qualidade que marcou sua campanha na temporada. Sem organização, foi presa fácil e só não tomou o segundo por preciosismo do ataque vascaíno, que preferiu manter a posse de bola ao invés de ampliar a vantagem.

Levir dá muitas explicações, mas não convence

Lamentos, lamentos e mais lamentos. No clima de velório que se transformou o vestiário do Atlético, o técnico Levir Culpi tentava entender as razões para a tropeçada quando a equipe estava quase com a mão no título do Campeonato Brasileiro. Apatia do time, ineficiência nas conclusões, nervosismo dentro de campo, fora o clima de guerra proporcionado por Eurico Miranda, tudo contribuiu para o péssimo futebol apresentado ontem em São Januário.

"O jogo, na minha opinião, teve um primeiro tempo muito morno. As duas equipes criaram poucas oportunidades ofensivas e, no segundo tempo, nós voltamos melhor e o time criou boas oportunidades para marcar", analisou o treinador, numa improvisada entrevista coletiva no precário acesso ao vestiário. De acordo com ele, o Vasco acabou sendo mais eficiente na "última bola". "Quem foi mais competente foi o Vasco. Infelizmente, nós tínhamos que aproveitar as oportunidades. Elas apareceram e nós não tivemos a competência necessária para finalizar", lamenta.

Para Levir, faltou acertar o lado direito, que teve Raulen na ala, mas que não conseguiu repetir as últimas atuações. "Nós não tivemos a contundência pela lateral direita, principalmente no primeiro tempo. Já com Pingo, a gente criou situações para marcar. Deu para corrigir, com o Pingo e com o David, mas não concluímos", frisou. Durante o segundo tempo, Fabiano e Raulen discutiram várias vezes.

Além disso, Levir voltou a criticar a forma como a diretoria do Vasco tratou a partida. "A mobilização por parte do Vasco eu não preciso nem comentar e acho que esse foi o maior problema do Atlético nos últimos jogos. O último suspiro dos times tem sido sempre contra o Atlético. Então, mobiliza até a Aeronáutica, a Marinha, quem puder e isso tem pesado contra o Atlético no final", comparou. O time já havia sofrido com a mobilização do Grêmio, que empatou a partida em Erechim (depois de estar perdendo por 3 a 0) ainda na esperança de se livrar do rebaixamento.

Time e torcida vivem o inferno. Como sempre

Se dentro de campo o clima era de final de Copa do Mundo, fora era de praça de guerra. Muita hostilidade contra a delegação do Atlético e seus torcedores nas cercanias do Estádio de São Januário. Ao chegar próximo do local do jogo, todos no ônibus tiveram que ouvir palavras de ordem contra a equipe rubro-negra, além de várias pedras atiradas contra o ônibus. A torcida sofreu mais e teve que enfrentar até corintianos que estavam indo para Niterói.

A Tribuna presenciou a chegada do veículo com o time do Furacão. Como é de praxe, todas as cortinas estavam fechadas no ônibus e apenas se via o motorista e mais três seguranças. Mesmo assim, a torcida vascaína entoou xingamentos em coro, além dos vários objetos arremessados contra o ônibus. O policiamento ao redor da Colina não era dos maiores e apenas algumas viaturas e a cavalaria faziam a escolta. Fora do caminho atleticano, poucos policiais, ou nenhum. Pouco para conter a massa. Nada de mais grave, no entanto, aconteceu. Mas, dentro do estádio, Eurico Miranda mandou trancar a porta de acesso ao gramado e o time só pôde entrar em campo na hora da partida.

Mesmo com apenas 15 mil ingressos colocados à venda, o que se ouvia aos redores do local da partida era de que Eurico Miranda havia "liberado". A informação foi confirmada pelo major Marcelo Passos, comandante do Grupo Especial de Policiamento em Estádios (Gepe). Muita gente acabou ficando do lado de fora e cerca de cinco mil pessoas entraram "na faixa". "Se anuncia um produto e esse produto esgota, acaba acontecendo isso", lamentou o policial. Ele teve que administrar a multidão fora de São Januário. Muitos com ingresso na mão tiveram que brigar para entrar no portão das "sociais".

Pior situação viveu a torcida do Rubro-Negro. Após enfrentarem 13 horas de viagem, 15 ônibus foram retidos na Avenida Brasil (que dá acesso ao Rio para quem vem de São Paulo) pela Polícia Militar. Alguns torcedores desses veículos só conseguiram entrar no estádio aos 15 minutos do segundo tempo, horário em que a PM conseguiu controlar a massa de vascaínos.

Outra ocorrência aconteceu em Taubaté, região metropolitana de São Paulo. A torcida Camisa 12, do Corinthians, armou uma emboscada para os atleticanos. Os paulistas estavam rumando a Niterói para acompanhar o Timão contra o Botafogo, mas preferiram esperar os rubro-negros para entrar em confronto. Pelo menos um veículo teve uma janela estilhaçada, além de alguns disparos com arma de fogo.

 Eurico diz, Eurico faz

Rio – A interceptação dos ônibus de torcedores paranaenses era previsível. De acordo com informações da Rede Globo, o diretor de futebol do Santos, Francisco Lopes, fez um telefonema para o presidente do Vasco, Eurico Miranda, para falar sobre os jogos de ontem.

Eurico teria dito o seguinte: "Façam a parte de vocês, porque aqui o Atlético não ganha". A respeito da torcida, Eurico teria dito: "Torcida eles (Atlético-PR) não vão ter. Diz que vem 10 mil torcedores, mas aqui eles não vão entrar, até porque só tem mil ingressos. Mas não tem problema. O Rio tem muitos pontos turísticos e o resto vai poder passar o domingo passeando pela cidade", disse. A maioria dos ônibus retidos pela PM era da torcida Os Fanáticos, que depois conseguiu entrar no estádio.

A explicação do comandante do Gepe, major Marcel, era de que o espaço reservado para a torcida atleticana estava tomado e poderia haver tumulto. Mas a transmissão ao vivo mostrou que neste setor havia muito espaço.

A Polícia Militar suspeita de que a grande quantidade de torcedores tenha sido provocada pela venda de ingressos falsificados. Tanto que, aos dez minutos de partida, os portões de São Januário foram fechados e vários vascaínos ficaram do lado de fora com as entradas nas mãos.

Em um dos acessos de São Januário, torcedores conseguiram furar o bloqueio e entraram no local, mas foram contidos pela polícia, que disparou tiros para o alto. Na confusão, a torcida arremessou pedras e garrafas contra os policiais e uma jovem, de 16 anos, foi pisoteada, mas foi atendida no posto de atendimento.

Festa em cima da mesa do juiz

Rio – Festa, desabafo, choro e ameaças foi o retrato do vestiário do Vasco, após a vitória de ontem à tarde sobre o Atlético-PR, por 1 a 0, em São Januário. Um dos mais exaltados era o presidente do clube Eurico Miranda que em uma mistura de fúria e alegria não se intimidou e mandou um recado para o Santos, adversário da última rodada: "Falei que tinham que respeitar o Vasco, agora é a vez dos santistas".

Ao final do confronto, o dirigente invadiu o gramado e subiu na mesa do quarto árbitro para comandar a festa com os torcedores que estavam nas arquibancadas de São Januário. Antes da partida, os dirigentes vascaínos ameaçaram entrar com uma queixa contra o Atlético-PR no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). O vice-presidente Jurídico do Vasco, Paulo Reis, frisou que o atacante Denis Marques está sendo escalado irregularmente.

Entre os jogadores, o alívio por ter alcançado 54 pontos e matematicamente assegurado uma vaga na Série A do Campeonato Brasileiro em 2005 era evidente. O zagueiro Henrique, autor do gol da vitória, era um dos mais entusiasmados e, sem conter o choro, desabafou.

O técnico do Vasco, Joel Santana, também não poupou críticas ao adversário. Lembrou que os "atos de menosprezo" praticados pelos jogadores e a torcida do Atlético-PR foram superados pela garra, determinação e raça dos atletas vascaínos.

"Já havia vencido eles neste campeonato, por 6 a 0, quando treinava o Internacional e ninguém lembrou disso. Só armei um esquema tático baseado nessa formação", falou o técnico do Vasco. "Hoje coroamos um objetivo. Livramos o clube da ameaça de rebaixamento."

CAMPEONATO BRASILEIRO

Gol: Henrique, aos 21? do 2.º tempo.

Local: São Januário (Rio de Janeiro-RJ)

Árbitro: Wilson de Souza Mendonça (FIFA-PE)

Assistentes: Erick Bartholomeu Bandeira (PE) e Luciano José Coelho Cruz (PE)

Cartões amarelos: Henrique, Ygor e Ivan.

Público: 14.540 pagantes

Renda: R$ 101.780.

45.ª Rodada

VASCO 1×0 ATLÉTICO

Vasco: Éverton; Thiago Maciel (Claudemir), Fabiano (Gomes), Henrique e Diego; Ygor, Coutinho, Júnior (Marco Brito) e Petkovic; Daniel e Anderson. Técnico: Joel Santana.

Atlético: Diego; Marinho, Rogério Correia e Marcão; Raulen (Pingo), Alan Bahia (Moraes), Fabiano, Fernandinho e Ivan (Davi); Dênis Marques e Washington. Técnico: Levir Culpi.

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