Atletas do Real Brasil são abandonados pela diretoria

idade entre 14 e 20 anos, que pagaram até R$ 6.600 para participar do projeto do Real Brasil Clube de Futebol, se rebelaram com a falta de estrutura dada pela instituição. O Real Brasil tem a sua sede e projetos abrigados no Estádio Pinheirão, da Federação Paranaense de Futebol, no bairro do Tarumã, onde a maioria dos inscritos mora e treina. Muitos vieram de cidades do interior do Paraná e de outros estados, motivados pela divulgação da idéia do projeto em meios de comunicação, página na internet e a divulgação feita também numa emissora de televisão que mantinha um programa esportivo que levava o nome da empresa.

O Real Brasil pertence ao empresário Aurélio Almeida, que em anos anteriores era presidente do Império, que já tinha passado por Toledo e Maringá, onde disputou o Campeonato Paranaense da 1.ª Divisão, e deixou um rastro de problemas.

Alegando que não estavam sendo assistidos conforme o contrato que assinaram e pagaram com o clube-empresa, muitos dos inscritos na escola do Real Brasil começaram a deixar ontem mesmo a sede do projeto. ?Não temos aqui nenhuma condição de trabalho.

Falta comida e até água, em algumas ocasiões?, disse Alex do Santos, 20 anos, que veio de São Paulo acreditando na proposta inicial do Real Brasil. ?Conheci a estrutura pela internet, e vim para cá. Mas agora estou indo embora?, disse, desiludido, após arrumar as malas e pegar suas coisas que estavam num dos alojamentos com dois beliches e que dividia com mais dois outros atletas da sua idade. ?Vou ficar na casa da minha namorada, que reside em Curitiba. Mas volto para São Paulo, onde espero agora conseguir um emprego. Estou desistindo do futebol?, afirmou Alex que nos seis meses que permaneceu no projeto jogou como zagueiro nos juniores do Real, que estava disputando o Campeonato Paranaense Sub-20.

O pai de outro jogador, Joel Fortunato dos Santos, que mora em Campo Largo também estava no Pinheirão no meio da noite de ontem. ?Vou entrar na Justiça.

A Federação terá que pagar pelo que gastei com a inscrição do meu filho.

Eles são também responsáveis em deixar que isso acontecesse?, comentou o pai, que reclamava da falta de condições do local onde os alunos moravam.

A revolta começou no início da tarde, após um alerta de um diretor da federação que foi ao local e disse que todos deveriam voltar para as suas casas, pois só poderiam ficar no Pinheirão até sexta-feira (amanhã), pois o Real estaria devendo aluguel e taxas para a FPF. ?Não sei se era diretor ou funcionário. Mas ele mandou que todos voltassem para suas casas, sem maiores explicações?, disse Joel Fortunato, que tentou, em vão, localizar alguém da direção do Real para esclarecer o assunto.

No início da noite, ainda sem a janta, as portas do refeitório e da dispensa foram arrombadas. Parte da comida e panelas desapareceram. Uma divisória dos alojamentos foi quebrada. Somente após várias ligações para os responsáveis pelo clube, foi autorizada o preparo de bifes e frangos para a alimentação de quem ainda estava no local.

Muitos dos menores se mostravam assustados e preocupados com a situação. Alguns disseram que iriam esperar até amanhã (hoje) para entrarem em contato com os seus familiares para ver o que fazer.

Os funcionários que trabalham no projeto também estariam dois meses e meio sem receber salários.

Desculpa esfarrapada

Carlos Simon

O empresário Aurélio Almeida usou uma curiosa justificativa para as graves acusações feitas por funcionários e jogadores do Real Brasil. Para o polêmico dono da equipe, a confusão foi criada por jogadores insatisfeitos com a condição de reserva.

Aurélio negou que haja jogadores do Real passando necessidade. Ele diz que a anuidade de R$ 6.600 é quase toda usada para custeio dos atletas, como estada, alimentação, lavanderia e comissão técnica. ?Nunca faltou comida. Quem criou essa confusão foi um grupinho pequeno, que está na reserva e ficou descontente. O futebol é assim. Mas tudo o que prometemos aos jogadores vamos cumprir?, falou.

Sobre a precariedade das instalações oferecidas aos atletas, o empresário culpou a Federação Paranaense de Futebol. ?Fizemos alojamentos para 200 pessoas, mas todos sabem que o Pinheirão tem problemas, às vezes cai a luz, há infiltração. Não podemos mexer numa casa que não é nossa?, disse, negando que tenha qualquer dívida com a FPF. ?Arrendei o Pinheirão por 10 anos e paguei quase tudo adiantado?, garante.

Aurélio acha que há alguém ?infiltrado? entre os atletas para promover a discórdia. ?Há pouco tempo houve um probleminha e tivemos que dispensar três treinadores. Também há ciúme porque vamos deixar o Pinheirão até dezembro e nos mudar para nosso próprio CT, em São José dos Pinhais?, falou.

Os planos para este CT são mirabolantes: o empresário jura que a área adquirida tem 360 mil metros quadrados, com 30 campos oficiais, perto da fábrica da Audi. ?Preparamos o Real para ser um dos maiores clubes do Brasil?, diz, aparentemente convicto.

FPF não despejou Real Brasil

Cauhê Miranda

A Federação Paranaense de Futebol nega qualquer responsabilidade com a situação dos atletas abandonados no Pinheirão. Segundo o superintendente Laércio Polanski, a FPF não está despejando o Real Brasil e aguarda que Aurélio Almeida, dono do clube, resolva o problema.

?O Real Brasil deve para a FPF, mas não estamos pressionando. Foram os representantes do clube que abandonaram a concentração. Hoje (ontem) não tinha ninguém lá. A Federação não tem nada a ver com o Real Brasil. Eles apenas locaram as instalações do Pinheirão?, afirma Polanski.

O superintendente diz que já falou com Aurélio Almeida e recebeu a promessa de que tudo será resolvido e o projeto do Real Brasil vai continuar. ?Entrei em contato com ele, que diz que até amanhã (hoje) vai resolver o problema. A FPF aguarda que ele realmente resolva?, conclui Polanski.

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