Atenas cada vez mais longe

A máxima “quem não faz, leva” traduziu exatamente a derrota do Brasil para a Argentina, por 1 a 0, na madrugada de ontem, válida pela abertura do quadrangular decisivo do Torneio Pré-Olímpico. O Brasil desperdiçou inúmeras chances e acabou sofrendo o revés aos 32 minutos da segunda etapa. Agora, a partida contra o Chile, na sexta, passa a ser de vida ou morte para os brasileiros.

As mudanças efetuadas pelo técnico Ricardo Gomes para a partida, inicialmente, surtiram efeito. Com três atacantes – Daniel Carvalho, Robinho e Marcel – e com dois volantes que saem para o jogo – Dudu e Rochemback, a seleção ganhou consistência ofensiva. Os dois volantes avançaram a marcação, facilitando a ligação com o ataque. Tanto que até os quinze minutos, só deu Brasil. A melhor chance aconteceu aos 9 minutos, quando Daniel Carvalho fez jogada de linha de fundo e serviu Robinho, cujo cabeceio percorreru toda a extensão da área.

Entretanto, a seleção não aproveitou as oportunidades criadas e viu a Argentina equilibrar a partida quando o técnico Marcelo Bielsa deu passagem a Clemente Rodriguez, que passou a aparecer como elemento surpresa na ponta direita.

“Começamos melhor, mas eles conseguiram equilibrar. O segredo agora é converter as chances criadas”, explicou o técnioco Ricardo Gomes.

Entretanto, a segunda etapa foi marcada pelo mesmo problema: as falhas no toque final. Marcel, muito acionado, não estava com a pontaria afinada e perdeu dois gols feitos. Como resposta, a Argentina foi mais contundente. Aos 32 minutos, Ferreyra cobrou falta na área e Rodriguez desviou de cabeça, marcando o único gol da partida e jogando um balde de água fria nos brasileiros.

Brasil 0x1 Argentina

Gol: Rodriguez aos 32 do 2.º tempo.

Brasil: Gomes, Maicon, Edu Dracena, Alex, Wendell (Maxwell); Fábio Rochemback (Nilmar), Dudu Cearense, Diego, Daniel Carvalho; Robinho (Elano) e Marcel. Técnico: Ricardo Gomes.

Argentina: Caballero; Leandro Fernandez, Gonzalo Rodriguez, Burdisso e Mascherano (Clemente Rodriguez); Medina, Lucho Gonzalez, Ferreyra e César Delgado (Rosales); Tevez e Mariano Gonzalez. Técnico: Marcelo Bielsa.

Exôdo precoce preocupa Ricardo Gomes

Desde que a Seleção Brasileira Sub-23 chegou ao Chile, dois jogadores já foram vendidos e um está em vias de ser negociado. Mais do que a saída desses garotos, o que preocupa o técnico Ricardo Gomes é o fato de estarem indo para campeonatos sem expressão e que não recebem atenção da mídia internacional. Dudu, de 20 anos, trocou o Vitória pelo Kashiwa Reysol (Japão); Marcel, de 22, foi vendido pelo Coritiba para o Samsung (Coréia do Sul); e Daniel Carvalho, de 20, está sendo negociado pelo Internacional com o CSKA de Moscou. “Entendo que os meninos fiquem contentes por causa do dinheiro que vão receber, mas no aspecto técnico eles não vão ganhar nada indo jogar nesses países. O que o Dudu, que apareceu agora e já esteve até na Seleção principal, vai aprender jogando no Campeonato Japonês? Sem falar que vão sumir, não vou ter como observá-los se conseguirmos a vaga para a Olimpíada. E isso vai abrir espaço para outros jogadores”, disse o treinador.

Um exemplo de “sumiço” é o atacante Nádson, que se destacou no Vitória no primeiro semestre do ano passado, foi chamado para a disputa da Copa Ouro em julho e, no meio da competição, foi vendido para um clube coreano. Assim que o clube baiano anunciou a transferência, Ricardo Gomes disse ao jogador que sua chance de voltar a ser convocado era próxima de zero, por causa da impossibilidade que teria de observá-lo. “A tevê não passa o Campeonato Coreano e eu não vou até lá só para ver o Nádson. É uma pena, porque é um jogador interessante.”

O mesmo que aconteceu com o ex-atacante do Vitória vai se repetir com Marcel, que mal apareceu no Coritiba e já foi negociado. Jogar assim é assinar o pedido de desistência da Seleção. Daniel Carvalho convive com a possibilidade de ir jogar na Rússia. Ele tem contrato com o Inter até dezembro de 2005 e diz que quer ficar em Porto Alegre, perto da família e dos amigos. Mas sabe que sua vontade não contará nada se o clube decidir vendê-lo, ainda mais que se fala numa oferta de 8 milhões de euros. “Não penso só no dinheiro, para mim vale mais ficar perto das pessoas de quem eu gosto. Mas vou entender a posição do clube, se o presidente aceitar a proposta. Não posso me recusar a ir”.

Ricardo Gomes não é contra a saída do Brasil de jogadores jovens, desde que para um bom centro futebolístico. Ou seja, desde que seja para disputar torneios competitivos na Europa. “O Kaká foi para o Milan e está crescendo muito, está sendo uma experiência maravilhosa para a carreira dele. O Júlio Baptista foi jogar no Campeonato Espanhol, o Luisão está num grande clube de Portugal como o Benfica. Em casos assim, sou favorável a que os jogadores saiam cedo”.

O único ponto negativo dessas transferências é a dificuldade que Ricardo passa a ter para contar com os jogadores em razão da intransigência dos clubes europeus para liberá-los. Ele não chamou Kaká, Júlio Baptista e Luisão para os amistosos de novembro contra Corinthians e Santos,

e não teve autorização para convocá-los para o Pré-Olímpico. E dois jogadores estreantes no grupo foram vendidos depois que chegaram ao Chile, sem falar na grande possibilidade de Daniel Carvalho também ser negociado e que Maicon foi sondado pelo Borussia Dortmund.

Caso o Brasil vá aos Jogos Olímpicos, será muito difícil ele poder convocar os “europeus” para amistosos de preparação. Mas em Atenas terá força máxima porque se trata de um torneio oficial do calendário da Fifa e os clubes terão que ceder os atletas.

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