O jejum de gols já começa a incomodar. Ainda mais diante do retrospecto recente do Paraná Clube, que conquistou o título estadual balançando as redes em todos os vinte jogos que disputou. Sem poder de fogo, o Tricolor passou em branco nas duas primeiras rodadas do Brasileirão, mas com atuações distintas. Para o técnico Caio Júnior, o bom futebol apresentado frente ao Botafogo é sinal de que o time tem potencial para reverter a situação e tirar as incertezas que já pairam sobre a cabeça dos paranistas.
A atual escassez de gols só não é superior à apresentada em novembro do ano passado, quando o Paraná ?passou em branco? por três rodadas seguidas – contra Botafogo, Santos e Flamengo -, somando apenas um ponto nesse período. Presente em todas as edições do Brasileiro, desde 1993, esta é apenas a segunda vez que o clube não faz gols nas duas primeiras rodadas (isso ocorreu em 1998). Caio Júnior reconhece que para vencer, o Tricolor terá que ser mais contundente nos próximos jogos, mas credita esta fase à ausência dos principais jogadores de frente. Sem Maicosuel e Leonardo (este até enfrentou o Juventude, mas não encontrou espaços), o time ficou refém de lances de bola parada e neste fundamento se mostrou incompetente.
Na primeira rodada, várias faltas foram desperdiçadas por Sandro e Élton. No último domingo, Sandro perdeu uma penalidade máxima. ?Isso só se corrige com treino e serenidade?, comentou Caio Júnior. Ao longo desta semana – diante da possibilidade real de não contar mais uma vez com os principais articuladores do time – o treinador deverá dar ênfase a cobranças de faltas e jogadas ensaiadas. ?Tivéssemos convertido o pênalti a história seria diferente. Mas, não fico remoendo o que passou. O foco agora é o Grêmio, mas aproveitando a semana para corrigir os erros que cometemos.?
Só Paraná, Goiás e Santa Cruz ainda não marcaram gols neste Brasileirão. Se a reabilitação não veio, o treinador preferiu enfatizar o bom comportamento da zaga. ?Se na primeira rodada falhamos demais, a volta do Émerson deu segurança à zaga e o Edmilson estreou muito bem?, explicou Caio. Ao que tudo indica, a segurança defensiva será mais uma vez a sustentação da campanha tricolor, como já ocorreu no ano passado (quando Flávio foi o goleiro menos vazado do Brasil). Só que apenas isso não basta para uma campanha equilibrada. O time que chegou em 7.º lugar em 2005, se não tinha um ataque mortal, contava com o artilheiro Borges.
Mesmo tendo em Leonardo um goleador nato – ele fez onze gols no estadual -, a diretoria está ciente que precisa oferecer maiores opções à comissão técnica e a promessa é que ainda esta semana mais dois jogadores de frente serão contratados. Um deles seria Leandrinho, do Noroeste, o outro reforço pode ser Zumbi, centroavante do Marília.
Médicos vão escalar o time
Mais uma vez a escalação do Paraná Clube estará nas mãos do departamento médico. Para piorar, além de Maicosuel e Leonardo – que já não enfrentaram o Botafogo – o técnico Caio Júnior deve ficar sem Sandro para o jogo do próximo domingo, frente ao Grêmio, no Pinheirão. Para o treinador, o Tricolor só não obteve melhores resultados nessas primeiras rodadas do Brasileiro por não poder repetir a base que havia sido montada ao longo de todo o Campeonato Paranaense.
?No primeiro jogo, perdemos a zaga. Na segunda rodada, ficamos sem o ataque titular?, disse Caio Júnior.
?Os reservas não foram mal, mas as mudanças afetaram o conjunto do time?, lembrou. Para o técnico, o Paraná fez uma partida de regularidade contra o Botafogo, o que fará com que ao longo desta semana os trabalhos sejam voltados para o setor ofensivo. ?Pecamos no último passe e nas finalizações?, concordou Rafael Muçamba. ?O time evoluiu. Marcou forte e saiu para o jogo. Tanto que o torcedor reconheceu o nosso esforço?, disse.
Dos jogadores lesionados, Leonardo é o que tem maiores chances de ser aproveitado. O médico Rafael Kleischmidt disse que o jogador vem respondendo positivamente ao tratamento, mas somente na sexta-feira será dado um parecer sobre sua utilização ou não. O atacante se recupera de uma luxação no ombro direito. Maicosuel se queixa de dores no joelho e ainda está muito abaixo do peso ideal (por conta da amigdalite que o tirou da final do Paranaense). Já Sandro, que sofreu entorse no tornozelo esquerdo, está fora do próximo jogo. Quem tem retorno praticamente assegurado é o goleiro Flávio, que ontem já treinou normalmente.
Reforços passam no teste
Dos sete reforços contratados, cinco estrearam com a camisa tricolor frente ao Botafogo. Apenas o zagueiro Edmilson e o atacante Cristiano ficaram em campo o jogo inteiro. Coincidência ou não, foram os mais elogiados por Caio Júnior. Com Edmilson, a zaga voltou a mostrar a solidez que marcou a campanha do título estadual. Na frente, se Cristiano não foi brilhante, mostrou disposição, acreditando em todas as jogadas e incomodando a zaga carioca.
?Há que se dar um desconto porque ele é um segundo atacante e teve que se desdobrar em campo, sendo uma referência na área, muitas vezes?, disse Caio Júnior. ?Ele mostrou que será um jogador útil ao longo da competição?. A análise em relação a Gérson, foi similar. O técnico reconhece que o meia caiu de produção na fase complementar. ?Há dois aspectos a serem considerados. Vou conversar com o Marcos (Walczak) sobre a condição física do jogador. Ele também pode ter sentido a ausência de um atacante de referência no ataque, já que possui um toque qualificado e faz boas assistências.?
Se Angelo teve participação discreta no segundo tempo -talvez sentindo o impacto da estréia – Batista e Edmilson superaram até mesmo a falta de entrosamento. O zagueiro se lançou à frente muitas vezes e confirmou ter um chute muito forte nas cobranças de faltas (uma passou sobre o travessão e outras duas desviaram na barreira). Já Batista, que entrou na vaga de Sandro, compôs com eficiência o meio-de-campo e se revezou com Beto na articulação de jogadas ofensivas. ?Fico tranqüilo porque é sinal da qualidade do grupo. Agora, é encaixar peças e melhorar o poder de fogo do time?, disse o treinador.