Armando Marques não é mais o diretor de árbitros

Armando Marques pediu demissão antes de ser demitido pela CBF.

Rio – A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não resistiu às pressões, provocadas pelo esquema de manipulação de resultados no Brasileirão 2005, e demitiu o presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, Armando Marques. Ele será substituído interinamente por Edson Resende de Oliveira.

A decisão da entidade foi motivada pela postura de indiferença de Armando Marques com relação à

crise que pôe em risco a credibilidade do futebol brasileiro. Hoje ou amanhã, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) anuncia a decisão sobre a validade ou não dos 11 jogos sob suspeição no Brasileirão tudo indica que o presidente do tribunal, Luiz Zveiter, determinará a nova disputa das 11 partidas.

Todos esses confrontos, apitados por Edílson Pereira de Carvalho, que é réu confesso, foram realizados depois de acertos entre ele e empresários ligados a bolsas de apostas na internet.

O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, explicou que Edson Resende de Oliveira, que era o vice-presidente da Comissão Nacional de Arbitragem, terá o prazo de uma semana para reeestruturar o departamento. A primeira medida deve ser a da divisão de poder devem passar a responder pela arbitragem brasileira um colegiado, formado não necessariamente por ex-árbitros.

A CBF informou que Armando Marques pediu demissão. Na verdade, o dirigente foi afastado do cargo em conversa rápida com o presidente da entidade. ?O importante é que estamos tomando medidas que demonstrem ao torcedor nossa disposição de manter a normalidade do Campeonato Brasileiro. A competição seguirá sem problemas, mesmo que o STJD determine a realização de novos jogos. Quem cair para a Série B, cairá. Quem subir da B para a primeira divisão, terá sua vaga assegurada ano que vem?, garantiu Ricardo Teixeira.

O presidente da CBF também reforçou a ameaça de Luiz Zveiter de punição severa aos clubes que recorrerem à Justiça comum para tentar defender interesses relativos à eventual decisão do STJD de impugnar partidas do Brasileiro. ?Quem fizer isso, sofrerá sanção inesquecível?, avisou.

A nova comissão de arbitragem terá um setor responsável para receber denúncias, segundo informou Ricardo Teixeira. O presidente disse isso ao comentar matéria da Agência Estado, em que o assistente Nelson Souza Góes afirma que foi afastado dos quadros da CBF e da Federação Paulista de Futebol por ter se equivocado no jogo entre Santos e Guarani (0 a 0), realizado em 10 de fevereiro deste ano, pelo Campeonato Paulista.

Na oportunidade, Góes invalidou um gol legal de Basílio, do Santos, clube que deveria ganhar o jogo para atender a interesses do árbitro da partida, Paulo José Danelon, outro réu confesso da máfia do apito.

Um problema a menos

Rio – Conhecido por seu temperamento explosivo, avesso a entrevistas e pouco afeito a críticas, Armando Marques passou a ser um problema para a direção da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Era uma via permanente de desgaste da entidade. Ele jamais veio a público para explicar situações controversas da Comissão Nacional de Arbitragem. A recusa vinha quase sempre em forma de discussão, em voz alta, com gestos excessivos e atitudes intempestivas.

Homem de confiança de João Havelange, Armando Marques assumiu o cargo em 1997, depois de um escândalo envolvendo seu antecessor Ives Mendes, que foi flagrado em conversas grampeadas usando o posto para financiar sua candidatura a deputado federal por Minas Gerais em 1998.

Dono de um estilo centralizador, temido por árbitros por sua conduta severa, Armando Marques foi um crítico rigoroso de mudanças na legislação, que passaram a determinar sorteio de árbitros para os jogos oficiais de futebol. No início, disse que a novidade não funcionaria. Depois, rendeu-se às determinações de Ricardo Teixeira e parou de protestar.

Pouco antes disso, chegou a ser suspenso pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) por causa de um incidente com o árbitro Alfredo Loebeling. Na fase final da Série B de 2001, o Figueirense enfrentou o Caxias, precisando vencer a partida para subir à Série A. O time de Florianópolis ganhava o jogo por 1 a 0, quando houve invasão do gramado, nos acréscimos.

Loebeling escreveu na súmula que havia terminado o confronto no momento em que torcedores do Figueirense entraram em campo. Mas, pressionado por Armando Marques, o árbitro modificou o teor do relatório entregue à justiça desportiva. O episódio deixou o então presidente da comissão em situação delicada. Por pouco, não foi demitido. Foi salvo por um telefonema de João Havelange para Ricardo Teixeira.

Ontem, ao saber de Ricardo Teixeira que estava demitido, Armando Marques foi à sua sala, no quinto andar do prédio da entidade, juntou alguns pertences, despediu-se dos funcionários mais próximos e foi embora.

Ainda teve fôlego para montar a escala de árbitros para o fim de semana separar os nomes dos indicados para o sorteio realizado em seguida na entidade, referente ao Brasileirão.

Quem é o misterioso Daniel?

O Gaeco ainda não agendou o depoimento do advogado Daniel Gimenes na PF, mas não descarta que ele possa ser convocado nos próximos dias. Gimenes seria mais um suposto participante da quadrilha que manipulou jogos do futebol brasileiro.

Preliminarmente, o procurador diz que o advogado de Piracicaba se enquadra em quatro crimes: formação de quadrilha, estelionato, falsidade ideológica e crime contra a economia popular, mesmas acusações que respondem Vanderlei, o empresário Nagib Fayad e os árbitros Paulo José Danelon e Edilson Pereira de Carvalho.

Gimenes garantiu conhecer Danelon e Nagib, mas negou ter participado de qualquer ato ilegal. ?Primeiro quero falar com a Polícia Federal (PF) em São Paulo?, afirmou o advogado, morador de Piracicaba, que revelou já ter comparecido duas vezes na PF de sua cidade para prestar esclarecimentos.

A situação do acusado pode se agravar dependendo das declarações que Pololi dará segunda-feira à tarde na Superintendência da Polícia Federal, em São Paulo. Caso o depoente confirme a atuação do advogado de Piracicaba no esquema, há a possibilidade de ser expedido no mesmo dia o mandado de prisão provisória de Daniel Gimenes.

Contra Daniel pesam as acusações feitas por Danelon, que afirmou quarta-feira que foi o advogado quem o levou para o grupo. Para convencê-lo, sabendo de suas dificuldades financeiras, ofereceu-lhe um empréstimo, logo aceito, de R$ 7.500. Teria sido Daniel também o responsável por pagar a viagem de Vanderlei a Jacareí, para cooptar Edilson Pereira.

Também segunda-feira deve ser fechada a agenda para novas convocações. Na fila estão, além de Daniel, o árbitro Romildo Corrêa, que não aceitou participar do esquema, e o ex-juiz João Paulo

Araújo, sondado para integrar operação semelhante.

Após os interrogatórios, a PF pretende localizar as demais pessoas que direta ou indiretamente se envolveram nos atos ilícitos. Uma das metas é encontrar os proprietários dos sites Aebet e Futbet, meios utilizados pela Máfia do Apito para viabilizar as apostas. No registro do primeiro endereço eletrônico, feito no Canadá, consta um endereço fantasma do Rio de Janeiro. O segundo teria sido constituído por uma empresa hoje inexistente localizada em Piracicaba.

Corintiano aciona Procon

Um torcedor do Corinthians deu entrada ontem no Procon com a primeira queixa sobre o caso dos jogos com resultados arranjados pela ?máfia do apito?. Ele comprou ingresso para o clássico São Paulo 3 x 2 Corinthians, apitado por Edílson Pereira de Carvalho, no dia 7 de setembro. Pagou R$ 25 pelo ingresso e quer que o valor seja ressarcido.

Segundo o Procon, os torcedores terão direito a receber de volta o valor pago e orienta outros que se sentirem prejudicados a procurar o órgão para conseguir o ressarcimento. O Procon diz que a CBF é responsável pela lisura das partidas.

Responsabilidade é do STJD e Zveiter

Rio – Depois de lamentar o ?Escândalo do Apito?, o presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), Ricardo Teixeira, confirmou que a decisão sobre a anulação das 11 partidas apitadas por Edílson Pereira de Carvalho no Brasileirão ficará totalmente à cargo do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).

Como já havia sido discutido no meio da semana, a CBF se disse preparada para refazer os 11 jogos, caso esta seja a decisão do STJD. Até as datas já foram inicialmente discutidas. ?Quem vencer, vai vencer. Quem descer, vai descer. Quem subir, vai subir. Dou certeza que o campeonato vai terminar e, o ano que vem, teremos 20 clubes na primeira divisão?, afirmou Teixeira.

Presidente da entidade máxima do futebol nacional desde 1989, Teixeira também eximiu sua gestão de qualquer responsabilidade sobre o escândalo. ?Só foi possível descobrir tudo isso graças à ação do Ministério Público e da Polícia Federal. Sem a autorização da escuta telefônica, não conseguiríamos?, afirmou.

PF ouve Pololi na segunda-feira

Suspeito de ser intermediárioentre árbitros e apostadores no esquema de corrupção do futebol, o desempregado Vanderlei Pololi, de 52 anos, foi preso às 6h de ontem, por uma equipe da Polícia Federal, em sua casa, na cidade de Piracicaba.

Pololi chegou à sede da PF, em São Paulo, por volta das 8h30. Acompanhado de seu advogado, Constantino Rodrigues, colocou um paletó sobre as mãos para esconder as algemas. Ele teve a prisão temporária decretada por cinco dias e já tem depoimento marcado para as 14h de segunda-feira.

Definido como um ?homem simples?, Pololi já foi funcionário de uma rádio, do XV de Piracicaba e candidato a vereador pelo PFL, em 2000 teve apenas 60 votos e não foi eleito. Atualmente, não tem atividade definida segundo seu advogado, espera pela aposentadoria. Enquanto isso, termina o curso de direito na Universidade Metodista, pago pela filha. Também é mesário da Associação de Árbitros de Piracicaba e Região, entidade presidida pelo árbitro Paulo José Danelon.

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